A Itália não tem um dia da independência: tem o dia da unificação. Os muçulmanos, séculos atrás, invadiram a Sicília e a usaram como centro para a expansão árabe. Depois, foi a vez dos franceses, espanhóis e do império austro-húngaro tentarem ampliar os seus territórios pelo continente. A Igreja, com seus exércitos, também procurou proteger o seu quinhão e abençoava qualquer novo senhor que a ajudasse a se defender.
No norte do país fala-se alemão e ladino, além do italiano; a Sardenha já era habitada por pastores de ovelhas quando o mar ainda cobria parte do país. O povo sardo tem cultura e línguas próprias; a Ligúria pertencia aos franceses até ser trocada pela Córsega e muitos juram ter acontecido depois do nascimento de Napoleão. O resultado de tanta gente passando por um pedaço de terra tão pequeno é uma verdadeira colcha de retalhos de culturas diferentes, dialetos que misturam línguas diversas, costumes e orgulhos próprios.
No livro “Il re di Girgenti” Andrea Camilleri fantasia livremente sobre a biografia de um certo Zozimo, que teria sido o rei de Agrigento (cidade do sul da Itália) por um curto período. Divertido e movimentado, o livro conta com uma característica típica do autor: é escrito numa mistura de italiano e dialeto siciliano. E Camilleri não abre mão disso. Poderia parecer anti-marketing, mas Camilleri vende, e vende muito. O curioso foi descobrir que em momento algum o italiano foi oficializado como a língua do país (e precisa?).
À época de Dante os textos eram publicados em latim. Foi ele quem decidiu publicar seus escritos em dialeto florentino, incentivando outros nomes célebres de Florença a fazer o mesmo. E como a Florença era um importante pólo comercial e cultural, logo outros escritores de outras cidades começaram a publicar os próprios textos em dialeto florentino. Com o tempo o dialeto foi sendo difundido até se tornar a língua de toda a península.
Nos dias atuais, os mais idosos insistem em usar o dialeto local, numa oposição passiva contra a morte da própria cultura. Os mais jovens se interessam por coisas bem diferentes e buscam se integrar num mundo cada vez mais uniforme, apesar das muitas divergências. E os costumes locais vão cedendo espaço às novidades, que incluem internet e mp3, televisores e máquinas de lavar que duram pouco, ou peças de reposição que custam mais que o produto inteiro.
Ninguém discute mais se Napoleão era italiano ou francês, ou se os habitantes do norte deveriam ser obrigados a adotar o italiano como língua oficial. A atenção hoje está voltada para o início da miscigenação que ocorre de forma cadenciada e constante; o medo de uma nova cultura religiosa que invade os domínios da península; as incertezas provocadas pelas decisões dos poderosos; a busca de uma energia alternativa limpa; um novo modelo de televisor que dure mais e que não precise de manual de instrução. E para o novo livro do mestre Camilleri, que sairá por estes dias.
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.