Recessão na Europa e nos Estados Unidos e importação da China reduziu melhora na criação de postos de trabalho. Em 2012, país adotará mais medidas a favor da indústria
São Paulo – O Brasil fecha 2011 com o patamar de desemprego mais baixo em pelo menos uma década. O cenário é literalmente o inverso do verificado, por exemplo, na França, onde a desocupação é a mais grave em 12 anos. Mas o ritmo de criação de empregos no país poderia ter sido maior ainda. Efeitos indiretos da crise econômica que atinge países desenvolvidos como os Estados Unidos e nações europeias prejudicaram a meta de abertura de postos de trabalho no ano. A indústria foi um dos setores mais prejudicados.
O diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lucio, afirma que a estimativa inicial do governo de 3 milhões de empregos criados no ano exagerava no otimismo. A expectativa foi revista no início do segundo semestre para 2,7 milhões. Em 2010, foram 2,86 milhões com carteira assinada, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego.
A crise nos países ricos fez nações asiáticas como a China voltarem-se a mercados mais aquecidos, como o Brasil. “Temos dificuldades de concorrer com o produto (industrial) chinês”, avalia Ganz Lucio. Setores como o automotivo, especialmente de autopeças, e o de vestuário foram especialmente prejudicados na abertura de postos de trabalho por causa dessa investida.
De janeiro a novembro, foram criados 2,32 milhões de empregos (saldo positivo entre admissões e dispensas) segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) ante 2,54 milhões no mesmo período do ano passado. Na indústria de transformação, de janeiro a novembro, foram 357.715 novos empregos e, no mesmo período do ano passado, as novas vagas do setor somaram 638.006. Novembro de 2010 foi atípico, porque ocorreram menos dispensas do que comumente se verifica no período, quando começam desligamentos de trabalhadores temporários no setor.
“O que precisamos fazer é proteger nossa economia e investir em tecnologia para ganharmos produtividade para concorrer com esses produtos”, avalia o diretor do Dieese. No que diz respeito aos incentivos, o governo federal promoveu, em agosto deste ano, aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos com menos de 65% do valor de produção realizados no país. Outros setores receberam desonerações pontuais, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o setor têxtil deve ter novas medidas de proteção em 2012.
Ganz Lucio avisa, porém, que as ações são importantes mas podem não bastar. “Essas medidas são necessárias, mas é preciso outras, para incentivar as empresas a produzir nacionalmente e é evidente que o impacto disso é a retomada dos empregos.”
A perspectiva é de que as economias europeias e norte-americana permaneçam em recessão nos próximos anos. Isso quer dizer que haverá menos mercados absorvendo produtos exportados por nações como o Brasil, ao mesmo tempo em que o consumo nacional, de famílias e do governo, continuará a atrair a atenção e os esforços da China e de outros polos industriais. Isso reforça a importância de o Brasil zelar por seu mercado interno, garantindo bons patamares de emprego. “Preservar os empregos também deve ser um objetivo da nossa política”, avisa o economista.
Em 2011, o país teve bons resultados. A taxa de desocupação calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atingiu em novembro o menor nível da série histórica, iniciada em março de 2002, e chegou a 5,2%. Segundo o pesquisa mensal em sete regiões metropolitanas da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), de São Paulo, e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o desemprego ficou em 9,7% em novembro. Foi a primeira vez em que a taxa ficou abaixo de dois dígitos desde janeiro de 1998, quando a pesquisa começou a ser feita.
(Redação da Rede Brasil Atual / Com informações da Agência Brasil)