De um ponto de vista estratégico, tanto a guerra no Afeganistão quanto a do Iraque representam uma derrota do imperialismo e a sua incapacidade de dominar a situação no Oriente Médio. E o pior: a aventura custou mais de US$ 1 trilhão, verdadeira causa da atual crise financeira dos EUA
O fracasso evidente da tentativa de ocupação do Afeganistão e do Iraque pelos EUA não é, aparentemente, motivo suficiente para o governo retirar as tropas. Tampouco as dificuldades financeiras produzidas pelo gigantesco rombo das contas estatais usado para financiar a guerra. Embora todos os problemas criados com a guerra iniciada por George W. Bush e os Republicanos contribuam para a decisão final, é a crise política interna e, especificamente, o crescente descontentamento e revolta da população norte-americana, o motor da mudança de direção dos planos do imperialismo.
Os elevados custos das operações militares estão na raiz da recente crise financeira, contribuindo para o alargamento do déficit orçamentário norte-americano e o atual período de recessão.
Um fracasso de US$ 1 trilhão
Embora tenham seguido um curso que, em linhas gerais, é semelhante, as guerras no Afeganistão e no Iraque possuem diferenças cruciais para a tomada de decisões do governo norte-americano e, detrás dele, da cúpula das forças armadas e demais forças reacionárias do imperialismo.
Financeiramente, o rombo deixado pela guerra no Iraque (cerca de 743 bilhões de dólares) é pouco maior do que o dobro do Afeganistão (cerca de 367 bilhões). As duas guerras juntas custaram mais de 1,1 trilhão de dólares.
Por se tratar de um país maior, mais rico e desenvolvido que o Afeganistão, a invasão do Iraque exigiu o envio de mais soldados que os necessários para controlar a situação no Afeganistão. Foram enviados cerca de 35% mais soldados norte-americanos para o Iraque (176 mil) do que para o Afeganistão (130.930).
O número de soldados norte-americanos mortos em combate foi cerca de 3,4 vezes maior no Iraque, onde morreram 4.428 soldados dos EUA, do que no Afeganistão, com 1.317 soldados mortos.
A guerra no Iraque exigiu um esforço militar muito maior trazendo como consequência um número muito grande de mortos e feridos para as tropas norte-americanas, com cerca de 3,3 vezes mais mortos do que no Afeganistão (4.428 no primeiro e 1.317 no segundo) e mais de quatro vezes o número de feridos (31.929 no Iraque e 7.819 no Afeganistão).
O desfecho esperado para ambas as guerras no momento em que ambos os países foram invadidos foi sendo gradualmente abandonado. Em ambos os casos, o governo norte-americano mudou suas expectativas e se conformou em declarar a vitória ao tornar possível a transmissão do poder e do controle das forças armadas locais a seus prepostos elevados ao governo durante a ocupação.
O impacto da guerra nos EUA
Além da desestabilização financeira e da recessão geradas como consequência dos elevados gastos militares já mencionados mais acima, a manutenção de duas frentes de combate em uma faixa que se estendeu do Oriente Médio ao Sul da Ásia provocou um profundo desgaste nas relações das massas populares norte-americanas com o regime político. O sentimento anti-guerra que tomou conta de uma parcela expressiva da população norte-americana e, principalmente, da classe operária e da juventude, se converteu na pedra de toque do desenvolvimento da crise política norte-americana.
A ascensão de Obama ao governo, apoiado por uma massiva votação de protesto contra os Republicanos, marcou a guinada na situação. Desde 2008, quando ocorreram as eleições, a política de “descompressão” com relação à guerra, no que diz respeito exclusivamente às declarações públicas feitas pelo chefe-de-estado, substituiu o “otimismo de derrotados” do governo anterior. Nos bastidores, a cúpula militar do Estado norte-americano trabalhou para contornar as dificuldades e evitar que o crescente atoleiro em que se encontravam as tropas norte-americanas no estrangeiro consumisse por completo a estabilidade política doméstica.
Neste sentido, a guerra no Iraque, por seus gastos, baixas e impacto sobre a população, por ter, resumidamente, exigido um sacrifício maior da população norte-americana e se mostrado mais claramente como uma operação contrária aos interesses da sua maioria, foi a escolhida para ser encerrada primeiro. O fato de o governo norte-americano ter alcançado pelo menos um dos seus objetivos declarados – derrubar o regime de Saddam Hussein – contribuiu para justificar a retirada, ainda que os objetivos estratégicos do imperialismo não tenham sido, nem de longe, alcançados.
A manutenção da guerra no Afeganistão interessa ao imperialismo norte-americano e mundial na medida em que contenha, ainda que temporariamente e de maneira bastante precária, a desagregação em cadeia dos regimes políticos da região, dentre os quais podem ser incluídos o do Afeganistão, Paquistão, Índia e demais países no entorno.
(Fonte: Causa Operária Online)