O ex-vereador Maurício André complicou ainda mais a vida do prefeito Evilásio Farias, no momento em que ele pede socorro à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de SP
Em depoimento lavrado na Delegacia Seccional de Taboão da Serra no dia 16 de agosto, o médico Maurício André, ex-vereador de Taboão da Serra, diante do delegado Raul Godoy Neto e da escrivã Maria Aparecida Saporito Lima, afirmou com todas as letras que o prefeito da cidade, Evilásio Farias (PSB) intercedeu sim, pessoalmente, junto ao advogado Flávio Pinheiro, para defender o ex-secretário Maruzan Corado de Oliveira e mais 6 pessoas, por honorários de R$ 700 mil.
A informação vinha sendo negada veementemente pelo irmão de Maruzan, Evandro Corado de Oliveira, que vem prometendo inclusive processar a Folha de S. Paulo, o jornalista José Luiz Datena, da TV Bandeirantes e os sites ‘Bar & Lanches Taboão’ e ‘O Taboanense’ por terem divulgado e-mails entre o advogado e ele (Evandro), nos quais o nome do prefeito Evilásio aparece como intermediário do negócio, com uso de uma Construtora, a Etama (que tem contratos milionários com a prefeitura) que teria pago os honorários do ex-desembargador do TJ-SP.
Maurício André joga um verdadeiro balde de água fria no prefeito, no momento em que a Câmara acaba de receber um pedido de Impeachment feito por um cidadão ligado à Apeoesp de Taboão, amparado por outras organizações sociais e partidos de esquerda. Segundo o médico em seu depoimento na Seccional, Evilásio intermediou o pagamento do advogado, tendo inclusive se encontrado com ele pelo menos em duas ocasiões, uma delas num restaurante de luxo na região da Avenida Paulista, e outra no próprio gabinete do prefeito. André é ex-aliado do prefeito e já foi médico na ONG Operação Cidadania, organização presidida por Evilásio, além de ter sido presidente da Câmara na gestão passada, quando compunha a base do governo municipal.
O DEPOIMENTO
Maurício André declarou ao delegado que é amigo do advogado Flávio Pinheiro de Toledo desde meados do ano 2000, tendo o conhecido através um amigo comum, de nome Nelson. André afirma que no final de junho de 2011 recebeu uma ligação de Dr. Flávio, que afirmou ter sido procurado por Evandro Corado para contratá-lo para fazer a defesa de seu irmão Maruzan, preso na chamada Operação ‘Cleptocracia’ (‘Estado Governado por Ladrões’).
No dia seguinte, 30 de junho André relata que o prefeito Evilásio, juntamente com Evadro Corado encontraram-se com o advogado Pinheiro no Restaurante Figueira Rubayat (localizado na badalada Rua Haddock Lobo, 1738 – Jd.Paulista, na Capital) e lá chegaram a um acordo para um contrato de trabalho no qual o advogado impetraria um ‘Habeas-Corpus’ em favor de Maruzan e mais 6 pessoas (entre as quais dois ex-secretários e três vereadores).
Maurício afirma que o prefeito Evilásio teria autorizado Evandro a comparecer à construtora ETAMA para retirar R$ 300 mil, primeira parcela devida ao advogado Flávio Pinheiro por seus honorários advocatícios.
CALOTE E REUNIÃO NA PREFEITURA
Passados alguns dias após a soltura dos acusados, Flávio Pinheiro teria procurado Maurício André para que intermediasse um encontro com o Prefeito Evilásio, já que estava insatisfeito pelo fato de não ter recebido sequer um terço dos honorários advocatícios, e até aquele momento teria recebido apenas aproximadamente R$ 70 mil.
Esse encontro do advogado com Evilásio Farias teria ocorrido em 4 de agosto, quinta-feira, na própria sede da prefeitura. Aí Maurício André assume ter recebido eletronicamente com antecedência cópias dos e-mails trocados entre Flávio e Evandro, além de cópia da nota fiscal à Etama, de valor aproximado de R$ 280 mil. Aí se desfaz um mistério: tendo cópias da correspondência e da nota divulgadas pela Folha de S. Paulo no dia 11 de agosto, o médico Maurício André pode ter sido o informante da imprensa neste caso. As evidências já apontavam para ele, mas a mídia regional tratava este problema com cautela.
