** Allan Robert P. J.
O banheiro, todos sabem, foi o último cômodo a ser inserido nas moradias. Como o Brasil é um país relativamente jovem, temos o hábito de absorver mais rapidamente as novidades. Não é raro encontrar casas brasileiras com mais banheiros do que o número de moradores. O lavabo, banheiro reservado às visitas, costuma parecer um cômodo à parte, cujo único objetivo parece ser o de fazer o hóspede se sentir em um ambiente asséptico ideal às suas necessidades. Toalhinhas bordadas pequenas demais e um vaso de violetas completam o lavabo típico. Além da recomendação aos outros moradores de não utilizarem o “banheiro de visitas”.
Ao chegar na Itália, duas coisas chamam a atenção sobre o aspecto da higiene íntima. A primeira é que o número de banheiros por residência é muito inferior aos nossos costumes. A segunda diz respeito a um hábito que ainda não foi completamente absorvido pelos brasileiros: o uso efetivo daquela escovinha que todo banheiro italiano possui.
Como a quantidade de banheiros nas residências italianas é realmente reduzida – normalmente um único banheiro, mesmo em casas com três quartos – existe uma regra implícita de cada um usar o próprio banheiro. Jantares que duram horas e ninguém usa o banheiro do anfitrião. Seria como invadir parte da privacidade da família, com toalhas molhadas emboladas, frascos semi-vazios de shampoo e escovas de dentes expostas à observação e curiosidade alheia.
Nas raríssimas exeções em que uma visita pede para utilizar o banheiro, deve-se deixá-lo completamente limpo, sem resíduos da passagem de um estranho pelo local. A regra, nesses casos, recomenda a habitual descarga, o uso da tal escovinha para eliminar qualquer resíduo do vaso sanitário, lavar as mãos, enxugá-las com a menor toalha visível, usar um pedaço de papel higiênico para enxugar a pia e o próprio vaso sanitário e uma segunda descarga para eliminar o papel usado para enxugar tudo. A esse ponto pode-se fechar a janela (você a abriu antes, não?) e sair discretamente do banheiro.
Todos fingirão ignorar a descortesia e o jantar se prolongará pelo tempo normal, quando a abrição de bocas decretará o fim do encontro. Provavelmente o anfitrião evitará oferecer a mão para se despedir, trocando por um abraço afetuoso seguido de elogios pela companhia e prometendo um novo encontro. Que não acontecerá nunca, caso ele não reencontre o banheiro lustrando e perfumado, na inspeção que se seguirá dois minutos depois que você tiver saído.
Talvez seja por isso que as discotecas e os restaurantes italianos estão sempre cheios. As pessoas preferem se encontrar lá, onde a maioria dos banheiros é limpa e ninguém passará constrangimento caso encontre algum que não seja bem cuidado. Na dúvida, vá ao banheiro antes de sair de casa.
Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.