Allan Robert. P. J.
Lá se vão doze anos de Itália. Às vezes parecem trinta; às vezes, um mês. Pouco depois de ter chegado à Itália registrei as minhas impressões, que agora transmito ao leitor.
Quando alguém decide ir morar em outro país acaba promovendo inevitáveis comparações. Depois de certa idade, quando as descobertas escasseiam e as novidades são apenas revival de um filme antigo, o melhor modo de avaliar o novo é compará-lo ao velho. Podem surgir sentimentos controversos, como a euforia pela novidade e a saudade pelo que ficou, mas aos poucos, a gente se habitua. Porém, não se consegue evitar as permanentes comparações. Não fui a exceção.
Nesse período procurei manter-me informado. E por pura provocação relaciono algumas notícias, para você tentar descobrir quais delas foram publicadas em jornais italianos:
– “DESCOBERTA NOVA NASCENTE DO RIO AMAZONAS, O QUE O TRANSFORMA EM MAIOR RIO DO MUNDO, TAMBÉM EM EXTENSÃO”.
– “RONALDO TREINA SOZINHO EM TERESÓPOLIS, NO MEIO DA SELVA BRASILEIRA”.
– “ELEITA MARTA SUPLICY, A PRIMEIRA POLÍTICA DO PT A COMANDAR A MAIOR CIDADE DO BRASIL”.
– “NÃO É POSSÍVEL QUE O CHEFE DO EXECUTIVO MANOBRE A APROVAÇÃO DE LEIS PARA BENEFICIAR OS SEUS PRÓPRIOS INTERESSES”.
– “FAVELA NO CENTRO DA NOSSA MAIOR METRÓPOLE CAUSA CONSTRANGIMENTOS”.
– “ENCHENTE DESTRÓI CASAS EM CONDOMÍNIO CLANDESTINO NO LEITO SECO DE UM RIO”.
– “REVOLTA DE NATAL: DUAS MIL PESSOAS PASSAM TRÊS DIAS ABANDONADAS NO PRINCIPAL AEROPORTO ESPERANDO A LIBERAÇÃO DOS VOOS. A CEIA FICA NO SANDUICHE COM ÁGUA”.
– “SOMOS UMA NAÇÃO DE SÉRIE B: NÃO FOMOS CONVOCADOS A PARTICIPAR DA GUERRA DO AFGANISTÃO”.
– “TEMOS A MAIOR CARGA TRIBUTÁRIA DO MUNDO”.
– “O IATISTA ALEMÃO ROBERT SCHEIDT VENCE MAIS UMA REGATA”.
– “NESTE PAÍS TUDO ACABA EM PIZZA”.
Antes que a relação se estenda demais (assim como os sentimentos que ela pode gerar) acabo com a agonia e informo que todas as notícias acima foram divulgadas na imprensa italiana. As notícias (velhas) sobre o Amazonas, o Ronaldo, a Marta e o Scheidt, referem-se ao Brasil. Mudaram os personagens mas não o foco das notícias sobre os estereótipos do nosso Brasil. Todas as outras noticiaram fatos sobre a Itália (como as favelas em Milão e o então primeiro ministro Silvio Berlusconi, um fiel adepto do sitema de “Lei Teresoca”.)
Muitas vezes tenho a impressão de que as pessoas na Itália irão começar a falar português, tamanha a semelhança com o nosso país. Futebol, escândalos políticos, excesso de impostos. Tudo, mas tudo aquilo a que estamos habituados a reclamar no nosso endividado país pode ser revivido aqui, no Bel Paese de Dante. Contudo, a precisão no ato de informar não é uma das qualidades italianas.
Mas uma coisa temos que reconhecer: os políticos daqui não tem vergonha de ser políticos, de possuir casa nas Bermudas, de ser empresário de sucesso e nem escondem o fato de serem milionários. A diferença é que aqui eles (e só eles) se levam a sério.
A comparação agora é sua.
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.