Convênios pagam pouco por consultas e revoltam médicos que atendem pacientes em todo o País
Brasília – Seis meses após a primeira paralisação, os médicos voltaram a suspender na quarta-feira (21/9) o atendimento aos beneficiários de planos de saúde. Os profissionais deixaram de atender consultas de operadoras em 23 estados e no Distrito Federal. A paralisação durou 24 horas e, nesse período, o atendimento às urgências e emergências foi mantido. Os clientes afetados podem remarcar as consultas.
Em abril deste ano, os médicos fizeram o primeiro boicote às operadoras, quando interromperam por um dia o atendimento a clientes de todos os planos. Desta vez, os planos que não negociaram ou não apresentaram propostas suficientes para atender às reivindicações da categoria são o alvo do protesto.
Os médicos querem o aumento imediato dos honorários, reajuste fixo anual da remuneração e o fim da interferência das empresas em sua autonomia. As associações médicas defendem o valor de R$ 60 por consulta. De acordo com elas, os planos pagam, em média, R$ 40. Segundo a categoria, as mensalidades dos planos foram reajustadas em 150% nos últimos anos. No entanto, as operadoras destinam menos de 20% da arrecadação para a remuneração dos profissionais. “O recurso da saúde suplementar que vai para o médico caiu quase pela metade”, disse o presidente eleito da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso.
Em relação à interferência no trabalho, as entidades alegam que as empresas recusam determinados exames e chegam a mudar procedimentos. “Tentam, por exemplo, reduzir a permanência do paciente na UTI [unidade de terapia intensiva]. Evidentemente, todas as vezes que isso acontece há um conflito enorme”, explicou Cid Carvalhaes, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam).
Os profissionais cobram posicionamento e articulação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável por regular o setor, para solucionar as divergências entre a categoria e os planos. “O que está colocado em jogo é a assistência a 46 milhões de usuários. O governo tem responsabilidade. Estamos chamando a ANS para a responsabilidade”, disse Aloísio Tibiriça, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Os médicos pararam o atendimento a, pelo menos, 23 planos de saúde. A estimativa é que os planos afetados tenham de 25 milhões a 35 milhões de usuários, cerca de 76% do total de clientes em todo o país. As negociações com as operadoras foram feitas pelos representantes de cada estado. Por isso, cada unidade da Federação definiu sua própria lista com os planos que serão afetados.
Em nove estados, foi suspenso o atendimento a todas as operadoras – no Ceará, Espírito Santo, Maranhão, em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, no Paraná, Rio de Janeiro e Tocantins. A lista dos planos que foram alvo da paralisação está disponível no site do CFM, no endereço eletrônico www.cfm.org.br.
Em São Paulo, grande adesão
Médicos do Estado de São Paulo também suspenderam o atendimento a pacientes conveniados de 11 planos de saúde. A mobilização – organizada pela Associação Paulista de Medicina (APM), pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) – teve início em abril, quando houve a primeira interrupção nacional nos atendimentos. À época, a adesão chegou a 80% dos profissionais paulistas, segundo o Simesp. Desde então, os médicos tem paralisado, de maneira escalonada por especialidades, as consultas e os procedimentos pelos planos de saúde. O rodízio atingiu cinco operadoras. Na ação de hoje, a suspensão se estende a 11 planos e a previsão da organização é que a adesão atinja 80% da categoria.
“Essa medida é mais uma advertência às empresas que não negociaram, ou que o fizeram de forma insatisfatória. Baseados nos avanços de negociações obtidos, serão traçados os novos rumos do movimento”, explicou Cid Carvalhaes, presidente do Simesp. Segundo ele, o aumento do número de empresas atingidas em relação ao do período de rodízio se deve ao não cumprimento por parte das operadores dos prazos de negociação.
Os médicos paulistas não atenderam os seguintes planos de saúde: Ameplan, Golden Cross, Green Line, Intermédica, Notre Dame, Prosaúde, Blue Life, Dix Amico, Medial, Geap e Volkswagen. Foram interrompidos apenas os atendimentos de consultas e procedimentos eletivos. Atendimentos de urgência estão mantidos.
(AGÊNCIA BRASIL)