Ricardo Teixeira alegou motivos de saúde; licença ocorre em meio a polêmica entre governo brasileiro e Fifa, por causa dos preparativos para a Copa de 2014
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, renunciou na segunda-feira (12) ao cargo, que ocupou durante 23 anos. Teixeira deixa também o comando do Comitê Organizador Local da Copa de 2014. O novo presidente é José Maria Marin, que está no comando da CBF desde a semana passada, quando Teixeira pediu licença do cargo, alegando problemas de saúde.
Na carta em que comunica a Marin sua saída do cargo, Ricardo Teixeira diz que deixa a presidência da CBF com a sensação de dever cumprido. “Futebol em nosso país é sempre automaticamente associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando ganhamos, despertou o talento. Quando perdemos, imperou a desorganização”, ressalta Teixeira.
Ele diz ainda que fez o que estava a seu alcance, sacrificando inclusive a saúde e renunciando ao convívio familiar. “Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias”, lembra Teixeira na carta, mas destaca: “isso é muito pouco, pois tive a honra de administrar não somente a confederação de futebol mais vencedora do mundo, mas também o que o ser humano tem de mais humano: seus sonhos, seu orgulho, seu sentimento de pertencer a uma grande torcida, que se confunde com o país.”
O afastamento ocorre em meio a um bate-boca entre representantes do governo brasileiro e o secretário-geral da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Jérôme Valcke, por causa dos preparativos para o torneio. Alegando atrasos no cronograma da Copa, Valcke disse que os brasileiros mereciam “um chute no traseiro”. Ao menos um brasileiro acaba de ser chutado: Ricardo Teixeira. O plenário da Câmara deverá votar a Lei Geral da Copa (Projeto de Lei 2.330) na semana que vem.
A imagem de Ricardo Teixeira é há muito tempo associada a denúncias de corrupção. Teixeira já foi personagem de destaque em duas CPI, na Câmara dos Deputados. Sua situação começou a ficar insustentável nos últimos meses, depois da publicação de reportagens do jornalista inglês Andrew Jennings – com farto material investigativo comprometendo não apenas Teixeira como também o chefão da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter e seu antecessor, o brasileiro João Havelange.
Denúncia no Congresso Nacional
Conhecido por investigar denúncias de corrupção na Federação Internacional de Futebol (Fifa), o jornalista inglês Andrew Jennings participou no dia 26 de outubro de 2011 de audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado e pediu que a organização da Copa do Mundo de 2014 seja entregue a “honestos burocratas brasileiros”. Ou seja, defendeu que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, deixasse o comando do torneio. Jennings afirmou que Teixeira recebeu US$ 9,5 milhões mediante um esquema de corrupção, enquanto o ex-presidente da Fifa João Havelange teria recebido aproximadamente US$ 1 milhão.
Durante a audiência, o jornalista sugeriu ao governo brasileiro que solicitasse a Teixeira tornar público um relatório da Justiça da Suíça (onde está sediada a Fifa) no qual constaria uma confissão do cartola sobre recebimento de propinas em contratos de marketing. Ele afirma que o relatório ainda não foi publicado por pressão do atual presidente da Fifa, Joseph Blatter – que também teria admitido, no documento, saber do suborno.
“Blatter insulta a todos ao dizer que o relatório é legalmente muito complexo. Coloque o documento na internet agora, pois temos advogados que podem nos ajudar a compreendê-lo”, afirmou Jennings. Ele citou investigação do Senado brasileiro, em 2001, indicando que Teixeira teria recebido ilegalmente dinheiro de uma empresa chamada Sanud, instalada no paraíso fiscal de Liechtenstein. Segundo ele, a Sanud era parceira da ISL, empresa de marketing ligada à Fifa, nos anos 1990.
Para o jornalista, a presença de Teixeira no comando do preparativos da Copa poderia prejudicar a imagem do Brasil. “Nós queremos ver o samba e uma celebração do país que, em 20 anos, saiu de uma ditadura para uma democracia, com imprensa livre. Se vocês querem o respeito do mundo, no interesse da reputação de seu país, entreguem a organização a honestos burocratas brasileiros”, disse Jennings, que com a contínua divulgação de denúncias envolvendo a Fifa passou a ser barrado nas coletivas de imprensa da entidade.
‘Zé da Medalha’ apoiou a ditadura
Com a saída de Ricardo Teixeira, José Maria Marín, um dos cinco vice-presidentes da CBF, assume o posto e diz que trabalhará pela “continuidade de uma gestão respeitada em todo o mundo”.
José Maria Marín, nascido em 6 de maio de 1932, terá quase 83 anos quando encerrar seu mandato-tampão, no início de 2015. Quando tinha 20 anos, chegou a jogar no time do São Paulo, mas a carreira de jogador não vingou. Estudou Direito na Universidade de São Paulo (USP) e na década de 1960 ingressou na vida política, chegando a ser presidente da Câmara Municipal de São Paulo.
Nos anos 1970, foi deputado estadual pela antiga Arena, o partido de sustentação da ditadura, pelo qual tornou-se vice-governador do estado na chapa de Paulo Maluf. Assumiu a titularidade do governo em 1982, quando Maluf afastou-se para se candidatar a deputado federal. Marin deixou o cargo em março de 1983, substituído por André Franco Montoro, primeiro governador eleito com o voto direto durante a ditadura.
Após saída do governo, José Maria Marin deixou os holofotes da vida pública e passou a frequentar os bastidores da cartolagem do futebol. Chegou a presidir interinamente a Federação Paulista de Futebol ainda nos anos 1980.
Marin voltou ao noticiário “esportivo” no início do ano, no dia 25 de janeiro. Ao participar da cerimônia de premiação do time do Corinthians, campeão da Taça São Paulo de Futebol Júnior, foi flagrado colocando no bolso uma medalha de um dos campeões. O cartola minimizou o episódio: “A medalha foi uma cortesia da Federação Paulista e não era para ter essa repercussão toda. Isso foi uma verdadeira piada”.
(Redação – Rede Brasil Atual, com Viomundo e Fato Expresso)
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