Bandeira do Brasil na Rocinha marca “recuperação do território pelo Estado”
Uma bandeira do Brasil foi hasteada no alto da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, no início da tarde de domingo (13). A cerimônia simbólica marca a “recuperação do território pelo Estado”, segundo definiu o capitão de mar e guerra Jonatas Magalhães, que participou da Operação Choque de Paz, deflagrada em comunidades da região, que levou à prisão vários traficantes, entre os quais o mais perigoso, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, além de dezenas de armas, milhares de munições e centenas de quilos de drogas.
A ocupação incluiu ainda o Vidigal e a Chácara do Céu. As três favelas devem receber, em breve, a 19ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Estado. A data para a implantação não foi anunciada. A solenidade teve ares de improviso, relatam agências de notícia. Cerca de mil moradores estiveram no local, e gritaram “Rocinha, Rocinha, Rocinha” enquanto a bandeira era erguida.
Antes da cerimônia, o governador Sérgio Cabral disse, em entrevista coletiva, que os 100 mil moradores na Rocinha e quase 20 mil moradores do Vidigal “são pessoas que precisavam de paz”. Ele lembrou que, pela localização das comunidades, na zona sul, região nobre do Rio, elas abrigam “garçons, cabeleireiras, manicures, porteiros, mecânicos, enfermeiros, empregadas domésticas, profissionais com nível superior” e trabalham em estabelecimentos de comércio e serviços. “São pessoas que querem viver com dignidade, com acesso à uma vida digna e qualquer acesso a esta vida passa por paz.”
A Operação Choque de Paz conta com cerca de 3 mil homens da Marinha Brasileira, dos batalhões de Choque e de Operações Especiais (Bope) da PM, além de policiais civis e federais. A ação foi iniciada na madrugada de domingo, com o bloqueio de vias de acesso à região, e considerada completa às 7h30, quando veículos blindados da Marinha deixaram o local. Nenhum confronto ou incidente violento foi registrado, segundo a polícia. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, nenhum tiro chegou a ser disparado.
As UPPs são a ferramenta de maior visibilidade da administração estadual em relação à segurança pública em comunidades pobres e no combate ao tráfico de drogas e às milícias – grupos paramilitares formados por policiais e ex-policiais que agem de modo análogo aos narcotraficantes no controle do território, embora nem sempre operem a venda de entorpecentes.
Sérgio Cabral conversou, logo depois do anúncio de que a ocupação estava concluída, com a presidenta Dilma Rousseff. O telefonema de 30 minutos, segundo a assessoria de imprensa do governador, foi para agradecer o apoio do governo federal. Cabral conversou também com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
‘Nem’ depõe por seis horas
Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, traficante mais perigoso do Rio de Janeiro, preso ao ser descoberto no porta-malas de um carro, tentando fugir da favela na semana passada, prestou depoimento por mais de 6 horas na sede da Corregedoria Geral Unificada da Polícia no Rio de Janeiro, onde é investigada a participação de policiais no esquema de corrupção que dava cobertura ao tráfico de drogas nos morros do Vidigal e da Rocinha, onde segundo estimativas, os traficantes movimentavam mais de R$ 10 milhões mensais.
O traficante ‘Nem’ foi ouvido na segunda-feira (14) e o teor de suas declarações não foi divulgado oficialmente. Sabe-se que o traficante pagava para evitar operações policiais, para ser avisado com antecedência em caso de operações inevitáveis, e ainda mantinha uma folha de pagamento para receber segurança pessoal por parte de policiais corruptos e ex-policiais. A compra de armas pesadas por traficantes, vindas diretamente das forças de segurança (polícias e até do exército) ou contrabandeadas do Exterior com a ‘vista grossa’ de autoridades também é objeto das investigações.
‘Nem’ teria detalhado em seu depoimento várias situações de extorsão policial, e até teria se queixado de que por duas vezes o caixa mensal do tráfico teria dado prejuízos por conta do excesso de propinas exigidas por policiais corruptos, que teriam se tornado verdadeiros ‘sócios’ do crime. O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame afirmou que irá investigar qualquer denúncia ou informação que leve à identificação e prisão de policiais corruptos ou que tenham praticado desvios de conduta.
Além do traficante Antonio Bonfim ‘Nem’, cerca de 10 outros criminosos, entre traficantes, policiais civis e militares foram levados para o Complexo Penitenciário de Bangu, onde aguardam para depor. A expectativa é que os mais perigosos, como ‘Nem’ sejam levados para outros Estados, a milhares de quilômetros do Rio de Janeiro (provavelmente em prisões Federais no Norte do País), na tentativa de desarticular o comando do crime.
Armas pesadas e munições
A polícia prossegue as buscas por armamentos na região da Rocinha, no Rio de Janeiro, em um trabalho de investigação que também conta com a colaboração dos próprios moradores. Até a manhã do feriado (15/11), haviam sido localizadas 87 armas e cerca de 20.500 munições de diversos calibres. Também foram encontrados armamentos pesados como bazucas com capacidade de destruir até veículos blindados.
Uma equipe do Batalhão de Operações Especiais (Bope) localizou, dentro de uma casa, em uma localidade conhecida como Roupa Suja, no alto da Rocinha, nove fuzis e uma carabina, todos limpos e lubrificados, prontos para o uso. De acordo com os policiais, provavelmente, os criminosos foram surpreendidos pelo cerco e fugiram às pressas, sem tempo de levar o armamento.
Segundo balanço parcial, também foram apreendidos 56 granadas, 61 bombas caseiras, 20 rojões antiblindados e 350 carregadores diversos. A quantidade de droga encontrada chega a 315 quilos (kg), incluindo 135 kg de cocaína, 120 kg de maconha e 60 kg de pasta-base de cocaína.
(Rede Brasil Atual, com informações da Agência Brasil e complementação de Fato Expresso)