Fausto, personagem de Goethe, ao aceitar um pacto com o diabo para ter sucesso, ao contrário de ‘vencer’, teve abertas para si as portas do Inferno
*Márcio Amêndola
O candidato do PSDB à presidência da República, José Serra (PSDB) vem sendo acusado injustamente por várias redes sociais, de ser neonazista, de pertencer à ala radical da direita católica, de ser contra o aborto, monarquista, e até de latifundiário, além de mentir que é economista. A ele são associados eventuais corruptos como Paulo Preto (Serra corrige o apelido racista, e chama o colega de Paulo Vieira de Souza, nome verdadeiro do ex-poderoso diretor de engenharia da DERSA, a empresa pública responsável pelas obras do Rodoanel, que custaram a ‘bagatela’ de R$ 5 bilhões), e o senador Azeredo, do mensalão do PSDB, e de estar por trás de dossiês (como o que derrubou a filha do Sarney em 2006) e de perseguir jornalistas que o criticam.
Na verdade, José Serra tem um passado bonito. Lutou contra a ditadura, a seu modo, do exílio no Chile, onde se casou com Mônica Allende Serra, parente do bravo presidente Salvador Allende, covardemente assassinado pela ditadura Pinochet. Foi daí que, em grande perigo, Serra e Mônica teriam tomado as duas das decisões mais duras de suas vidas. Ela, um aborto de uma gravidez em hora errada, durante uma fuga dramática para fora de um país onde acabara de ser implantado o terror. Ele, por ter de tomar a decisão de entrar nos EUA, em última análise, o grande inimigo de esquerdistas como ele, Serra, naqueles anos de chumbo, em pleno ano de 1973.
Assim, os destinos de ambos foram selados juntos, e juntos permanecem até os dias atuais. Mônica, hoje uma grande católica, defensora da moral, dos bons costumes, quiçá, da família, da tradição e da propriedade. Serra, ex-ateu convicto, agora um cristão-novo, radical defensor da vida, contra o aborto. Que mal há em mudar de posição? Pergunto aos meus botões, mas eles não respondem.
Da passagem pelos EUA, Serra estudou muito, e foi tão aplicado que conseguiu entrar diretamente para uma pós-graduação em Economia, sua especialidade. Ao contrário de seus detratores, ele pode sim, ter Mestrado ou mesmo Doutorado em Economia, sem ter feito a graduação, e se auto-intitular Economista, como fez em sua ficha eleitoral. Nos EUA isto é possível, se a pessoa tiver condições intelectuais para tanto. Quantos meninos geniais, com QI (Quociente de Inteligência) altíssimo não entram diretamente para a Universidade, ainda aos 12, 14 anos? Este não poderia ser o caso de José Serra, ainda mais que ele já era um adulto, ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes)? Só intriga o fato de Serra e Mônica Allende (!) terem passado anos incólumes nos EUA, maior aliado da ditadura brasileira. Mas certamente, Mônica e Serra tem uma explicação convincente para este pequeno detalhe.
De volta ao Brasil, Serra foi várias vezes deputado, Secretário, Senador, Ministro, chegando até à Prefeitura da Capital e, finalmente ao Governo de São Paulo. Pelo caminho, teve de renunciar a quatro destes cargos antes do fim. Seus detratores o acusam de abandonar os cargos antes de terminar os mandatos. Inclusive mostram um compromisso de Serra firmado em cartório, afirmando de pés juntos que jamais deixaria a prefeitura de São Paulo antes do fim do mandato, mas que acabou deixando o cargo apenas dois anos depois de assumi-lo. Ora, mas quem já não se arrependeu de uma decisão, ou mesmo de algo que assinou e jurou?
Porém, o mais grave mesmo é quando chamam injustamente José Serra de neonazista ou de latifundiário. Fazendeiro ele não é, nem do agronegócio, da famigerada UDR (a direita do campo), ou da Sociedade Rural Brasileira. É bem verdade que Serra chama os sem-terras do MST de ‘bandidos’, ‘quadrilha’, entre outros impropérios. Mas quem, em sã consciência, não tem um ‘lado b’, onde alguns preconceitos se destilam, onde alguns mal refletidos pensamentos não escapam?
