**Vitor da Trindade
Depois de alguns anos dei uma canja na noite!!! Foi gostoso!!! Caía a tarde feito um viaduto… Me lembrei Carlitos, Luís Melodia e Jorge Ben, de minhas noites nos não mais existentes bares embuenses, Garrafão, Mais Embu, Cinye, Bar do Geraldo e Varanda, desse jeito mesmo que estava na minha memória!
O cenário nesse dia da canja, era o Toledo, e na guitarra o Luiz, embuenses os dois de carteirinha, iniciadores e mantenedores do Grupo Nova Semente, herdeiros do Wagner, Ibraim e Zé Luis que tocavam na banda Os Nômades. Nessa época, dos Nômades, o guitarrista que eu não lembro o nome, solava O Milionário, e os adolescentes, eu, minha irmã Regina, Argeu da Luz, Wlad e Wanda, irmãos do cantor, e os ‘Assizes’, Claudinéia, Raquel, Vitor e Solano, dançávamos do lado de fora, não lembro se pela idade, pela grana ou se pelos dois.
Foi lá que aprendi a ser embuense de coração, vermelho e preto sinal de guerra. Quando pudemos entrar, a música já era mecânica, o lugar tinha mudado de nome, e os Reis da Pista eram o Allan, o Solaninho e o Vitor (Didi), os que melhor tinham entendido as maneirices de Toni, personagem de John Travolta, nos Embalos de sábado à Noite. Hoje na sede, é só uma Pizzaria, onde vão os que ganham menos e querem comer mais.
Foi no O Casarão, ex Patacão, que dei minha canja, agora já por estes tempos. Toledo, nesta noite com chapéu de cowboy, mas sem nenhum compromisso de tocar isso ou aquilo, afinava com voz de quem gosta de cantar, assim sem valer nada; se tem cachet ele vai, se pela cerveja, é o primeiro a chegar, mandava musica boa de tudo que é tipo. Geraldo Azevedo, Tim Maia, Sérgio Reis, roque dos anos 70 e 80, e tinha o sobrinho dele, um menino que coverizava todo mundo, fazia os falsetes de Aretha, daquele jeito brasileiro de encontrar gambiarra para tudo.
Lembrei-me dos Diferentes do Samba, do Reinaldo, do Maurão, me lembrei do Fred, do Borba, do Belarmino e seu super cavaco, do seu Dito, o maior sete cordas que já passou na região, do Zito, daquela família que mora do lado da cachoeira, um branco que adorava Jorge Ben, sem Jor, do Diego, do Vasco, do Mário do Black Horse, do Pedrão tocando Vandré e Gilberto Gil, de um menino de cara engraçada que imitava o Elvis, dos falecidos Cacau e Luis Coelho, do Jorginho que mora na França, do senhor excelentíssimo Paulo Som e do Dunga, que tava em todas… Tempo bom!!
Canjar é assim: você vai lá e toca uma música, se o público aplaudir, aí depende do cantor oficial do bar, se ele gosta de você pessoalmente; se sim, ele pede pra você tocar mais umas, se não, ele discretamente pega seu violão de volta e vai trabalhar, que ninguém quer perder o emprego. Se o público não gostar do canjeiro, daí, o cantor da casa aproveita, ele vai beber ou comer algo ou alguém, e deixa o dito cujo lá, passando vergonha, pois geralmente, o cara, muito ruim, fica no microfone até ninguém aguentar mais e chamar o titular aos gritos, causando mal estar no proprietário do bar, que começa a acreditar mais fortemente na capacidade musical de seu empregado, mas não a ponto de aumentar a Gage, claro.
Eu canjei como qualquer canjeiro, toquei muito mal, errei os acordes, desafinei, errei a letra, dei trave atrás de trave, e no final a galera aplaudiu, aplaudiu, mas não porque tivesse sido bom, porque eu tinha arrebentado a boca do balão, mas sim porque a platéia de barzinho adora canjeiro, canjeiro sempre faz sucesso, pode ser cego de nunca acertar uma nota sequer, porém se cantar uma top que todo mundo conhece, já ganhou a galera, claro, e para qualquer um, até a segunda música, e se for esperto e músico velho, não volta de jeito nenhum, ninguém ouve mais nada depois da segunda vez, aí o coitado do canjeiro já virou da casa, e todo mundo já tá falando alto, pedindo pizza, uma porção de fritas, calabresa, frango a passarinho e mandioca, discutindo futebol, bundas, novelas e política.
O dono do restaurante, geralmente, oferece ao canjeiro o que ele não quer pra beber, então você pede um scotch, se puder se coçar, ou uma água com gás pra não passar vergonha. Fica um pouco, abraça os amigos e vai pra casa feliz, lembrando de seu tempo de crooner, nome que desde o Milton não se usa mais.
