Pais de estudantes da USP e Juízes criticam ação policial na reintegração de posse da reitoria. Tropa de Choque usou 400 homens, mais de 5 para cada estudante detido
São Paulo – Os pais dos alunos da Universidade de São Paulo (USP) criticaram a prisão dos filhos deles, ocorrida na manhã de terça-feira (8) após a operação policial de reintegração de posse do prédio da Reitoria, que estava sendo ocupado por estudantes desde a semana passada. Eles não quiseram se identificar para não prejudicar os filhos e deram entrevistas do lado de fora da 91ª Delegacia de Polícia, localizada na zona oeste de São Paulo, onde aguardavam a liberação dos 70 jovens detidos na operação policial.
Em cerca de duas horas, a PM cumpriu a ordem judicial de reintegração de posse do prédio da universidade. Pela manhã de terça-feira, as chaves da reitoria foram entregues a um oficial de Justiça pelo comando da polícia. A operação começou por volta das 5h20 da madrugada envolvendo aproximadamente 400 policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, um contingente exagerado, mais de 5 policiais por estudante detido.
Os estudantes foram transportados em três ônibus da Polícia Militar (PM), e ouvidos um a um num inquérito aberto pela Polícia Civil. Depois foram levados ao IML (Instituto Médico Legal) para exame de corpo de delito. Dos 70 presos, 63 foram detidos dentro da reitoria – são 43 homens e 20 mulheres. Do grupo, sete alunos foram detidos por depredarem uma viatura da PM, na parte de fora do prédio da reitoria, segundo alega a polícia.
Os pais disseram que os filhos não são bandidos e que estavam apenas defendendo uma gestão democrática na USP. Em uma folha de papel que foi depois copiada pela imprensa, os pais escreveram uma carta à mão em que criticam a operação policial de reintegração de posse. “Nós, pais de alunos da USP, repudiamos o modo como foi conduzido pela reitoria o processo envolvendo o movimento dos estudantes. Repudiamos a ação repressiva e truculenta das forças policiais no campus da universidade nessa madrugada de terça-feira. Estamos indignados com o fato de que uma instituição educativa utiliza como principal instrumento de solução de conflito social o uso da força policial. Nossos filhos são estudantes e não bandidos e estão em defesa de uma universidade onde existam debates democráticos”, diz o texto.
Força excessiva e maus tratos
O diretor do sindicato dos trabalhadores da USP, Domênico Colacicco, disse que os estudantes estavam presos sem água, não podendo ir ao banheiro nem tinham autorização para se comunicarem externamente. De acordo com eles, os aparelhos celulares dos alunos foram retirados. “Isso é um absurdo”, resumiu.
Para juiz, a invasão da PM na Reitoria da USP teve força desproporcional. A jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual conversou com o juiz José Henrique Rodrigues Torres, presidente do Conselho Executivo da Associação Juízes para a Democracia, que considerou excessivo o uso da força pela PM, desproporcional até pelo número de alunos que ocupavam o local no momento da reintegração. Além dos escudos, uniformes especiais, cacetetes, os policiais portavam armas de fogo, entre as quais uma submetralhadora durante a ação de desocupação. Normalmente, em situações como estas, o uso de armas letais não é recomendado, sendo substituído por outros equipamentos, como sprays de pimenta, bombas de efeito moral e espingardas com munição de borracha.
Os alunos detidos emitiram um comunicado no qual informam que as 24 meninas que participavam da ocupação da Reitoria da USP foram levadas a uma sala na qual ficaram sozinhas com policiais masculinos armados. “Levaram uma das estudantes para a sala ao lado, que gritou durante trinta minutos, levando-nos ao desespero ao ouvir gritos como o das torturas que ainda seguem impunes em nosso país. Tudo isso demonstra o verdadeiro caráter e o papel do convênio entre a USP e a polícia militar”, acrescenta a nota.
A ocupação teve início como protesto pelo convênio firmado em setembro entre o atual reitor, João Grandino Rodas, e a Polícia Militar, que antes só atuava no campus se chamada pela direção universitária. Nos últimos meses, queixam-se os estudantes, foram realizados vários “enquadros” por motivo banal ou por desconfiança dos policiais. Há menos de um mês, três rapazes foram detidos pelos policiais quando fumavam um cigarro de maconha, o que desencadeou manifestações que passaram a ser reprimidas com o uso de gás lacrimogêneo e bombas ditas de efeito moral e que, por fim, levaram à ocupação.
“O ambiente universitário não é um território livre e não deve ser espaço para alunos fazerem uso de maconha, mas a abordagem para problemas dessa natureza está longe de ser a adequada”, defendeu o professor Vladimir Safatle, do curso de filosofia, em artigo publicado na página do Diretório Central dos Estudantes (DCE). “Mais uma vez, a PM demonstra sua total inaptidão para mediar conflitos sociais e manifestações estudantis.”
