Allan Robert P.J.
Muito se fala dos tablóides ingleses. Não vivo na Inglaterra, não conheço os hábitos dos países vizinhos, mas tenho a impressão de que esse tipo de jornalismo faz parte da cultura dos povos europeus.
Há alguns anos um garoto de 2 anos foi assassinado em uma cidadezinha no norte da Itália. Durante semanas todos os jornais, rádios, tvs e revistas deram um grande destaque ao acontecimento. A sentença em última instância só repetiu o veredito das anteriores: a mãe é a culpada. A tv já havia decidido a culpa dela desde o primeiro dia.
Não importa não terem encontrado ou mesmo identificado a arma do delito; não importa que os motivos apresentados pela promotoria tenham deixado uma enorme margem de dúvidas; não importa que a mãe jamais tenha caído em contradição nos dias de interrogatório ininterruptos – sem a presença de um advogado; não importa a fragilidade das provas. Nenhuma outra teoria foi investigada. O veredito já havia sido anunciado no primeiro dia, ao vivo, pela primeira jornalista a dar a notícia. O que se seguiu foi apenas a demonstração de que ela, a jornalista, estava certa.
O caso, em si, é chocante. Mas o pior é o espetáculo que a mídia monta nessas situações. Nos tribunais as filas para assistir a esse tipo de julgamento são enormes. Anônimos cidadãos que desejam presenciar calados longas audiências, como se isso os fizesse participar, de alguma forma, da história ou do resultado do julgamento. Os que apostaram na culpa da mãe, sairão com o rei na barriga, mas quem esperava a sua absolvição, restará de moral baixa e sem consolo. Sem falar da macabra peregrinação à casa onde ocorreu o crime, em um canto perdido nas montanhas italianas.
Como esse tipo de crime acontece com certa frequência – neste momento os jornalistas estão se ocupando dos três mais recentes, além do já citado – os programas e editoriais especiais aumentam a audiência e a venda de jornais. Mas existem muitos outros casos aguardando os prazos processuais para tornarem à mídia.
Assim como no Brasil o capítulo da novela das oito toma conta dos bate-papos nos pontos de ônibus, as declarações dos réus, advogados, policiais e demais envolvidos com o caso são o tema nos bares e cafés italianos. As interceptações telefônicas – que deveriam permanecer secretas mas sempre vazam – entopem as páginas dos jornais, dando aos jornalistas a oportunidade de instrumentalizar os fatos para confirmar as próprias teses.
Aqui em casa é proibido ligar a tv durante as refeições. De vermelho, basta o molho do macarrão. Também fujo de qualquer pessoa com uma filmadora ou microfone na mão: quero ser o único habitante da Itália a jamais ter dado uma entrevista sobre os crimes-espetáculo. Os donos dos tablóides ingleses fizeram escola com um filão que cria procissões às bancas de jornais, mas os italianos parecem ter aprendido a lição tão bem quanto eles.
Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.