Abertura contou com debate no Centro Cultural Mestre Assis, onde ex-presos políticos contaram suas experiências
No último dia 3 de dezembro Embu das Artes inaugurou uma importante exposição fotográfica, instalada no Centro Cultural Mestre Assis de Embu, “Direito à memória e a verdade – Ditadura no Brasil – 1964-1985”. A mostra é fruto de uma parceria da Secretaria de Diretos Humanos da Presidência da República com a Secretaria de Cultura de Embu das Artes.
Antes de conferir o material fotográfico, o público presente foi agraciado por declamação de poesias, músicas, e principalmente tocado pelos fortes relatos de quem viveu esse período que manchou de sangue a história do Brasil.
A mesa de debates contou com a presença de Paulo Oliveira, secretário municipal da cultura, de Márcio Amêndola de Oliveira, historiador embuense e coordenador de documentação e apoio às lutas populares do Instituto Zequinha Barreto; Antonio Campoamor do Nascimento, ex-militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN); Luiz Carlos Fabri, da Comissão de Paz da Arquidiocese de São Paulo; Carlos Gilberto Pereira, do Grupo Tortura Nunca Mais; Stanislaw Szermeta, coordenador geral do Instituto Zequinha Barreto; e da coordenadora da Atenção à Saúde do Município, Laudelina Maria Carneiro, ex-militante de esquerda e presa política durante a ditadura.
Em seus pronunciamentos, os convidados do debate alertaram para a importância da criação da Comissão Nacional da Verdade para esclarecer violações dos direitos humanos ocorridos de 1946 a 1988, que inclui o período da Ditadura Militar no Brasil. “A ideia de punir quem pensava diferente foi inaceitável”, disse Márcio Amêndola, referindo-se ao fato de que muitos brasileiros foram presos por crimes de opinião.
Acima de tudo, eles reafirmaram a necessidade de punir os torturadores, já que o crime de tortura é imprescritível. “É preciso recursos, documentos e dinheiro para punir os culpados! Nossas famílias foram presas, humilhadas e torturadas. Casas foram invadidas na calada da noite. É preciso passar o passado a limpo para preservar a verdade”, falou Stanislaw Szermeta.
Segundo Carlos Gilberto, a intenção não é tratar os torturadores da mesma forma covarde e cruel. “Não queremos violência, nossa intenção é fazer a sociedade tomar conhecimento dessas pessoas (que torturaram) e que a justiça seja feita”, relatou Pereira.
As personalidades presentes no debate foram unânimes em dizer que a Comissão Nacional da Verdade só terá sucesso se conseguir fazer uma mobilização civil, é preciso integrar toda a sociedade em prol da justiça. Os ex-presos políticos Antonio Campoamor e Laudelina Carneiro também fizeram emocionantes relatos sobre suas prisões. Laudelina disse que não se arrepende de nada e que tudo o que fez foi em nome da liberdade, lembrando que os militantes de esquerda contra a ditadura eram muito jovens à época. Antonio Campoamor não conseguiu falar muito, fruto de sua forte emoção e seqüelas emocionais decorrentes de sua prisão. Em seu lugar falou Carlão Gilberto, que lembrou que o amigo foi preso político, juntamente com seu irmão. “O Antonio ficou com problemas psicológicos e de saúde, e seu irmão, infelizmente se suicidou após a prisão”. No final, o poeta Emerson Santana leu alguns versos de autoria de Antonio Campoamor, que exaltam o trabalhador e denunciam a sua exploração pelo capitalismo.
SERVIÇO
A exposição fotográfica “Direito à memória e a verdade – Ditadura no Brasil – 1964-1985” ficará instalada até o dia 18 de dezembro.
Endereço: Centro Cultural Mestre Assis (Largo 21 de Abril, 29), Centro de Embu das Artes.
Horário: Diariamente, das 9h às 18h (Entrada gratuita).
(Por Ana Paula Timóteo)