Na intenção de “não decepcionar” 131.206 eleitores que o fizeram deputado estadual e garantir a própria sustentação política na Assembleia Legislativa como oposição a um novo governo do PSDB, Geraldo Cruz (PT) disse querer um mandato com a participação da sociedade. O ex-prefeito de Embu obteve mais da metade da votação (52,8%) no município e praticamente três entre quatro votos do total (73,3%) na região sudoeste.
“Bandeiras que vamos levantar quero que a população se sinta dona. Quero ser apenas instrumento, tenho oportunidade de falar mais que um cidadão que não tem mandato, porém levar a vontade dele”, disse Geraldo, que destacou que a postura permitirá apresentar resultados. “Quando se é oposição, tem que buscar na sociedade sustentação dentro do Parlamento. Projeto com base social e apego popular dificilmente um governador vai deixar de fazer.”
Geraldo falou sobre a campanha vitoriosa e como conduzirá o mandato – a partir de 15 de março de 2011, quando os eleitos tomarem posse – em concorrida entrevista à imprensa da região na quinta-feira dia 14, no escritório político, no Jardim Independência, bairro na periferia de Embu próximo à capital. Como pauta de trabalho, ressaltou que terá como “foco principal” as áreas de educação, saúde, segurança e transporte público.
Geraldo cogitou propositura inicial na saúde, mas citou que em encontro com lideranças antes da eleição o “primeiro problema” foi educação, quando fez crítica sutil à gestão tucana. “A educação está de um jeito que a população já está achando que é mesmo prioridade”, disse. Mas com o mesmo critério, ponderou. “Não vou apresentar projeto só para distribuir papel. Só quero apresentar projetos que se tornem leis que a população queira”, insistiu.
Ele disse que cobrará do governo Geraldo Alckmin liberação dos recursos próprios dos municípios. “Isso vai ser a nossa briga”, adiantou. Acrescentou que vai “brigar” por mudança na política de segurança e da própria educação. “Para ter uma polícia melhor preparada, para não ter o tratamento em que o policial que trabalha na capital ganha mais do que o policial nos municípios. Também não vamos querer política que dá gratificação para enganar os professores.”
O petista voltou a tratar de saúde ao afirmar ter como uma das “bandeiras” a ampliação dos dois hospitais da região e não descartou procurar o apoio inclusive da adversária Analice Fernandes (PSDB). “Fizemos movimento pelos hospitais regionais aqui e não vi a participação dela. Se agora, com a minha presença lá, ela se interessar em participar, vai ser melhor. Serão dois deputados lutando por coisas em comum na região, quem sabe a gente consegue”, disse.
Geraldo disse também que vai manter com a colega relação igual com os demais integrantes da Assembleia, no total de 94, e que poderá defender projeto comum de “desenvolvimento” local. Falou que não conhece “nenhum projeto da Analice nos dois mandatos aqui”, mas disse não ter nada contra ela. “Tenho se a pessoa se elege e não tem nenhum projeto significativo para uma região. Fizemos tanto e ainda temos que estar a cada dia reafirmando. Os outros não fazem e não sei como têm voto”, alfinetou.
Com certo ar de frustração, falou ainda da atuação do parlamentar paulista em avaliação contundente. “Sei que o deputado estadual não pode fazer muita coisa, mas sei também que os atuais têm feito muito pouco. É preciso ter uma presença mais efetiva”, afirmou Geraldo, que pregou que a Assembleia esteja mais próxima da população. Na Casa, disse que vai contribuir para a mudança ao se comprometer a ser um deputado presente na região.
“A minha preocupação é não decepcionar as pessoas que confiaram em mim, especialmente de Embu, mas também de toda a região”, declarou Geraldo, que após ser prefeito por oito anos (2001-2008) voltará ao Legislativo – exerceu três mandatos como vereador de Embu (1982-1992 e 1997-2000) –, e como o primeiro representante do município na Assembleia nos últimos 30 anos, desde a eleição de Oscar Yazbek (1978-1982).
Apesar de fora da pauta de deputado estadual, o tema aborto mereceu resposta de Geraldo, no contexto das críticas à presidenciável petista Dilma Rousseff sobre o assunto. Sem o discurso com serenidade de antes, subiu o tom e declarou ser “a favor da vida”. Ao dizer concordar com a norma que orienta sobre como fazer aborto, que fez questão de lembrar ter sido assinada pelo adversário José Serra (PSDB), defendeu, porém, a descriminalização, numa postura dúbia. “Você tem ideia de quantos abortos são feitos em fundo de quintal? Sei lá se você já não participou de algum”, retrucou ao jornalista.
(Por: ADILSON OLIVEIRA – Jornal Atos, em Embu)