A Câmara de Taboão da Serra, numa das sessões mais tensas dos últimos anos, remeteu o pedido de cassação do prefeito Evilásio Farias para a Comissão de Justiça e Redação
Na sessão de terça-feira (23/8) a Câmara de Taboão da Serra adiou a votação do pedido de abertura de processo de Impeachment (cassação) do prefeito da cidade, Evilásio Cavalcante de Farias. Num clima tenso, os partidários do prefeito ensaiaram a primeira reação pública à avalanche de denúncias contra seu governo. Organizados, dezenas de manifestantes respondiam ao coro dos contras, com um “Fica Evilásio”, em resposta ao “Fora Evilásio”, que há meses vem sendo entoado em público por partidos de esquerda e organizações sociais da cidade, e de maneira mais dissimulada por partidários do PSDB, que literalmente querem ver o ‘circo pegar fogo’.
Resistência
Lideranças do PT, PSB, PV e demais partidos aliados decidiram organizar uma resistência política ao que consideram um ‘linchamento político’ do prefeito, que até o momento nem sequer é investigado oficialmente pelas denúncias de corrupção que envolvem seu governo. Desde março a polícia vem desmontando e desvendando um esquema de desvio dos recursos do IPTU e do ISS da cidade, além de baixas indevidas de multas de trânsito na Semutrans. Desabafando em off (anonimamente) à nossa reportagem, um dos partidários do prefeito disse estar magoado com o fato de que nem a polícia, nem a CEI (Comissão de Inquérito da Câmara) estariam interessadas em investigar políticos ligados ao PSDB, que teriam “dado início a essa corrupção em Taboão, ainda no governo do Fernando Fernandes”. Para isso, as investigações teriam de recuar a um período anterior a 2005, já que o PSDB governou a cidade entre 1997 e 2004.
O problema é que diversos colaboradores do governo anterior passaram a integrar o novo governo, até mesmo com cargos de primeiro escalão, ou seja, no limite, ‘exportaram’ algumas de suas práticas para a administração atual, sem que o prefeito Evilásio se desse conta disso, ou no mínimo, teria sido conivente com os desvios ocorridos. Evilásio vem batendo na tecla de que foi ele quem denunciou a corrupção em seu governo e solicitado as investigações, mas é pouco diante do tamanho descontrole encontrado pelas investigações policiais. Tentar ‘politizar’ o processo neste momento, só complica ainda mais a já delicada situação do governo municipal, mas aparentemente é a única saída para o imobilismo.
A Comissão de Justiça e Redação da Câmara de Taboão da Serra, composta pelos vereadores Wagner Eckstein (PT), Alexandre Depieri (PSB) e Olívio Nóbrega (PR), com apoio do departamento jurídico tem agora 15 dias para decidir se o pedido do professor José Afonso da Silva, de abertura do processo de cassação do prefeito tem fundamento e deve ser apreciado pelo plenário, o que nem sequer ocorreu até o momento. Em si, a peça é frágil, já que o denunciante não apresenta provas, apenas acusações genéricas baseadas no que foi publicado pela Imprensa até o momento. As provas mais contundentes estão nos diversos inquéritos abertos pela polícia e pela justiça de Taboão da Serra, com a ressalva de que o prefeito municipal tem foro privilegiado e só pode ser processado pelo Tribunal de Justiça do Estado, processo este já solicitado pela juíza Flávia Castelar ao TJ-SP.
Caso chega à grande imprensa
Impactada pela recente cassação do prefeito de Campinas, Dr. Hélio, a chamada grande mídia ‘acordou’ para a crise em Taboão da Serra. Sempre com citações esporádicas e apenas um grande jornal (Folha de S. Paulo) e um programa da Bandeirantes (do jornalista José Luiz Datena) dando cobertura aos fatos, desta vez compareceram à Câmara representantes das TVs Globo, Record, SBT e Bandeirantes, além de vários veículos da grande mídia impressa.
Todos querem saber se o prefeito de Taboão, Dr. Evilásio Farias terá o mesmo destino de seu colega de Campinas. A exemplo de lá, Taboão também tem uma vice-prefeita do PT que, por enquanto, no caso de Márcia Regina, ainda não é oficialmente investigada, apesar das declarações recentes do investigador chefe Ivan Jerônimo.
Caso Evilásio seja cassado ou afastado, as apostas na cidade são de que Márcia Regina, uma vez no cargo de prefeita, passe a ser também bombardeada por processos. Recentemente, o vereador Paulo Félix (PSDB), que já foi até líder do prefeito na Câmara, andou chamando o presidente da casa, vereador Macário, de ‘meu prefeito’, sinalizando que, num eventual afastamento de Evilásio e Márcia, é o líder do Poder Legislativo quem assume o governo municipal, por ser terceiro na linha sucessória. Pura provocação, já que nos planos de Félix estão as eleições de 2012, com o ex-prefeito Fernando Fernandes à frente.
Guerra até na Wikipédia
A Wikipédia, a Enciclopédia Livre da Internet já foi ‘contaminada’ pelo clima de guerra em Taboão da Serra. Num link sobre prefeitos de Taboão na história aparece o texto, ao lado do nome do atual prefeito Evilásio Cavalcante Farias: “1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012 : (Prefeito está cassado e atuando sobe (sic) Liminar. O processo ainda está acontecendo e poderá ser julgado até março e abril de 2009. Caso a justiça reafirme a cassação, haverá novas eleições municipais ainda em 2009.)”. Mais adiante, a frase solta: “evilasio ladrão”. As informações falsas estão disponíveis no link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_prefeitos_de_Tabo%C3%A3o_da_Serra
(Márcio Amêndola e Alexandre Oliveira – Fato Expresso)
Veja algumas imagens da Sessão suspensa na noite de terça-feira, 23
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