Serra é contra os irmãos Nordestinos? Claro que não! Em que pese o fato dele, num desses pequenos deslizes verbais – quase benigno, diga-se – falou sobre um possível “marginal da Bahia andando pelas calçadas do Rio de Janeiro”, ou em outra situação, em que fez corar as bochechas do competente jornalista Chico Pinheiro, da gloriosa Rede Globo de Televisão (outra injustiçada!), quando respondeu que os baixos índices de notas das crianças da rede estadual de ensino de São Paulo, se deviam “ao grande fluxo de imigrantes que vem de outros Estados” (estaria se referindo, de novo, ao nosso glorioso Nordeste?).
Serra também não “mandou espancar” alunos da USP e professores estaduais, como andam dizendo. Na verdade, ele apenas usou sua autoridade, mandando que o comandante da Tropa de Choque da PM o fizesse. Deve ter passado noites em claro ao pensar sobre as centenas de professores, alunos e funcionários da USP, apanhando da polícia por protestarem por mais verbas, salários, autonomia universitária. Serra deve ter chorado no silêncio e na escuridão de seu quarto, ao lembrar de sua militância estudantil na UNE, ou de suas aulas de Economia, nos tempos de professor sem diploma de graduação (isso é para os mortais). Provavelmente a violência da PM paulista decorra dos baixos salários (um dos piores do País, dizem as línguas venenosas), descontando esta frustração sobre o lombo dos pobres trabalhadores e estudantes. Obviamente, Serra não é o responsável pela violência policial! Se o PM abusa de seu poder de polícia, o que é que o coitadinho do Serra tem a ver com isso?
Mas, a acusação que calou mais fundo na alma tucana e verde-amarela de Serra, este filho de imigrantes italianos, ex-morador do tradicional bairro popular da Moóca, foi de que ele seria neonazista. Jamais! Apenas porque grupos de extrema direita devotam-lhe admiração, pedem votos para ele em seus sites e blogs sujos, atacam a candidata Dilma, pedem para o Bruno engravidá-la e entregá-la aos amigos Macarrão e Bola, Serra não pode ser NUNCA comparado ou igualado a estes grupos sórdidos!
Neste caso é apenas o inocente e velho pragmatismo que impera, já que, assim como o dinheiro, o apoio político não tem cor, credo ou posição ideológica, ou política. Se um bando de Neonazistas, se os Integralistas, se o CCC (Comando de Caça aos Comunistas), a TFP (Tradição, Família e Propriedade), se a Liga das Senhoras Católicas, se os Padres adeptos do círio, se a Opus Dei, se os Latifundiários, o DEMO, a UDR, e até os Monarquistas (aqueles delirantes que desejam a volta dos legítimos herdeiros de D. Pedro II ao poder no Brasil) querem votar nele, o que há de se fazer?
Até o mundo mineral (ah, Mino!) sabe que José Serra é um grande democrata, e há de respeitar os resultados das urnas no dia 31 de outubro, seguindo em frente com sua vida privada, com altivez e dignidade, tendo muito tempo para refletir e se afastar destes grupos tão perigosos que o perseguem para apoiá-lo, mesmo sem o seu consentimento. Que a lição das urnas lhe dê a força necessária para prosseguir, neste submundo eleitoral a que foi arrastado e acorrentado, como um Prometeu. Este é o meu mais sincero desejo.
Prezado José Serra: Fausto, personagem de Goethe, ao aceitar um pacto com o diabo para ter sucesso, ao contrário de ‘vencer’, teve abertas para si as portas do Inferno. Pense nisso, por seus filhos, sua família, por este País. Mas você realmente se importa? Chego a duvidar.
(*Márcio Amêndola de Oliveira é jornalista e graduando em História pela USP. Assina coluna de opinião no Site do jornal Fato Expresso e coordena o setor de Documentação Histórica do Instituto Socialismo e Democracia José Campos Barreto)
Caro Márcio, entendo as tuas posições e as respeito, mas falar que o Serra é cristão novo e não se sentir envergonhado pela Dilma “devota” de nossa senhora, francamente…Porque o medo de abrir os arquivos militares a respeito da atuação da Dilma na guerrilha?Quanto ao comentário da Josiane sobre a tua foto, também acho que ela não te faz justiça, ou será somente a minha sensibilidade pequeno burguesa…
Caro Márcio, não vou comentar o texto. Você mudou muito pouco, pelo olho que vejo na foto. Também gostaria de “achar” o Wagner. Fiquei muito feliz com a manutenção do jornal na internet. Fiz uma viagem para 25 anos atrás.
Grande abraço,
Josiane Giacomini Alves