Por Vitor Trindade
Quando me olhei no espelho e disse, sou um negro bonito, não fiquei de muito orgulho de minhas conquistas, de minhas viagens por mulheres sempre lindas, que pelo menos eu achava, por dentro e por fora.
Bati a cabeça, me enganei, enganei pessoas, trai e fui traído, e sempre no final perdi o fio da meada, o ponto de ligação, e deixava o umbigo cortado, distantemente, conectado em algum ponto em comum com o passado doido, que nunca me largou. Hoje o passado passou e eu também passo por ele como um parceiro, de passo certeiro em direção a um futuro que está tão presente como o meu bater de coração, meu pensamento vago e minha eterna busca da imperfeição.
Hoje eu não tenho medo e quero chegar ao fim de todas as coisas que comecei e começo.
Voltei a não dormir, de lembrar de Pedros, Augustos, Marisas e Corinas a quem devo dinheiro, sempre pouco dinheiro. Não os pago por cabeça desorganizada, por trocar por outra divida nova e perder créditos e amizades.
Tenho pesadelos de reviravoltas derrotivas e acordo com pensamentos de destruição. O pior com isso, é que me acostumei a ser roubado, a ver minhas construções passarem às mãos de outros, sem que eles se sintam culpados, de me roubarem com sorrisos, e dizerem: olha só o que fiz; e não dizerem: olha, estou fazendo o que aprendi com você, que você acha?
Eu não escuto a pergunta, e respondo: puxa! Está bonito, mas seria bacana se você melhorasse isso ou aquilo, e me sinto generoso por fora, odioso por dentro, machucado e envergonhado, por que me deixei afirmar desapegado, sem amor a matéria, e não mostrei a pessoa vingativa, e invejosa que realmente sou. Principalmente de minhas próprias coisas.
Como posso então me consertar de meus erros, se não me sento em meus acertos? Preciso ligar meu guerreiro, preciso perder o medo da violência, preciso começar a derrubar muros, ao invés de dar a volta por eles. Preciso pedir licença ao meu ‘Ori’, para que eu possa odiar a paz, essa paz sossegada, essa paz covarde, essa paz que não progride.
Estou cansado de não dar um soco em alguém que mereça, de não bater na cara do ofensor, na realidade, de não saber de verdade me defender, ou de demorar muito para fazer isso, ou de não fazer de uma forma que me traga fama e fortuna.
Na realidade isso e uma grande confusão…
Embu das Artes 04 de 2011
*Vitor da Trindade tem 54 anos, é compositor e percussionista, tem 04 discos próprios gravados, vencedor do Premio Cultural Petrobras 2005, ex-professor da Landesmusikakademie de Berlin, Groove Zentrum fur Perkussion e Musikschule Schonenberg na Alemanha, já se apresentou em quatro continentes com o trio Revista do Samba, com lançamento do quinto CD, Revista Hortência do Samba, co-produção Brasil-França, previsto para março de 2011 em Marseille, Paris, Berlin e São Paulo. É professor de música e vice-presidente do Teatro Popular Solano Trindade.
Pois é Tchê!
Mas a obra de um mestre não é disseminada pelos orientados? A ausência de reconhecimento é uma coisa inerente do homem, sempre egoísta e ganancioso.
Coragem está na continuidade e coerência
de suas construções – muitas, aliás – afinal não são construções a não reação obvia e instintiva às ofensas? Orientar e ser ativo ao invés de olhar com passividade as possibilidades de construções?
Desapego é muito mais difícil, e o mestre Gandhi mostrou isso muito bem.
Meu amigo, o que chamas de fraqueza é a razão que incita minha inveja, é o que eu vejo como conquistas a perseguir.
Como tu mesmo dizes, “já sou rico de tudo, só me falta dinheiro”, bom… a gente precisa dele, mas de tuas conquistas esta será a mais fácil.
Está mais perto o dia em que a cooperatividade será entendida como mais importante que a competitividade.
Axê
Com amigos como vc, a vida sempre fica mais facil…