* Márcio Amêndola
Os resultados eleitorais da Região Sudoeste no primeiro turno trazem algumas lições à classe política, que geralmente não tem por hábito debruçar-se sobre seus próprios erros e acertos de forma crítica. Os vencedores, por exemplo, esquecem-se rapidamente de todos aqueles que os apoiaram e colocaram lá, no ‘Olimpo’. São personalistas, por assim dizer, e vaidosos, duas das grandes fraquezas de quem freqüenta a política partidária neste país.
Já os perdedores buscam sempre culpados por seus fracassos e aventuras eleitorais, mas tente entregar-lhes um espelho pra mostrar o verdadeiro responsável pelos seus erros. Como dizia Jean Paul Sartre, “o inferno são os outros”. Geralmente nos estruturamos de forma a acreditar que sempre estamos certos, e no caso de estarmos errados, a culpa é sempre do ‘outro’, este vilão que não atende a meus interesses.
Passada esta fase ‘psicanalítica’ (quanta pretensão!), vamos aos fatos. A já quase ‘eterna’ deputada de Taboão da Serra, Analice Fernandes, que por três vezes manteve seu vôo estadual, foi obviamente reeleita, com a expressiva marca de 125 mil votos. Porém, para sua eventual pretensão de disputar as eleições de 2012 à prefeitura de sua cidade, o caso não é tão simples. Ela obteve pouco mais de 31 mil votos num eleitorado local de quase 200 mil eleitores.
Em Taboão, Analice atingiu a marca de 23,87% dos votos válidos para deputado estadual, ou seja, apenas um a cada 4 eleitores que tiveram o trabalho de visitar as urnas escolheram a candidata. Mesmo que ela prefira seu marido, o ex-prefeito Fernando Fernandes como candidato à sucessão de Dr. Evilásio, os Fernandes não mostraram a força eleitoral esperada para este embate futuro.
Por outro lado, a candidata do Dr. Evilsásio, sua esposa Dra. Rosiane, mesmo não ‘batendo de frente’ com a família Fernandes, já que a primeira dama postulou uma vaga como Deputada Federal, obteve um desempenho ainda mais modesto, chegando a um total de 45 mil votos totais, sendo apenas 16,8 mil em Taboão da Serra, numa modesta marca de 12,6% dos votos válidos para aquele cargo em sua cidade. Ou seja, apenas 12 em cada 100 eleitores acreditou em sua candidatura, na cidade administrada pelo primeiro marido há 6 longos anos, mesmo com uma campanha de grande densidade. Com as eleições a pouco mais de dois anos de distância, é de se notar que Taboão da Serra não vem produzindo novas lideranças políticas, a não ser repetir a alternância dos velhos caciques. Ou esta lógica se repete, ou Taboão se abrirá para o novo e (agora) desconhecido em 2012.
No Embu o caso é também interessante. O ex-prefeito Geraldo Cruz (PT) mostrou sua força, elegendo-se deputado estadual com a expressiva marca de 131 mil votos, ultrapassando a veterana Analice. Como era de se esperar, Geraldo não teve uma candidatura tão espalhada como a de Analice em termos estaduais, mas provou que foi o ‘candidato do Conisud’, obtendo mais de 96 mil votos somente nas 6 cidades da região. No Embu foi o candidato mais votado para todos os cargos (de Presidente a Governador, Senador e Deputado), chegando a 69 mil votos, 53% de todos os votos válidos da cidade para deputado estadual. Ou seja, para cada dois votos depositados nas urnas pelos embuenses, um dele tinha endereço certo: Geraldo Cruz. Numa perspectiva local, há o lado ‘bom’ e o ‘ruim’.
Quem achava demais ver o ex-prefeito em todas as inaugurações e fotos do atual governo do prefeito Chico Brito, pode ter certeza de que haverá ainda mais. Porém, Geraldo adquire agora certa ‘funcionalidade’, passando a representar os interesses de Embu na Assembléia Legislativa do Estado. E isto não é pouco, considerando-se que o último representante de Embu naquele parlamento foi Oscar Yazbek, deputado estadual entre 1978 e 1982, portanto, há três longas décadas.
A eleição de Geraldo Cruz também coloca um ponto de interrogação na sucessão municipal em 2012. Este imenso grupo governista que, ao invés de ‘aniquilar’ a oposição, praticamente a absorveu quase toda, manter-se-á coeso? Haverá algum ‘racha’ da hegemonia petista, via PDT, PSB, ou dentro do próprio partido? Geraldo pensará numa eventual volta ao poder municipal em 2012, ou apoiará a reeleição de seu pupilo?
Por fim, em Itapecerica da Serra e demais cidades da Região (aí incluindo Embu-Guaçu, Juquitiba e São Lourenço da Serra) nenhuma novidade. Nomes locais foram pouco expressivos numa campanha que dependeu muito da conjuntura estadual e nacional. A exceção ficou por conta do ex-prefeito Hélio Rubens, que chegou a expressivos 49 mil votos por seu novo partido, o PSDB (seu antigo desafeto?? vai entender…), mas que naufragou solenemente em Itapecerica da Serra, onde obteve a modesta marca de 3 mil votos, pouco mais de 4,5% dos votos válidos na cidade, perdendo para Geraldo Cruz (11,06%) e Analice Fernandes (11,47%). Em 2012, provavelmente Hélio Rubens não terá muito o que fazer nas eleições locais, a não ser que produza alguma reconstrução política de sua imagem na cidade.
Os demais candidatos, por melhor que tenha sido o desempenho local, caso de Carlos Andrade (PV), Alexandre Depieri (PSB), e outros mais modestos, Kaká (PR), Fausta (PSB), Geraldo Onzemeia (PCdoB), Idália (PSB), a deputados estaduais, e Ney Santos (PSC), Valdevan Noventa (PDT), Natal (PP), Professor Moreira (PT) e Dra. Júlia (PSOL), todos caminham a passos largos para a disputa fatricida de uma vaga à Câmara Municipal. Aliás, esta é uma explicação quase óbvia do porque existirem tantos candidatos a deputados em Taboão da Serra, caso único em termos regionais, com tão baixo desempenho em eleições estaduais e federais.
(*Márcio Amêndola de Oliveira é jornalista e graduando em História pela USP. Autor do livro “Zequinha Barreto, um Revolucionário Brasileiro”, e Coordenador de Documentação Histórica do Instituto Socialismo e Democracia José Campos Barreto).