Chego em casa tarde, beijo numas e noutras, amanhã tem correria cedo. A minha comadre faz o prato do dia, e vem sentar-se na mesa cheia de sono, janto, conto da canja e ela dá um tremelique de, ah meu Deus de novo não! Ela tem razão! Era mais duro naquele tempo!! Não tinha nada certo, nem décimo terceiro nem nada!!! Fora que era toda a noite bêbado, ou meio, ou mais que, o que dava na mesma. Um pouco de mágoa, um pouco de festa, um pouco de perfume de sei lá quem, e uma marca de baton daquela morena, ou loira, ou pretinha, não me lembro mais. Ser músico da noite era bom, mas dava muito trabalho!!!
Às vezes me dá saudade de djavanear, caetanear e joaobosquear, mas já estou fora de moda. A noite embuense hoje em dia tá cheia, bonita, toda casa tem um cantor!! Muita gente nova, nossos ex-alunos tocando muito bem, às vezes melhor que a gente, gente de fora, roque, mpb, jazz, brega, forró, primário, secundário e universitário, em inglês, português e caipirês, de tudo um pouco em lugares diferentes.
De vez em quando civiliza demais e tem tiroteio, mas o normal é muita paz e muita muié! Tem feia, tem bonita, mais ou menos, GLS, LSD, RAP e todas as siglas da night moderna. Pra finalizar, abraços pros meus amigos teimosos, Carlos Caçapava, que achou a fórmula, e tá com um trampo super lindo, Del Nero, que tá na Argentina, Magela, que vai pro Japão semana que vem, e toda essa galera que continua fazendo música no Embu e por aí!!
Axé Odara e Feliz 2011!!!!!
*Vitor da Trindade tem 54 anos, é compositor e percussionista, tem 04 discos próprios gravados, vencedor do Premio Cultural Petrobras 2005, ex-professor da Landesmusikakademie de Berlin, Groove Zentrum fur Perkussion e Musikschule Schonenberg na Alemanha, já se apresentou em quatro continentes com o trio Revista do Samba, com lançamento do quinto CD, Revista Hortência do Samba, co-produção Brasil-França, previsto para março de 2011 em Marseille, Paris, Berlin e São Paulo. É professor de música e vice-presidente do Teatro Popular Solano Trindade.
Eloah… Grande Eloah…
Você me transportou para a garagem da casa do Luís Scaccio. Época que tinha muitas ideias na cabeça, pensando nas novas músicas para os festivais da vida, ou simplesmente para quem gostasse ouvisse…
“Vê se levanta logo, engole o café e vai trabalhar” da música “Como é que é Zé?”, começou numa brincadeira no colegial… “Aparece Sol”, da música “Sol Nosso”, quando eu e meu irmão Marcos pedíamos para o sol voltar para brincarmos no quintal, após a chuva… e “aprendi que é tempo perdido programar um pensamento, se as melhores coisas acontecem em momentos” da música “É Tempo Perdido”, as desilusões de um adolescente…
Beijos, Eloah e até breve! toledo.lc@gmail.com
Viajei no tempo… por um breve período, fiz parte do Nova Semente, com o Cláudio e o Marcos Toledo, o Luiz e o Evaldo. Lembro até hoje de algumas canções: “Vê se levanta cedo, engole o café e vai trabalhar…” pois “aparece o sol” “aprendi que é tempo perdido programar um pensamento, se as melhores coisas acontecem em momentos” e outras mais. Era um tempo de caldeirão, pratos e batuques no largo 21 de abril, de “corredor ao vinho”, especialidade do Geraldo, de Degrau, o bar onde apresentei minha prima Eloá ao Allan, onde tive muito “papo cabeça” com o saudoso Ênio, boêmio cheio de sabedoria e generosidade, com quem aprendi muito.
Lembro da Raquel Trindade me fazendo tranças “de neguinha” para uma apresentação daquele grupo de percussão e voz, com você, Carlinhos, Cacau, Caçapava, Ciça, os filhos deles, a Valéria e a Rose, na Feira Cultural do Butantã. Também fizemos uma noite na Casa de Cultura de Itapecerica, lembra? O Geraldo Gregório, fazia o violão. Aliás, você tem algum registro daquelas apresentações? Bom lembrar daquele tempo, que foi de altos e baixos, mas com saldo sempre positivo.
Grande beijo. Inté.
Acho que me confundi… os filhos do Caçapa estavam sempre por perto, mas acho que não faziam parte. É, o tempo passa e a memória nos trai… rs
Me sinto muito honrado em fazer parte da História desse grão-mestre da Música, Vitor da Trindade, herdeiro genético de Solano, de Raquel e da Cultura em geral, enfim; um cara super iluminado.
Vitão:
Abraços.
Negão,
Enquanto eu ia lendo um filme passava na minha mente. Senti até o cheiro da cerveja choca de fim de noite. Outros tempos. 🙂
Abração
Outro dia eu vi o Solaninho dancando!!!Ele nao perdeu o jeito, nem ganhou barriga, continua jovem e disposto a MichaelJacksonear!!!
Axé!!!!!