Ao valorizar imóveis, pobres podem sofrer conseqüências. Após a Copa de 2014, estádio do Corinthians poderia ser aproveitado pela comunidade, mas gestão é motivo de dúvidas
São Paulo – O urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Pólis, critica a falta de medidas que controlem a tendência de valorização imobiliária em Itaquera, na zona leste da capital paulista, devido à construção do estádio do Corinthians. O aumento de preços pode dificultar a permanência da população mais pobre no local, empurrada para outros municípios da Grande São Paulo.
A arena é a opção da prefeitura e do governo do estado para receber partidas da Copa do Mundo de futebol de 2014 em São Paulo. Para sua construção, a administração de Gilberto Kassab (ex-DEM, rumo ao PSD) deve conseguir a aprovação de incentivos fiscais na Câmara Municipal.
Nakano afirma que parte da zona leste já vive mudança de perfil populacional. Com uma nova onda de especulação, o fluxo tende a aumentar. “Bairros de cidades como Ferraz de Vasconcelos, Suzano e Itaquaquecetuba vêm enfrentando taxas de crescimento cada vez mais altas. Os menos favorecidos migram para esses municípios (da região metropolitana), expulsos por essa valorização imobiliária”, constata.
Segundo o urbanista, há maneiras de evitar uma elevação tão acentuada de preços de imóveis, por meio de condições e exigências que regulem o uso e a ocupação do solo. Um exemplo disso são as chamadas zonas especias de interesse social (Zeis), áreas separadas para habitações de população de renda mais baixa.
As isenções de Imposto sobre Serviços (ISS) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) pela prefeitura de São Paulo são insuficientes para atrair outros investidores para o entorno do estádio. Essa capacidade depende mais da forma de gestão. Nakano defende que o estádio seja usado para outros fins, além do futebol. A conversão de estádios em arenas multiuso é apontada também por outros especialistas como uma forma de tornar o empreendimento mais lucrativo.
O urbanista do Pólis acredita que, apesar de a obra ser controlada por grupos privados, é possível realizar eventos e ajudar a consolidar Itaquera como um polo de atividades culturais. Isso depende de o aluguel do local não vir a ser muito elevado após concluído.
(Por: Jéssica Santos de Souza, Rede Brasil Atual)