Aconteceu no dia 27 de outubro, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, a quarta edição do Prêmio Trip Transformadores. O prêmio criado em 2007 homenageia pessoas cujos trabalhos e ações transformam nossa realidade para melhor. A noite foi marcada pela emoção e apresentação de ideias e experiências para os mais de 800 convidados. O público conheceu um pouco da vida dos 13 homenageados deste ano, pessoas que transformaram vidas e que inspiram o surgimento de novos transformadores.
Na sequência, o ator Lee Taylor, mestre de cerimônias do evento, apresentou ao público os primeiros indicados da noite, Luiz Fernando Gomes Soares e Guido Lemos, criadores do Ginga, conjunto de softwares que fazem a internet funcionar na TV digital. Adotado por 11 países, é a mais avançada tecnologia brasileira pra democratizar o acesso e a distribuição de conteúdo independente.
A segunda premiada da noite foi Nair Benedicto, fotógrafa paulistana cujas imagens deram voz a esquecidos e oprimidos. Em um dos depoimentos mais contundentes da noite, Nair disse: “me sinto dividindo essa homenagem com todas as mulheres, crianças e homens que eu cruzei na minha vida. Perguntei para uma mulher favelada de Campinas em uma confusão com a polícia o que ela aprendeu com toda essa briga. Ela me disse e eu nunca mais esqueci: ‘aprendi que eu sou gente e isso não tem mais volta”.
Outro homenageado foi o artista plástico Vik Muniz. Filho de um garçom e de uma telefonista, Vik nasceu no bairro paulistano de Pirituba e se mudou para os Estados Unidos na década de 80. Hoje, mundialmente conhecido, media a relação entre empresas e ONGs que ensinam – e empregam – pessoas a lidarem com lixo e arte. Infelizmente o artista plástico não pôde estar presente, mas mandou como representante Sebastião Carlos dos Santos, o Tião, presidente da associação de catadores de Jardim Gramacho e personagem do documentário Lixo Extraordinário. “Vik rompeu vários paradigmas. O de que a arte é feita por pessoas com alto poder aquisitivo e o de trabalhar com lixo não só focando na questão ambiental, mas no que passa desapercebido, o homem”, disse Tião em um depoimento muito aplaudido.
Outro indicado da noite foi Alemberg Quindins. Em pleno sertão do Ceará, na cidade de Nova Olinda, ele criou um grande centro cultural para crianças no qual os alunos mantém um canal de TV, uma rádio, uma editora de gibis e um museu que conta com um rico acervo de HQs e filmes, a Fundação Casa Grande. Carismático, Alemberg disse: “Existe um pais chamado Infância no qual os adultos precisam parar de se meter” e saiu ovacionado.
Rubem Cesar, fundador da ONG Viva Rio, foi o quinto indicado a subir no palco. “Comecei a ler a Trip depois do prêmio, antes eu via na banca. E tem uma coisa diferente, de ousadia com brincadeira e meu trabalho vai muito nessa linha. A vida já é muito séria, eu queria ter mais prazer para lidar inclusive com a miséria”, disse Rubem nos bastidores.
A agrônoma Ana Primavesi foi a próxima premiada. Fundadora da AAO (Associação de Agricultura Orgânica) em São Paulo, essa austríaca que adotou o Brasil é incentivadora da Feira do Produtor Orgânico do Parque da Água Branca, onde produtores vendem seus produtos diretamente ao consumidor, sem intermediários e sem agrotóxicos. “Há muita gente que merece o prêmio, por enquanto eu recebo por eles. Mas cada destaque ajuda porque os outros veem que o trabalho que vocês fazem é um trabalho reconhecido”, disse a pioneira.
A sétima indicada, emocionada, pois além de ter sido premiada estava completando 60 anos, a argentina Lia Diskin não só é uma transformadora, como também “cria” transformadores. À frente da Fundação Palas Athena, produz ensinamentos para quem não tem acesso e os ajuda a descobrir seu potencial. É também coordenadora do Comitê Paulista para a Década de Paz – programa das ONU para a disseminação da cultura de paz. Sobre a homenagem que recebeu: “Sem sombra de dúvidas sinto que é uma grande dose de energia, é como tomar uma super vitamina quando se está em uma longa jornada”, disse Lia.
Na sequência, foi homenageado Reinaldo Pamponet, presidente do Instituto Eletrocooperativa, organização que trabalha com inclusão digital por meio da música e da tecnologia. E revelou: “A transformação não vem sem apoio em todos os sentidos. É um espaço em que eu me coloquei o desafio de colocar as empresas em comunicação com a sociedade e se tornarem melhores por meio de um diálogo aberto e franco”.
O jogador da seleção brasileira Raí, ex-atleta com uma carreira exemplar dentro e fora dos campos, foi também premiado. Raí criou a Fundação Gol de Letra, entidade que atua em dois Estados e atende mais de 1.200 crianças e jovens por ano. “Estou me sentindo muito honrado, um cara que teve o reconhecimento de pessoas que eu admiro. É uma grande motivação para que a gente continue ajudando na transformação para um mundo melhor”.
O ativista ambiental Marcelo de Andrade, fundador da Pró-Natura, entidade que administra desenvolvimentos sustentáveis e projetos de conservação também foi um dos premiados. “Não está longe o momento dos BRICs (sigla para os países em desenvolvimento Brasil, Rússia, Índia e China) se tornarem RICS. Nosso produto principal de exportação vai ser a sustentabilidade”, afirmou Andrade.
O indígena Kaká Werá recebeu mais um dos troféus. Nascido na cidade, mas filho de índios, Kaká dirige o Instituto Arapoty, organização voltada para a difusão dos valores sagrados e éticos da cultura indígena. Para Kaká, um prêmio como o Trip Transformadores pode ajudar na qualidade da exposição de um trabalho: “A qualidade faz a diferença. A qualidade das pessoas que entregam, que recebem, que são escolhidas e isso não tem preço. Isso vai ajudar muito na difusão e na multiplicação do projeto”.
Sérgio Vaz, o último premiado da noite
Encerrando a premiação, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, campeã olímpica e homenageada no ano passado, e a vice-presidente da Gol Linhas Aéreas, Claudia Pagnano, entregaram o prêmio para Sérgio Vaz.
Escritor, poeta e ativista cultural, Vaz criou os famosos saraus da Cooperifa, no boteco do Zé Batidão, na zona sul de São Paulo, e o Cinema Na Laje, que exibe filmes para a comunidade. Feliz por receber o prêmio na mesma noite do aniversário da Cooperifa, ele disse que se sente honrado transformar uma comunidade através da arte “para que ninguém morra sem nunca ter lido um livro, assistido a um filme ou visto uma peça de teatro”.
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(Fonte: Revista Trip / Texto por Flávia Durante Fotos Daigo Oliva, Nelson Mello e Clarice Machado)