**Vitor da Trindade
Dia de Yemanjá, Odoya!!! 2 de fevereiro, tô nas águas de mainha, via litoral norte de Sampa, nas ondas de pontas brancas de longos jacarés, até a areia de Camburizinho, jacarés diferentes das almôndegas de Porto Velho. Dessa vez, meu amigo réptil, dá nome às ondas tiradas de peito, desde os meus tempos de pedalar da Taquara, via Cidade de Deus, até a Barra, com direito a assalto na estrada, pois nos meus tempos de favela carioca, ninguém passava sem deixar tributo.
Voltando às águas de Cambury!! Águas de chuva de Oya e seu marido barulhento, águas de Oxum, dos rios e cachoeiras, água que passarinho não bebe , água de beber, bica no quintal e tudo o mais, vim para tocar no Restaurante do André Guariglio, que se chama Meio da Mata e claro, é um lugar maravilhoso.
Cheguei no 02 de Fevereiro, que eu tinha esquecido ser Dia da mãe de Ogum, mãe do Povo de Santo, Janaina, Inaeh, Odoya!!! Bati meu necessário Paoh e não esqueci, pelo menos de saudar a Rainha do Mar.
Pra ir de Sampa, você dirige até Cambury, passando por Bertioga, entrando em São Sebastião, de onde a praia é bairro, e antes um pouquinho de chegar em Boiçucanga, é só pegar à esquerda nas placas de Sertão do Cambury, dirigir dois quilômetros depois à esquerda novamente no Caminho do Meio, e às quartas, sextas e domingos, você vai comer uma Lula maravilhosa, ou um magistral Yakissoba do André Legal. Se tem alergia a mosquito, leva o repelente, que eles tão por lá.
Pousada na cidade, pra quem quiser passar uns dias, tem de montão, umas chiques, outras mais ou menos e outras ‘tres chics’, onde só vai bacana. Os preços, para quem se interessa por quanto, variam de 100 a 250 reais a diária. Quem vai pras muito chiques, é mais caro. Ainda bem que, passando disso quem paga não vai se interessar por preços.
Pra Camburi eu fui da outra vez ainda com 20 anos (faz tempo!). Tinha nada aqui não. Só uns dois ou três malucos de carteirinha (ainda sobraram alguns e chegaram outros!!!), uns hippies argentinos, e alguns fugitivos de bandas de rock. Hoje se me lembrasse dessa época, eu não reconheceria nada. É tudo muito civilizado e ecológico.
De novo no front? Nada!!! Só que o Revista do Samba foi premiado de novo, o disco que lançaríamos na França parou na dúvida e eu continuo amando muito minha querida Elis. Eta companheira, hein!!! Ela também é do mar, de Porto de Galinhas, que tem esse nome, por ter sido Porto de Escravos após a proibição do tráfico pelos ingleses. Quando os traficantes diziam que chegaram galinhas novas de Angola, se referiam a um novo carregamento de pessoas africanas que viriam a ser escravizadas por seus compradores. Um dia conto minha história de como a conheci, e de como a trouxe para nossa cidade.
Na noite passada, Dona Terezinha, que mora aqui em frente, me contou de uma grande chuva como as que temos agora, em que a rua se achou repleta de sapos, após a estiagem. Ela me contou que sofreu muito, pois não sabia escolher qual sapo beijava.
Viva Dona Terezinha, mãe do Rafa, que não perdeu o sabor da vida, independentemente de seus mais de 70 anos. Minha mãe, Raquel Trindade também é assim. Hoje ela me disse que estava ficando velha. Eu disse a ela que muitas pessoas com 74 anos estão na cama, e que ela continua e sempre continuará a ser professora de dança brasileira, e sua energia sempre se renova a partir de cada aula.
Desculpem a demora de escrever de novo.
Axé Odara!!!!
*Vitor da Trindade tem 54 anos, é compositor e percussionista, tem 04 discos próprios gravados, vencedor do Premio Cultural Petrobras 2005, ex-professor da Landesmusikakademie de Berlin, Groove Zentrum fur Perkussion e Musikschule Schonenberg na Alemanha, já se apresentou em quatro continentes com o trio Revista do Samba, com lançamento do quinto CD, Revista Hortência do Samba, co-produção Brasil-França, previsto para março de 2011 em Marseille, Paris, Berlin e São Paulo. É professor de música e vice-presidente do Teatro Popular Solano Trindade.