Ora, para saber se Maurício André ‘subtraiu’ os e-mails do amigo Flávio Pinheiro (versão apresentada no 15º DP do Itaim-Bibi), ou os recebeu ‘eletronicamente’ (como declara agora Maurício André), e se foram fraudados (como afirma Evandro Corado) basta uma simples PERÍCIA nos computadores dos três (Evandro, Flávio e Maurício André). Alô, Seccional! A polícia tem meios técnicos e oportunidade para saber quem está mentindo, quem está dizendo a verdade. Em todo caso, Maurício André apresentou à polícia os documentos alegadamente remetidos a ele pelo advogado Flávio Pinheiro, e ainda disse que se não tivesse autorização do próprio advogado para fazer uso dos mesmos, não o teria feito, afirmando categoricamente que foi o próprio Flávio quem lhe entregou os papéis (e-mails e a nota da Etama).
BRIGA PELOS R$ 700 MIL
Flávio Pinheiro teria dito a Maurício André, que dos R$ 280 mil da nota da Etama sobrariam R$ 210 mil descontados os impostos (carga tributária estranha), os quais seriam divididos em três partes: uma para o próprio advogado, outra para um ‘corretor’ do negócio, de nome Carlos, e uma terceira parte para Evandro Corado. A versão de Maurício André estabelece uma estranha divisão de ‘lucros’, na qual o advogado leva o prejuízo alegado, e coloca Evandro como beneficiário de prováveis R$ 70 mil, que estranhamente lucraria com a soltura do próprio irmão. Este tipo de declaração também precisa ser comprovado pelo denunciante, como por eventuais perícias nas contas pessoais dos envolvidos. Novamente, com a palavra a Seccional, senão fica-se apenas no campo das investigações declaratórias, onde réus e testemunhas trocam acusações sem provas. Como diz um famoso jurista, o testemunho é a ‘prostituta das provas’, querendo dizer que provas técnicas são mais importantes para estabelecer a culpa de um réu, já que não estão expostas às subjetividades humanas.
Da reunião de 4 de agosto no gabinete do prefeito, na qual Maurício André afirma ter participado, ao lado do advogado Pinheiro, o informante alega que Evilásio teria se comprometido a resolver o problema do não pagamento integral dos honorários. O encontro teria durado apenas 5 minutos. Maurício André apenas confirma o que já vinha sendo publicado na imprensa Regional e de SP, de que os honorários do advogado Flávio Pinheiro seriam de R$ 700 mil, sendo R$ 300 mil no ato da contratação e mais R$ 400 mil em até 5 dias após a libertação dos sete acusados. O médico relata ainda que teria havido uma desavença entre o advogado, Evandro e o Prefeito, já que ambos queriam descontar dos honorários um valor aproximado de R$ 190 mil, referentes às fianças de 50 salários mínimos de cada um dos 7 acusados defendidos por Pinheiro, situação com a qual obviamente ele não concordou (a soma da fiança de 7 acusados chega a exatos R$ 190.750,00).
A história apresentada por Maurício André afunda ainda mais a versão de que o prefeito não teria nenhuma relação com o pagamento (ou calote) do advogado dos sete acusados. Com isso, a situação de Evilásio Farias fica ainda mais insustentável.
PEDIDO DE SOCORRO NA ALESP
Enquanto o caldeirão ferve em Taboão da Serra, o prefeito Evilásio Farias, sua vice-prefeita Márcia Regina (PT) e o vereador Valdevan Noventa (PDT) estiveram nesta quarta-feira, 17 de agosto na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo para denunciar uma suposta conspiração para derrubá-lo do cargo e prejudicar sua administração. O prefeito também se queixou formalmente de entrevistas dadas pelo delegado Raul Godoy e pelo investigador Ivan Jerônimo a redes de TV, o expondo diante da população de Taboão da Serra.
Diante do presidente da CDH, Adriano Diogo (PT), e dos deputados Carlos Alberto Bezerra Júnior (PSDB), Enio Tatto (PT), Geraldo Cruz (PT), Gilmaci Santos (PRB), Leci Brandão (PT), Major Olímpio (PDT), Marcos Martins (PT) e Vicente Cândido (PT) o prefeito de Taboão afirmou ter sido ameaçado de morte após a prisão dos acusados de fraudar impostos na cidade.
A vice-prefeita Márcia Regina afirmou que as instituições estariam sendo usadas para intimidar as pessoas, e que “Taboão da Serra está pedindo socorro”. Valdevan Noventa se disse perseguido pela polícia, citando nominalmente o investigador Ivan Jerônimo da Silva. “Se eu dever, quero sair algemado da Câmara”, afirmou emocionado o vereador Noventa. O investigador Ivan Jerônimo já declarou a vários órgãos de imprensa que não persegue ninguém na cidade e apenas cumpre seu papel como policial investigativo.
(Fato Expresso)