A advogada Ana Lúcia Assad, que representa Lindemberg Alvez Fernandes, acusado de matar a estudante Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, disse no início da tarde de segunda-feira, 13, que a sociedade é corresponsável pela tragédia, ocorrida em 2008. Em rápida entrevista durante o intervalo do julgamento do caso, que acontece no Fórum de Santo André, na Grande São Paulo, a advogada afirmou ainda que o réu quebrará o silêncio e falará pela primeira vez sobre o caso. Lidemberg deverá dar seu depoimento na quarta-feira, 15, no período da tarde.
“Ele falará a verdade. Ele vai dar a versão que ele ainda não teve a oportunidade de falar”, disse a advogada. Desde que o caso ocorreu, em outubro de 2008, Lindemberg se manteve em silêncio.
“Todos, no meu ponto de vista, são corresponsáveis (pela tragédia). Inclusive a sociedade”, afirmou Lúcia Assad. A declaração é uma referência sobretudo aos negociadores do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), da Polícia Militar, e à imprensa. A tese da defesa, demonstrada ao longo de mais de uma hora e meia, de reportagens de TV exibidas aos sete jurados, é de que a PM errou durante as negociações pela libertação de Eloá e da amiga Nayara Rodrigues, baleada no rosto. Além disso, os vídeos traziam críticas à cobertura jornalística que, para a defesa, colaborou para prolongar o cárcere privado.
Segundo Ana Lúcia, Lindemberg está em paz, focado e sereno. A advogada voltou a reforçar que o acusado não é perigoso, não tem antecedentes criminais.
Troca de testemunhas
A advogada ainda negou ter ameaçado abandonar o julgamento, conforme disse à imprensa o advogado da família de Eloá, José Beraldo, assistente de acusação. “Isso é mentira”, disse.
Ela afirmou ainda ter ficado satisfeita com o fato de a juíza Milena Dias ter aceitado a inclusão da mãe e do irmão de Eloá, Ana Cristina e Douglas, como testemunhas de defesa. Para Ana Lúcia, isso ajudará a esclarecer a verdade.
Ao todo, 19 testemunhas, sendo cinco de acusação e 14 de defesa foram convocadas. Porém, quatro testemunhas foram dispensadas pelos advogados de Lindemberg: os jornalistas Roberto Cabrini (SBT), Sônia Abrão (Rede TV!), Reinaldo Gotino (Record) e o perito Ricardo Molina. Além deles, a defesa pediu para substituir duas testemunhas: foram dispensados o perito Nelson Gonçalves e a jornalista Ana Paula Neves (Record), para que a mãe e o irmão de Eloá, Ana Cristina e Douglas, fossem ouvidos. A promotoria discordou da troca.
Durante a exibição dos vídeos, Lindemberg não demonstrou nenhuma reação, mantendo a cabeça erguida e as mãos fechadas. Logo no início da sessão, a pedido da defesa, a juíza Milena Dias autorizou que fossem retiradas as algemas, contrariando a recomendação da promotora Daniela Hashimoto. A escolta policial, porém, não foi dispensada e, ao lado do acusado, dois policiais militares permaneceram em pé.
O mais longo cárcere de SP
A estudante Eloá Pimentel, 15 anos, morreu em 18 de outubro de 2008, um dia após ser baleada na cabeça e na virilha dentro de seu apartamento, em Santo André, na Grande São Paulo. Os tiros foram disparados quando policiais invadiam o imóvel para tentar libertar a jovem, que passou 101 horas refém do ex-namorado Lindemberg Alves Fernandes. Foi o mais longo caso de cárcere privado no Estado de São Paulo.
Armado e inconformado com o fim do relacionamento, Lindemberg invadiu o local no dia 13 de outubro, rendendo Eloá e três colegas – Nayara Rodrigues da Silva, Victor Lopes de Campos e Iago Vieira de Oliveira. Os dois adolescentes logo foram libertados pelo acusado. Nayara, por sua vez, chegou a deixar o cativeiro no dia 14, mas retornou ao imóvel dois dias depois para tentar negociar com Lindemberg. Entretanto, ao se aproximar do ex-namorado de sua amiga, Nayara foi rendida e voltou a ser feita refém.
Mesmo com o aparente cansaço de Lindemberg, indicando uma possível rendição, no final da tarde no dia 17 a polícia invadiu o apartamento, supostamente após ouvir um disparo no interior do imóvel. Antes de ser dominado, segundo a polícia, Lindemberg teve tempo de atirar contra as reféns, matando Eloá e ferindo Nayara no rosto. A Justiça decidiu levá-lo a júri popular.
*Retirado de JusBrasil