São Paulo – O segundo debate entre os candidatos à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) no segundo turno, neste domingo (17), foi marcado pela troca de farpas entre candidatos, perguntas sem respostas e cobranças sobre governos anteriores. As propostas, em segundo plano, ficaram restritas às áreas de saúde, segurança, educação e infraestrutura.
Com exceção da primeira pergunta em que os candidatos foram polidos e comedidos ao comentarem qualidades e defeitos do adversário, a pedido do mediador, o jornalista Kennedy Alencar, demais questões foram sistematicamente acompanhadas de alfinetadas de parte a parte.
José Serra, visivelmente irritado, esquivou-se de responder sobre privatizações de empresas públicas federais preparadas por ele, à frente do Ministério do Planejamento durante o governo Fernando Henrique Cardoso e a suposta tentativa do governo do estado de São Paulo de impedir a compra de uma empresa de gás paulista pela Petrobrás.
O tucano também evitou falar de sua relação com Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor de Engenharia da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), acusado de desvio de dinheiro da campanha tucana e de tráfico de influência no governo do estado de São Paulo, quando Serra era governador.
Questionado sobre como agiria, se eleito, para ampliar a geração de empregos, Serra questionou o fato de Dilma comparar programas e resultados do governo FHC com o de Lula, contudo não apresentou propostas sobre o tema.
O tucano demonstrou incômodo especialmente com as citações da adversária sobre problemas de educação, segurança e combate ao tráfico de drogas em São Paulo. “Você faz como seus colegas do PT que perderam para o governo de São Paulo”, disparou.
A petista esclareceu diversas vezes que não estava criticando o povo paulista, mas “as falhas do governo do PSDB”. “Os paulistas não merecem ser tratados assim”, retrucou. Também indicou que era necessário saber se além de falar, o candidato “é capaz de fazer”. “Ele quer falar, falar, falar, mas não tem como ver se ele é capaz de fazer”, analisou a candidata.
José Serra insistiu na entrada de drogas e facilitação da Bolívia e procurou desmentir a petista sobre o uso de aviões controlados remotamente para defender as fronteiras. “A droga entra livre no Brasil. Não há guardas nas fronteiras”, disse.
Ele enfocou que pretende adotar como modelo em todo país, se eleito, o trabalho realizado em São Paulo de atendimento a dependentes químicos. Mas foi contrariado pela petista que criticou a atuação de Serra, no governo de São Paulo, citando a existência da região conhecida como “Cracolândia” na capital paulista. Ela observou o fato da clínica descrita pelo ex-governador atender 300 pessoas ao longo de um ano diante de um contingente de 300 mil dependentes químicos no estado de São Paulo. “Nesse ritmo vai demorar 100 anos para uma pessoa ser atendida”, condenou.
Ao longo do debate, o candidato defendeu a utilização de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para qualificação profissional e um pacto pela educação.
Questionada sobre os problemas de infraestrutura no país, a candidata petista afirmou que apesar das críticas do adversário sobre as estradas brasileiras, o tema é mais amplo e exige a criação de hidrovias e ferrovias, além da recuperação das rodovias. Dilma rebateu ainda críticas sobre abastecimento de energia elétrica, segurança pública, saúde e educação.
A presidenciável também falou do caso Erenice e de tráfico de influência na Casa Civil ao ser questionada por jornalista da RedeTV!. “Erenice errou”, disse ela. “Mas, nós temos diferença. Nós investigamos. Paulo Preto, envolvido na Operação Castelo de Areia, propina no Rodoanel não foi investigado”, disparou.
Dilma defendeu ainda a consolidação do SUS, programas de saúde voltados às mulheres, retirada de impostos da energia elétrica, educação com valorização do professor e defesa do meio-ambiente.
Na despedida ao público, a petista enfatizou a convivência harmônica entre etnias e religiões no país e afirmou que fará um governo voltado para a pessoa humana. “Temos uma cultura de paz. Ela é a base do fato de que somos um País diferente. Somos a maior democracia do mundo de valores humanos”, assinalou a candidata.
Em sua última participação, Serra voltou a falar que tem origem humilde e de ser um “servidor do povo”. “Vim de uma família pobre, de gente trabalhadora. Graças a escola pública, eu cheguei onde cheguei”. Além de pedir voto aos telespectadores, o tucano sugeriu que seus simpatizantes busquem mais apoio.
(Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual – Publicado em 18/10/2010)