Independentemente da posição política, os eleitores europeus estão mandando uma mensagem clara aos seus governantes: estão insatisfeitos pela gestão da crise e pelo preço que estão tendo que pagar para sair dela
*Por: Allan Robert P. J., da Itália
O primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi, estava tão seguro do sucesso ainda no primeiro turno da sua candidata à Prefeitura de Milão – a atual prefeita Letizia Moratti – que transformou o caso em um referendum sobre o seu governo. Milão é a cidade natal de Berlusconi e o seu reduto eleitoral. O êxito era tão certo que o primeiro ministro foi para o palanque cantar vitória antes do tempo. O que saiu das urnas foi uma derrota que pode mudar o rumo do atual governo: O candidato do centroesquerda, Giuliano Pisapia, obteve pouco mais de 48% dos votos enquanto Letizia Moratti não atingiu 42%. O segundo turno, nos próximos dias 29 e 30 de Maio, decretarão o futuro do atual governo.
Enquanto isso, na Espanha de Zapatero, as eleições administrativas punem ferozmente a gestão do atual governo, impondo uma derrota em feudos socialistas históricos, como Barcelona, que contava com 32 anos de hegemonia socialista, e Castela-Mancha, além de cidades importantes como Sevilha.
A Alemanha da Chanceler Angela Merkel não fica atrás e, com a derrota das eleições administrativas em Bremem, os liberais do partido CDU deixam de ser a segunda força política no país, posto ocupado agora pelo Gruenen, o partido verde alemão, para ocupar o terceiro lugar na preferência dos eleitores.
Aparentemente os três episódios tem pouco em comum, se observado pelas cores políticas de cada governante. Economicamente as semelhanças também são poucas, pois se a Espanha teve um crescimento do PIB no último trimestre de 0,3%, e a Itália de apenas 0,1%, a Alemanha demonstra uma estabilidade invejável com um crescimento no mesmo período de 1,5%, o que aumenta a estimativa anual do PIB europeu.
O que torna semelhantes tais episódios é a insatisfação. Independentemente da posição política, os eleitores europeus estão mandando uma mensagem clara aos seus governantes: estão insatisfeitos pela gestão da crise e pelo preço que estão tendo que pagar para sair dela. Além das derrotas impostas nas urnas, o outro dado que corrobora o mau humor do eleitor europeu é o número de abstenções. Só em Milão mais de 40% dos eleitores da última eleição administrativa preferiram não ir votar.
Estamos vivendo na Itália uma miopia social, com as forças políticas trocando ofensas e ameaças, deixando de lado os interesses dos cidadãos que as elegerão. Talvez ainda não tenham compreendido o recado enviado às urnas. Os eleitores querem resultados e não frases de efeito; mudanças que permitam os muitos trabalhadores a abdicar dos amortecedores sociais para que possam voltar a produzir; prospectivas no lugar de obras de emergências. Enquanto os governantes optarem por discursos populistas em prejuízo de reformas estruturais e projetos de longo prazo, o resultado das urnas europeias continuará imprevisível. À direita ou à esquerda, mas sempre na direção oposta aos rumos do governo, qualquer que seja o governo.