Matriz Fascista
O jurista Walter Fanganiello Maierovitch, colunista da revista Carta Capital e da página Terra Magazine, tem a mesma visão. Em texto, ele indica a existência de uma “matriz fascista” na política de segurança do governo de São Paulo e que convém, em um “mundo civilizado”, deixar a polícia fora dos campi universitários. “O policial que manda ou sai para reprimir usuários de maconha, por evidente, não tem noção mínima de prioridades e do que seja garantir a tranquilidade social”, afirmou Maierovitch.
Os estudantes estavam acampados no prédio principal da reitoria da USP desde o dia 1º, em protesto pela presença de policiais no campus, após um acordo do Reitor João Grandino Rodas com o comando da PM e a Secretaria de Segurança Pública com a justificativa de melhorar a segurança no local. Os alunos repudiaram a presença da PM no Campus, fato que não ocorre desde os tempos da ditadura militar (1964-85).
Rodas, professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, chegou ao cargo máximo da USP em escolha indireta, como todos os antecessores. À diferença dos antecessores, porém, foi o terceiro mais votado na lista tríplice escolhida majoritariamente pelos docentes de alta hierarquia. A decisão do então governador José Serra contrariou uma convenção estabelecida pouco após o fim da ditadura como forma de preservar, ainda que parcialmente, a autonomia universitária.
Em sua gestão, tomou outras atitudes polêmicas, como a transformação física da Cidade Universitária, a suspensão e a demissão de funcionários sem justa causa, o incentivo aos cursos pagos dentro da universidade e a colocação de uma placa na qual sinalizava a construção de um monumento em homenagem a vítimas da “Revolução” de 1964, também conhecida como ditadura. Ao firmar o convênio com a polícia, o reitor afirmou que “muita gente” se aproveitava da ausência da corporação para cometer “atividade criminosa”. “Pode reivindicar a saída da PM do campus para poder praticar crimes. Pela legislação, repito, maconha é crime”, disse.
Também do lado de fora da delegacia, o estudante de Geografia João Victor Pavesi de Oliveira, diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE), criticou a operação policial. “A interpretação da entidade é que não havia necessidade para isso. A negociação estava aberta. Tem uma rodada de conversa com a reitoria na quarta (9) e a gente não vê o porquê de tudo isso. Não tem porque utilizar um número tão grande do efetivo policial para retirar uma ocupação pacífica”, acrescentou o estudante.
Cerca de 150 estudantes da Universidade de São Paulo (USP) e muitos pais de alunos permaneceram à frente do 91ª Delegacia de Polícia, na Vila Leopoldina, zona oeste da capital paulista, aguardando a saída dos colegas. Para cada aluno liberado da prisão, os alunos gritavam: “Greve Geral, Abaixo a Repressão”.
Os universitários detidos tiveram de pagar R$ 1.050 de fiança cada um para serem liberados. Todos foram presos em flagrante e serão indiciados por crimes de desobediência, dano ao patrimônio público e crime ambiental.
GREVE
Em assembleia realizada na noite de terça-feira (8) com 2 mil participantes, os estudantes da USP decidiram por uma greve geral por tempo indeterminado, contra a repressão e pela saída da Polícia Militar do campus do Butantã, entre outras reivindicações. A Adusp (Associação dos Docentes) e o Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores) devem realizar assembleias para definir se também aderem à greve.
(Fato Expresso, com informações da Agência Brasil e Rede Brasil Atual)
VEJA O VÍDEO DO MOMENTO DA DESOCUPAÇÃO DA REITORIA PELA TROPA DE CHOQUE
Antônio Ricardo Miranda Júnior
Oi Neto, tudo bem? De modo geral, gosto muito de seus posts. E admiro seu posicionamento firme sobre muitos assuntos. Concordo numa boa parte e discordo em algumas. Sobre esse, em especial, estou procurando me posicionar, mas ainda não consegui. Minha opinião ainda está oscilante. Ouço uns, ouço outros, mas nada me convence. Você pode me ajudar? Pegunto: Qual o problema da PM fazer ronda no campus? Isso não é um ranço de um período há muito superado (ditadura)? Você acredita que os estudantes detidos são presos políticos mesmo? Minhas indagações são genuínas e não se tratam de provocação ou apurrinhação. Gostaria de formar minha própria opinião – livre e crítica. Se puder ajudar, agradeço.
merkredo, je 1:00ptm · Neŝati · 1
José Sales Neto
É por isso Ricardo que admiro seu trabalho e sua postura como ser humano. Acho fantástico oque a PM está fazendo no centro de SP e nas regiões mais comerciais dos bairros, quero que a PM tenho cada vez mais treinamento adequado, salários melhores e mas integrada a comunidade. Porém a PM não é uma polícia preparada para lidar com estudantes, o conflito é eminente além de ser uma brecha para repressão e tirar a autonomia universitária. Minha posição não está atrelada a nenhuma partido ou movimento, mas sim como cidadão e estudante. Obrigado pelo elogio e sei que todos nos somos sujeitos a erros, quando discordar fique a vontade para me esclarecer. Você é advogado e sabe que o juramento é lutar pela justiça e não somente aplicar a Lei. A forma de manifestação pode ter sido agressiva mas os estudantes não tiveram muita opção e estão sendo tachados de maconheiros desocupados e vândalos, por isso tb a revolta contra alguns jornalistas. Sou a favor de um policiamento específico para a universidade controlado por professores alunos. Se querem resolver boa parte do problema da segurança do Campus basta urbanizar a favela São Remo, que pela diferença social e de oportunidades é a grande causa de vários crimes no campus.
