São Paulo – Pela primeira vez, o Brasil vive um momento de convergência quanto a propostas para o enfrentamento ao crack. A opinião é do psiquiatra Mauro Gomes Aranha de Lima, presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas de São Paulo (Coned). “Embora as coisas ainda estejam no papel, estou otimista. Se vencermos a guerra contra o entorpecente, estaremos criando um sistema que dará conta de acabar com as outras drogas.”
Os motivos do otimismo do especialista, que é também vice-presidente do Conselho Estadual de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), são ações que começam a ser desencadeadas em vários setores a partir do lançamento, em maio do ano passado, pela Secretaria Nacional Antidrogas, do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas.
O programa consiste no enfrentamento ao tráfico; fortalecimento e articulação das polícias estaduais para enfrentá-lo em áreas mais vulneráveis; atendimento, tratamento e reinserção social de usuários por meio da ampliação da oferta de leitos em serviços de urgência e emergência nos hospitais gerais; e criação de casas de passagem e comunidades terapêuticas que os municípios e o distrito federal deverão construir com recursos da União. Uma das ações do plano que já está em execução é um diagnóstico do consumo da droga no Brasil, coordenada por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde.
Segundo Aranha de Lima, um dos reflexos imediatos do plano em São Paulo é a formação de um grupo de trabalho no Coned, que envolverá várias secretarias, como saúde, educação, desenvolvimento social, habitação, esporte e turismo, entre outras. “O fato de ser vinculado à Secretaria da Justiça não dá ao grupo um caráter repressivo”, ressalta ele. “Toda ação que envolve álcool e outras drogas implica em balizamento dos direitos humanos e dos drogaditos do crack para que haja assistência sem violação dos direitos humanos”.
O crack é uma substância que mistura a pasta base da cocaína com diversos produtos químicos. Assim que inalada, sua fumaça chega ao cérebro em menos de dez segundos, provocando efeitos de intensa euforia, excitação, insônia, sensação de poder, além de causar desorientação, instabilidade emocional, mania de perseguição e fissura. Estes efeitos podem durar de 15 a 20 minutos. A droga causa ainda o aumento repentino da pressão arterial e aceleração dos batimentos cardíacos. O uso frequente e prolongado pode ocasionar convulsões, coma, parada cardíaca e levar à morte pelo comprometimento dos centros cerebrais que controlam a respiração.
Seu poder estimulante é maior que a cocaína e causa dependência em muito menos tempo. O usuário fica mais vulnerável a diversas situações de risco, como exposição a relações sexuais desprotegidas, envolvimento com atos infracionais e violência e comprometimento das relações familiares e sociais.
Aranha Lima foi um dos palestrantes do Seminário Enfrentamento ao Crack, que os deputados estaduais Donisete Braga e Enio Tatto, ambos do PT, realizaram na Assembleia Legislativa paulista, no último dia 5. Dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostram que o crack faz vítimas em 98% das cidades brasileiras e em 80% dos municípios brasileiros.
(Por: Cida de Oliveira, Rede Brasil Atual)