São Paulo – O ditador Hosni Mubarak renunciou à presidência do país nesta sexta-feira (11), após 30 anos no comando do governo do Egito. O vice-presidente, Omar Suleiman, fez o comunicado na TV estatal e em seguida renunciou ao próprio cargo. O poder passará a ser exercido pelo Supremo Conselho Militar das forças armadas, chefiadas pelo ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, chefiará a junta.
A multidão, que protestou por 18 dias seguidos contra as altas taxas de probreza, desemprego e violações de direitos humanos pela ditadura, comemora na praça de Tahrir, no centro do Cairo. Milhares de pessoas agitam bandeiras e se abraçam, gritando: “O povo derrubou o regime”, gritava a multidão, segundo a Reuters.
“Foi uma estratégia montada para que ele não tivesse de admitir em público que iria renunciar ao poder”, disse o embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio, à GloboNews. Na noite de quinta-feira (10), Mubarak foi à TV local para anunciar transferência de poder a Suleiman, mas negando que deixaria o poder antes de setembro.
Autoridades egípcias confirmaram que Mubarak e a família deixaram o Cairo, pela manhã, em direção ao resort de Charm el-Cheikh, no Mar Vermelho. O resort fica a 250 quilômetros da capital. Helicópteros foram vistos deixando a residência oficial do presidente na manhã desta sexta-feira.
A nota de renúncia, publicada na página oficial da Presidência do Egito na internet, em inglês, tem apenas quatro linhas. Na declaração oficial não há explicações sobre o que motivou o presidente a deixar o governo depois de quase três décadas no poder, nem referências à onda de protestos que toma conta do país há 18 dias.
A nota informa: “Cidadãos, nestes tempos difíceis, o presidente Mohamed Hosni Mubarak decidiu renunciar à presidência da República e indicou o Conselho Supremo das Forças Armadas para comandar o governo da nação. A paz esteja convosco, com a misericórdia e as bênçãos de Deus”.
30 anos de ditadura
Mubarak assumiu o cargo em 1981, depois do assassinato de Anwar Al Sadat, que havia permanecido no cargo por 11 anos. Ele era vice-presidente, estava sentado ao lado de Sadat no veículo onde ocorreu o atentado, mas escapou ileso. Desde então, manteve-se como aliado do governo dos Estados Unidos e de Israel.
Apesar de ter sido o principal interlocutor entre israelenses e os países árabes da região, Mubarak foi um dos principais responsáveis pelo planejamento do ataque surpresa contra forças de Israel na península do Sinai. O episódio deu início à guerra de Yom Kippur, em 1973. À época, Mubarak era vice-ministro da Defesa e comandante da Força Aérea.
Nascido em 1928, na província de Menoufia, nas proximidades do Cairo, formou-se na academia militar em 1949, tornando-se membro da Força Aérea no ano seguinte. Nas duas décadas seguintes, subiu na estrutura militar até obter cargos no ministério. Apesar de o conflito com Israel ter tido resultados negativos para o Egito, sem que tivesse sido recuperado o controle do Sinai, Mubarak tornou-se vice-presidente de Sadat em 1975.
O fato de buscar negociações pacíficas com Israel fez dele um aliado confiável também dos Estados Unidos. Internamente, porém, conduziu uma ditadura de caráter militar, com base em uma lei de emergência que restringia direitos dos cidadãos. O risco de ascensão de militantes islâmicos era o motivo empregado oficialmente para a manutenção da legislação especial. Com isso, manteve-se uma estabilidade política e econômica.
Durante o seu governo, ele foi reeleito por quatro vezes. Em três delas, era o candidato único. Na última, em 2005, havia rivais, mas houve denúncias de fraudes para favorecê-lo. O próximo pleito estava marcado para setembro deste ano e, apenas depois de iniciados os protestos em janeiro, Mubarak assumiu o compromisso de não mais se candidatar.
Casado com Suzanne Mubarak, tem dois filhos, Gamal e Alaa. Dono de uma rotina simples sem fumar nem beber, tinha na sua idade um tema de rumores constantes sobre a necessidade de mudanças. No ano passado, submeteu-se a uma cirurgia na vesícula.
(Rede Brasil Atual / Com informações da Agência Brasil e Reuters)