merkredo, je 1:21ptm · Ŝati · 1
José Sales Neto
Sim, os estudantes da USP são presos políticos e estão sendo bombardeados pela mídia atrelada da mesma forma que na ditadura militar quando eram chamados de terroristas, agora são chamados de maconheiros desocupados. Mas fico orgulhoso de saber que estão tão politizados mesmo discordando de algumas atitudes.
merkredo, je 1:27ptm · Ŝati
Elis R. Oliveira
Mas Neto, legal a sua postura, respeito, mas só me diz uma coisa: a manifestação é para a polícia deixar eles usarem droga à vontade ou não? Se for por isso, concorda que se o país ainda não descriminalizou esta droga, eles estão errados? No que eles são diferentes do restante da sociedade? Se eu estiver errada, por favor conteste. Um abraço.
merkredo, je 2:25ptm · Ŝati
José Sales Neto
Claro que não, sou radicalmente contra o tráfico de dogras e acho que para isso existe a polícia federal que está mais qualificada para investigar e prender traficantes no Campus. O problema da PM na USP para mim é semelhante de ter um PM em cada emissora de rádio, TV, ou jornal. A segurança na universidade deve ser feita por uma polícia diferenciada e preparada. A PM já está parando alunos pelo modo de vestir, pela maneira de se expressar…daqui a pouco estão prendendo professor por defender uma idéia ou a maneira de dar aula.
merkredo, je 2:29ptm · Ŝati
Antônio Ricardo Miranda Júnior
Neto, muito obrigado pelas palavras e pelo esclarecimento. Li, reli e lerei novamente. Irei refletir e tenho certeza irá ajudar na minha tomada de posição. Um forte abraço.
merkredo, je 2:56ptm · Neŝati · 1
José Sales Neto http://www.facebook.com/notes/shayene-metri/desabafo-de-quem-tava-l%C3%A1-reintegra%C3%A7%C3%A3o-de-posse/233831886679892
Desabafo de quem tava lá [Reintegração de Posse]
Cheguei na USP às 3h da manhã, com um amigo da sala. Ia começar o nosso ‘plantã…Vidi pli
De: Shayene Metri
merkredo, je 2:58ptm · Ŝati · 1 ·
Antônio Ricardo Miranda Júnior
Sim, a Justiça sobrepõe-se a lei. Só temos que tomar cuidado com a “quebra” da lei para aplicar a Justiça, pois tratando-se de um conceito aberto e interpretativo, corremos o risco da “justiça” alheia sobrepor-se à nossa (Os regimes totalitários de todos os espectros sempre carregam a bandeira da Justiça). A lei, com todas as imperfeições, tem a qualidade de trazer segurança ao sistema (estabilidade). E, se a lei foi produzida por um regime democrático, há legitimidade para aplicá-la.
merkredo, je 3:00ptm · Ŝati
José Sales Neto
Concordo Ricardo, mas se não fosse essa quebra é muito provável que isso levaria a mais uma marcha por qualquer coisa esquecida na mídia. Nada é por acaso, e acompanhei a presença da PM desde o começo. Tentei relatar para minha filha o quanto me incomodou a presença deles naquele momento comparando como o momento histórico do qual enfrentei no militarismo. Como estudioso de Sociologia previa um desfecho ruim para a liberdade de pesquisa e autonomia universitária. Vários caminhos foram tentados, não concordo com alguns deles, mas esses estudantes tiveram a coragem de fazer um grande ato político e acredito que a juventude precisa ter mais comprometimento com a política (não a politicagem) e com a sociedade.
merkredo, je 3:31ptm · Neŝati · 3
Puta merda! Os caras fumando maconha dentro de uma Universidade, paga com dinheiro público, movimentando a máquina do tráfico de drogas no país, e esse monte de idiotas defendendo esses moleques, marginais mimados! O fato de estarem frequentando um curso em uma universidade não lhes dá o direito de ir ao encontro das leis, fumar maconha e ainda, não é garantia de idoneidade. Falar que “meu filho não é bandido, é estudante” é uma hipocrisia. É bandido sim! Quem compra maconha movimenta o tráfico de drogas e colabora para as desgraças que assolam o nosso país. No lugar de dar cotas em universidade, bolsas, o governo deveria era excluir esse bando de maconheiros que quer usar o Campus pra se drogar e ceder as vagas pra quem realmente que estudar….Ahh exagerado 400 policiais!? Por que este juiz não foi lá e resolveu o problema? É fácil assinar um papel de reintegração de posse por de trás de uma mesa para os outros cumprirem….queria ver um juiz na linha de frente de uma reintegração de posse!