Por: Allan Robert
O ipê roxo que a Eloá plantou está imenso. Ela ainda estava na faculdade quando levou a muda e, junto com o pai, plantou-o na calçada lateral da casa de esquina onde ainda moram meus sogros. A mesma casa por onde hoje correm Bruno, Fernando, Bárbara e Júlia. A mesma casa que um dia viu correrem as minhas Bianca e Luiza. A mesma casa por onde correram Eloá, suas irmãs e seu irmão. Têm ainda alguns limoeiros, uma primavera, um pé de acerola e até um pé de alumã que eu levei da Bahia. Tinha uma goiabeira enorme.
Por onde andarão meus primos e tios? Há muito não os vejo. No dia em que chegamos ao Brasil, para nossas curtas férias de três semanas, Paulo Sérgio se casava. Difícil imaginar aquele meu primo se casando. Um menino pequeno, meio tímido, cabelos cacheados e um sorriso doce que lhe davam um ar de anjo, não podia estar se casando. Pelo menos eu não consigo imaginá-lo adulto. E os outros, por onde andarão? Alguns eu nem conheço. Culpa dos meus avós, que tiveram oito filhos. Quatro homens e quatro mulheres. Culpa dos meus pais, que escolheram mudar-se para a longínqua São Paulo. Longínqua naquela época, mas mesmo assim, longe dos tios e primos. Culpa minha, dono de alma cigana que me impele ao movimento. Rio, Petrópolis, São Paulo, Itaquira, São Paulo, Embu, Macaé, Embu, São Paulo, Rio, São Paulo, Cotia, Embu, São Paulo, Rio, São Paulo, Embu, Salvador, Assis e Piacenza.
Em Itaquira, na fazenda do meu avô, ajudei a plantar muitas árvores. Depois, espalhei árvores em um monte de outros lugares. Tenho mão boa para plantar. Gosto de sentir a terra sob meus pés descalços, enquanto decido o melhor lugar para a muda: que distância estará da água; qual o trajeto do sol; que tipo de raiz produz (se superficial, longe de casas e muros; se profunda, pode ser utilizada como sombra no quintal); se necessita de outra para frutificar; se tem vento. Uma vez plantada, cuido dela até que ela possa arranjar-se sozinha, passando a contar só com a chuva. De vez em quando, volto para ver que está tudo bem, ou para uma podada corretiva. Até mudar de cidade. Algumas devem estar enormes como o ipê roxo da Eloá, mas não creio que tornarei a vê-las.
Primos, tios e tias. Pessoas que um dia fizeram parte da minha infância, imensos como um ipê roxo que eu espero rever um dia. Tia Arinda, deixe de ser preguiçosa e mande uma foto do Tarcísio. Aproveite para atualizar-me dos casamentos nos últimos anos: quem casou com quem; quem é filho de quem; quem é pai de quem. E aproveite para dar beijos na minha tia Gina, na tia Carmélia e no tio Vítor, assim como nos respectivos maridos (meus tios) e na tia Ení. Que meus tios Firmino, Vital e Batista já se foram. São raízes da minha memória. E as esposas deles? E meus primos?
Minhas filhas ajudaram a plantar árvores em Salvador e Assis. Que outras cidades receberão suas sementes? Onde deixarão suas raízes? Um dia, assim como com as muitas árvores que plantei, elas também saberão se arranjar sozinhas. Haverá sol e chuva na quantidade certa e elas crescerão, darão sombra e irão espalhar suas próprias raízes. Um dia, elas serão grandes como o ipê roxo na calçada da casa de Assis.
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.