** Allan Robert P.J.
Quando escrevo sobre a Itália, escrevo sobre o que vejo, sobre o que vivo. Não tenho a menor idéia de como estão as coisas por aí, mas por aqui as pessoas vão se tornando cada vez mais dependentes da tecnologia. E por aí? Como vão as coisas? São tão diferentes dessa Itália das pizzas e gente virtual?
Confesso ter certa dificuldade com a chamada tecnologia. Quem já leu o livro “Zen e a Arte de Manutenção de Motocicletas” certamente se lembrará do personagem que chamava a tecnologia de “aquela coisa”. Não chego a tanto, mas estou perto.
Conheço alguns italianos que possuem dois ou três celulares, cada um com um operador telefônico diferente, “para aproveitar todas as ofertas.” Depois mandam SMS a si mesmos como se fossem amandas ou gabrielas e mostram aos amigos. Os mais jovens, na faixa dos 12 aos 20, passam o tempo trocando mensagens e fotos, inclusive durante as festas e quando saem em bandos.
É possível controlar a frequência escolar dos filhos através do site do instituto, enquanto algumas escolas já enviam SMS aos pais informando o horário de saída ou a ausência dos filhos. Como de resto já é possível fazer de tudo sem sair de casa, desde se cadastrar no cartório eleitoral, pagar contas, comprar entradas a teatros ou cinemas, candidatar-se a um emprego, fazer as compras do mês e toda e qualquer ação que possa evitar o contato com outros seres humanos.
Tem muita gente fazendo sucesso e dinheiro, mas só virtualmente, em jogos onde cada um assume a personalidade que lhe convém, vivendo emoções virtuais em vidas paralelas àquelas reais, procurando compensar um certo mal-estar geral, que uma vez se chamava rebeldia sem causa, típica da adolescência, mas que vem atingindo também os mais maduros.
Aprendizes de zumbis caminham a pé ou de bicicleta com os respectivos MP3, alienados à vida que corre ao lado, suada e assustada. Algumas empresas de telefonia móvel já oferecem a oportunidade de haver um único telefone, um único número. Quando em casa, é o telefone fixo que toca; quando na rua, é o celular, mas o número é o mesmo. A empresa concorrente oferece um celular que permite ter acesso à TV por satélite (deve ser complicado assistir ao jogo do timão no monitor do celular). E tem, também, a empresa que oferece num único pacote o telefone de casa, acesso à internet e TV digital. Deu fome? Pizza Express.
Os cinemas lotados de celulares que tocam e acendem luzes, piscam e emitem bip; o falso maluco que parece falar sozinho enquanto caminha; a jovem de bicicleta que fecha os olhos quando no MP3 toca a música preferida e ela nem nota que quase causou um acidente no cruzamento; a senhora que controla no próprio celular, se vai chover ou se deixa o guarda-chuva em casa; o motorista das entregas que vai seguindo a voz do GPS para não se perder. Um mundo coligado ao mundo todo, virtualmente.
O ser humano tem a capacidade de criar paradoxos curiosos: quanto mais cresce a população, mais as pessoas vão se isolando.
Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.