Por Allan Robert P. J.
A chuvinha ainda não parou. Engrossou em algumas regiões, inundando vilarejos, campos, casas e vidas. É uma primavera chuvosa, mas não como a de 2008, a mais chuvosa dos últimos duzentos anos. Em Piacenza, é chuvinha mesmo. Só o rio Po deixa a cidade em estado de alarme, ameaçador como o estouro da boiada. Desta vez foi o rio Trebbia a fazer mais estragos na província, deixando na bela Rivergaro, às suas margens, a marca da cheia.
Bolzano é quase Áustria, numa região em que culturas e línguas se misturam. O garçon do restaurante observa os fregueses e decide em que língua atendê-los. Ficou na dúvida comigo, arriscou o alemão e, diante da minha expressão enigmática, ofereceu-me uma mesa em italiano. Não errou mais nenhum cliente, mesmo os que usavam o ladino para se comunicar. Deve ter estranhado o meu guarda-chuva naquele dia ensolarado.
Apesar de ser a 270 km de Piacenza, decidi ir de trem – não repitam isso em casa sem a presença de um adulto. Cheguei na estação às 7h30, pedi um bilhete, entrei no trem e comecei a ler. Meia hora depois o trem parou e todos desceram. Assustado com a rapidez, desci e descobri que estava em Cremona, 30 km ao norte de Piacenza e que deveria pegar um outro trem, que por sinal estava saindo, o que me obrigou a correr.
Brescia, Verona e finalmente Bolzano. Por que consultei a internet para informar-me sobre o tempo em Bolzano, mas não consultei o site da Trenitalia ainda não entendi. Só entendi que a meteorologia não acerta nem na internet: cadê a chuva anunciada para Bolzano? Quatro trens e quase cinco horas de viagem. Não sei se acontece com vocês, mas, às vezes, me arrependo de ter aberto os olhos pela manhã. Claro que se soubesse teria virado para o lado e ficado na cama.
A pessoa que eu deveria encontrar às duas teve um contratempo e só nos encontramos às quatro e meia. Controlava o céu e olhava o relógio, imaginando que teria que enfrentar outras cinco horas para voltar. Conversamos e não gostei muito do que ouvi, pois as regras mudaram e a negociação não caminhava na direção esperada. Um aperto de mão e a promessa de que nos falaríamos em breve para dar tempo de absorver as mudanças propostas por ambos.
Seis e meia daquela tarde ensolarada. Voltei à estação de Bolzano e descobri que a viagem duraria um pouco mais. Não havia trem para Piacenza via Brescia e eu teria que ir até Milão e depois voltar a Piacenza. Ao menos economizei uma conexão.
Quase meia-noite desço na estação de Piacenza. O calor abafado anunciava chuva. Orgulhosamente exibi meu guarda-chuva aos poucos passageiros que cochilavam na estação, mas ninguém me notou.
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.