A Copa do Mundo pertence à Fifa, a Blatter e Ricardo Teixeira, acima da soberania nacional, acima de tudo e de todos. Governo brasileiro tenta influenciar regras e até garantir direito de imprensa na cobertura do evento
A presidenta Dilma Rousseff enfrenta neste momento um embate com os organizadores da Copa do Mundo de Futebol de 2014, a ser realizada no Brasil. O governo federal acaba de enviar, na segunda-feira (19/9) ao Congresso a Lei Geral da Copa, que deve ser votada até o início de 2012 com as regras estabelecidas para o Mundial da Fifa, também organizado pela CBF. O problema é que a entidade internacional do futebol, associada à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) apresentaram exigências absurdas e exageradas, no entendimento do governo brasileiro.
Presidida pelo cartola Joseph Blatter, a Fifa começou a mostrar suas ‘garras’ no sorteio das chaves da Copa, realizado no Rio de Janeiro em agosto passado. Foi montado um verdadeiro ‘circo’ com custos de aproximadamente R$ 30 milhões, em associação com a Rede Globo de Televisão, que ficou com a maior e melhor parte do evento, fruto do ‘bom relacionamento’ do presidente da CBF, o polêmico Ricardo Teixeira com a Globo. Só para se ter uma ideia, a festa de sorteio das chaves da última Copa, na África do Sul, custou o equivalente a R$ 2 milhões, ou seja, 15 vezes mais barato.
Na data do sorteio outra decepção para o governo Dilma. O credenciamento dos jornalistas que poderiam acompanhar o evento foi exclusivo da Fifa/CBF/Globo, e não dos governos do Rio ou Federal. Muitos jornalistas, inclusive das redes de televisão Record e SBT sequer conseguiram credenciais para a festa, vetadas pelo COL (Comitê Organizador Local), mesmo com tentativas de interferência dos governos local e nacional. O COL alegou que não podia ‘quebrar’ o contrato de exclusividade da Rede Globo de televisão, nem com a Geo-Eventos, ligada de forma societária à própria Globo. Esta situação teria deixado a presidenta extremamente irritada, além de ter de posar para fotos ao lado de Blatter e Teixeira, com Pelé a tiracolo.
LEI DA COPA: ATRITOS
A presidenta Dilma, após os atritos de agosto, bem como pedidos descabidos da Fifa sobre registros de marcas e controle total de venda de ingressos, inclusive com exigência de suspensão das leis de ingressos mais baratos para estudantes e idosos, decidiu enviar ao Congresso Nacional uma proposta de Lei da Copa com itens que tentam preservar a soberania nacional durante o certame de 2014. Dirigentes da Fifa chegaram a afirmar abertamente que Dilma Rousseff teria tido uma postura ‘arrogante’ em relação à entidade, mas membros do Ministério dos Esportes dizem o contrário, e que foi o governo brasileiro que ficou ‘perplexo’ diante dos absurdos propostos pela Fifa.
Outro ponto de atrito é a falta de contato de Dilma com Ricardo Teixeira, acusado de corrupção e afastado dos eventos oficiais do governo, mesmo na área dos esportes. Dilma quer distância do cartola e deixou isso claro ao nomear o rei Pelé para embaixador da Copa, um desafeto antigo de Teixeira.
A Lei Geral da Copa traz três pontos de conflito entre as partes: a questão das marcas, as regras sobre a venda de ingressos, e os direitos de transmissão pela TV. Por causa da resistência do governo brasileiro, a Fifa ameaça até não realizar o mundial no Brasil. Por exemplo, a meia-entrada para idosos nos jogo da competição deve ser mantida porque existe uma lei federal que regulamenta esse direito, disse o ministro dos Esportes, Orlando Silva. Ele está em Nova York acompanhando a comitiva da presidenta Dilma Rousseff na 66ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Silva disse que no caso de outros grupos da população, como estudantes, o benefício é regulamentado por leis estaduais. Porém, mesmo que o governo consiga garantir meia entrada para idosos e estudantes, quem determina o preço dos ingressos é a Fifa, e eles serão muito ‘salgados’ para o padrão brasileiro.
Pela Lei Geral da Copa, a Fifa terá direito de registrar marcas em apenas 30 dias (no Brasil isso leva 2 anos) e não precisará pagar nada pelos registros, privilégio não concedido às empresas brasileiras. Mas a Fifa queria mais: ela exigia o registro de mais de 1.000 nomes, para os quais todo mundo teria de pagar, até pelo uso da expressão ‘2014’ ou os nomes das cidades-sede, tipo ‘Salvador’, ‘Rio de Janeiro’ ou ‘São Paulo’, absurdos com os quais o governo brasileiro não concorda.
Quanto aos direitos de transmissão da Copa pelas redes de TV, a Globo continuam com a exclusividade na transmissão dos jogos, mas as outras redes (Record, SBT, Band, Rede TV, etc) poderão exibir trechos dos jogos nos seus noticiários, além de fazer reportagens livremente. A Fifa queria exclusividade total para a Globo, inclusive proibindo as outras redes de realizarem coberturas jornalísticas ou mostrar quaisquer imagens do Mundial, mesmo que parciais. Além disso, a Fifa queria ter a exclusividade sobre a distribuição de credenciais aos jornalistas, o que obviamente excluiria todos os desafetos da Rede Globo, com o que o governo brasileiro não concorda, até pela garantia Constitucional da livre manifestação do pensamento e do direito de imprensa no território nacional.
(Fato Expresso, com Agência Brasil)