Levantamento do Dieese e do Seade na região metropolitana de São Paulo mostra taxa de desemprego maior e rendimento menor
São Paulo – Estudo divulgado nesta quinta-feira (17) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), de São Paulo, confirmam que prosseguem as diferenças históricas desfavoráveis aos negros no mercado de trabalho. Na região metropolitana de São Paulo, universo da pesquisa, a taxa de desemprego dos negros é maior que a dos não negros (brancos e amarelos) e o rendimento é menor.
A inserção dos trabalhadores negros é proporcionalmente maior na construção civil e no emprego doméstico, setores “em que predominam postos de trabalho com menores exigências de qualificação profissional, menores remunerações e relações de trabalho mais precárias e, por tudo isso, menos valorizados socialmente”, dizem os técnicos. Os negros representam um terço da população economicamente ativa. O levantamento foi divulgado em referência ao Dia Nacional da Consciência Negra, que se celebra no próximo domingo (20).
“No caso específico da construção civil, a retomada de investimentos na infraestrutura e na construção de novas edificações nos últimos anos, permite identificar aumentos da proporção do assalariamento privado com carteira assinada e dos rendimentos médios que, se mantidos, podem alterar em alguma medida as características dos postos de trabalho desse segmento de atividade”, afirma o estudo. Em relação ao trabalho doméstico, Dieese e Seade lembram que o serviço é normalmente feito por “mulheres negras, com idade mais avançada e baixo nível de escolaridade”.
De acordo com o levantamento, a taxa média de desemprego dos negros em 2010 foi de 14%, ante 10,9% dos não negros. O Dieese e o Seade informam que essa diferença vem diminuindo nos últimos anos. Do total de ocupados, 7,4% eram trabalhadores domésticos, mas essa proporção sobe para 10,8% entre os negros e cai para 5,7% entre os demais grupos. A proporção de negros também é maior na construção civil (8,8% do total de ocupados negros, ante 5% entre os demais).
No grupo “demais posições”, que contempla empregadores, profissionais universitários autônomos e donos de negócios familiares, entre outros, a proporção de não negros é bem maior que a de negros: 9% e 3,9%, respectivamente. “Neste último caso, dispor de riqueza acumulada que permita montar um negócio ou possuir nível superior de escolaridade provavelmente são os fatores que explicam a exclusão de grande parte dos negros. Estão, portanto, muito mais associados à persistência de elementos históricos que explicam a desigualdade presente do que a comportamentos discriminatórios. Explicação semelhante pode ser adotada para a sobrerrepresentação”, sustenta o estudo.
Mas os números também mostram alguma redução de diferenças na inserção dos assalariados no mercado. Proporcionalmente, os ocupados negros estavam mais representados em relação aos empregos com carteira (50,9%, ante 50% dos não negros). Já a proporção de assalariados negros sem carteira era de 11,7%, ante 11% dos não negros.
Entre os autônomos, a proporção é próxima (16,5% para negros e 15,9% para não negros). Mas a diferença sobe no serviço público: 8,4% dos ocupados não negros estão no serviços público, ante 6,2% dos ocupados negros. “A explicação para essa diferença possivelmente tem origem no fato de mais da metade dos assalariados públicos possuir grau de escolaridade superior. Essas características, associadas ao fato de que atualmente o ingresso no setor público se dá principalmente por meio de concursos, permitem inferir que a sub-representação de negros nesse setor deve-se muito mais a suas históricas dificuldades de acesso aos níveis mais elevados de ensino do que a eventuais ações discriminatórias de que possam ser vítimas.”
De acordo com o estudo, o rendimento médio por hora (R$ 8,30, na média geral) era de R$ 9,62 para os não negros e R$ 5,81 para os negros. As diferenças se revelam também no corte por gênero: homens não negros recebiam em média R$ 10,8, ante R$ 6,4 dos negros, enquanto mulheres não negras ganhavam R$ 8,1, ante R$ 5,09 das trabalhadoras negras.
“As razões mais evidentes dessa desigualdade, em que o rendimento médio por hora de negros (R$ 5,81) representa 60,4% do rendimento dos não negros (R$ 9,62), residem nas diferentes estruturas ocupacionais em que esses segmentos estão inseridos”, diz o texto. “As maiores desigualdades de rendimentos por raça/cor são verificadas nos setores em que a proporção de não negros supera a de negros e os rendimentos médios são mais elevados.” Na indústria, por exemplo, os negros recebem 58,9% dos rendimentos dos não negros. Essa proporção vai a 59% nos serviços, 66,4% no comércio, 70,7% na construção civil e 99,3% no trabalho doméstico.
(Por: Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual)