*Por Conceição Lemes
Em tempos de internet banda larga, muitos querem tudo na base do pá-pum: objetivo, rápido e competente. Isso inclui a sexualidade. Tanto que sexo virou sinônimo de penetração; competência sexual é penetrar e ser penetrado. Se não houver, o restante do contato não vale nada. O “negócio” é ir logo para os “finalmentes”. Mero encontro de genitais. Uma pena.
“O prazer não é só genital, tem de integrar tudo”, argumenta a ginecologista e obstetra Fátima Duarte, com base no atendimento de mulheres de todos os níveis sociais e faixas etárias, em 30 anos de profissão. “A grande jogada para ter e dar prazer é distribuir carícias à vontade – sem pressa.
Isso mesmo. Sem a menooooooooooooooooooooooooor… pressa. Imagine-se num restaurante divino comemorando uma data especial. Você prefere que o chefe de cozinha prepare o seu prato em dois minutos, tirando-o do freezer, ou que demore para fazer algo especial? No sexo, é parecido. Você quer um prato feito rapidinho ou se dispõe a caprichar nos temperos, e depois saborear o manjar dos deuses? Pois as carícias são os temperos.
Por isso, aqui vai uma dica do livro Saúde — A hora é agora, capítulo Relacionamento — O corpo inteiro para amar : invista mais nas preliminares.
Em geral, não utilizamos nem 30% do potencial erótico do nosso corpo. E os receptores de sensações estão nele inteiro. Basta você e seu (sua) parceiro(a) se tocarem bastante para os seus pontos preferidos aflorarem. Por falar nisso, você sabe quais são os seus?
“Quanto mais tempo o casal se dedica às preliminares, maiores tendem a ser a carga erótica e o prazer”, abre o jogo a psiquiatra e especialista em medicinasexual Carmita Abdo, professora livre-docente e coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) da Faculdade de Medicina da USP. “A mulher fica mais lubrificada e a penetração mais fácil, o que ajuda, ainda, a atingir o orgasmo. Para o homem saudável, cria condições para boas ereções.”
INFORME O QUE E COMO GOSTA — SEM ACANHAMENTO
Aproveitando a brecha, algumas e alguns desabafam:
– Ah… Mas meu parceiro não sabe do que eu gosto…
– Adoro meu marido, só que de uns tempos para cá não sinto desejo.
– Quando estou de TPM, meu tesão vai pra cucuia.
– Minha ex-namorada ia às nuvens; a atual, eu tento, tento, e ela não tem orgasmo. Será que se o meu pênis fosse maior…?
– Há um tempo saí com uma menina só porque ela me deu mole. Falhei! Desde então, perco o controle direto. Quando me dou conta, já gozei; minha companheira fica uma fera, diz que não ligo para o prazer dela. Juro que me importo.
Calma. Praticamente tudo em sexualidade tem explicação e – o melhor – solução. Na maioria das vezes, é questão de informação. Frequentemente, a mulher espera que o homem nasça sabendo fazer sexo, para que ela não precise comunicar o que gosta. O homem, por seu lado, habitualmente acha que as carícias que uma mulher adora a outra também vai amar, certo?
Ambos errados. Nem o homem é o “professor” nem a mulher a “aluna”. Cada pessoa é uma pessoa. Para descobrir onde “mora” o prazer do(a) parceiro(a), o casal tem de fazer tentativas. A mulher não deve se envergonhar de comunicar o que lhe agrada, assim como o homem também não.
No Brasil, 3,4% dos brasileiros nunca se masturbaram, contra 34% das brasileiras. Portanto, se você ainda desconhece todas as suas áreas erógenas, sempre é tempo de elas serem exploradas. Prazer é questão de foco, duração e intensidade.
A mulher tem de aprender a identificar suas áreas prediletas de carícias e o homem a detectar novas. Seria o clitóris ou a vagina? O abdome, o pescoço ou os seios? Os lábios ou a sola do pé? Por acaso a cabeça ou o corpo do pênis? A região do umbigo ou a da nuca? Os lábios ou as costas? É tudo junto? Ou junto com o quê? Pegue a mão do(a) parceiro(a) e o(a) oriente. Você é que tem de lhe dizer: Está ótimo aí, continue!; Aqui, não!
Agora, não é fazer um carinho rápido e pronto. É preciso um tempo para o estímulo sair das terminações nervosas existentes nas áreas externas do corpo, chegar ao cérebro, informar que algo prazeroso está sendo feito e voltar sob a forma de sensação agradável. Além disso, você tem de informar sobre a intensidade dos toques naquele instante. São os movimentos lentos ou rápidos? Mais superficiais ou profundos? Em circular ou ziguezague?
“Se você silenciar, acabará entrando e saindo da relação sem a menor excitação, provavelmente não sentirá prazer, e o sexo se tornará desagradável”, comenta Carmita. Se o(a) parceiro(a) for realmente legal, ficará feliz em tomar conhecimento das suas preferências para lhe satisfazer. Portanto, nada de acanhamentos. Informe-o(a) das suas predileções, pois ninguém tem bola de cristal. Só assim o prazer de ambos poderá ser explorado ao máximo.
Nota do Viomundo: Saúde — A hora é agora, publicado pelaManole, tem como autores a repórter Conceição Lemes, o médico Mílton de Arruda Martins, professor titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, e o médico Mario Ferreira Junior, responsável pelo Centro de Promoção de Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo. Setenta profissionais de saúde, entre médicos, nutricionistas, psicólogos, enfermeiros, foram entrevistados para os 11 capítulos do livro.
(Reproduzido de www.viomundo.com.br)