USP muda pós-graduação, pode encerrar diversos cursos e ainda cria brecha para professores sem doutorado ministrarem cursos via instituições privadas, e ainda prevê cobrança de mensalidades
Uma matéria publicada no portal IG declarou sem meias palavras: “Universidade de São Paulo estuda privatizar parte da pós-graduação”. A privatização na USP, aparentemente, começou por cima. Os cursos de pós-graduação da Universidade de São Paulo são aqueles que formam os melhores acadêmicos no país. Isso, certamente, atrairia o interesse de instituições de ensino privadas ou mesmo de empresas para gerir fundos destinados à formação de docentes e pesquisadores.
Mas nem a formação de docentes nem a de pesquisadores interessa à iniciativa privada. A ela interessa mais a formação de profissionais. A pergunta é: Isso é bom para a USP? Para a formação individual do pós-graduando? Para o ensino de maneira geral?
Aparentemente, o interesse de empresas pela formação e aquisição de funcionários é bom para aquele que ingressa numa universidade, para aquele que se forma e para o pós-graduando. O problema é a intromissão. O Estado cumpre o papel que tem de cumprir na Educação ao formar profissionais, pesquisadores e professores em nível de pós-graduação. Ao fazê-lo, o Estado, por meio da universidade pública, possibilita a formação de intelectuais das mais diversas áreas da cultura, nas ciências, nas humanidades e nas técnicas. Com a ingerência da iniciativa privada, os cursos de pós-graduação serão reduzidos a uma espécie de SESI/SENAC e os pós-graduados no Brasil terão a mesma capacitação que os graduados de nível médio das ETECs.
Por outro lado, esse tipo de formação eliminará do quadro de cursos de pós-graduação tudo aquilo que não interessar à iniciativa privada. A USP não formará mais pós-graduandos nas áreas de artes plásticas, música, teatro, cinema, línguas orientais, línguas clássicas, Filosofia, etc., a não ser que os currículos destes e outros cursos se adaptem completamente às necessidades do mercado.
No caso das línguas orientais, o chinês, por exemplo, é muito útil ao mercado ao formar secretárias bilíngües; nas artes plásticas, no que tange à arte conceitual, cria um grande nicho de mercado, e muito pouca expressão artística, o mesmo pode acontecer também com a música e o cinema; a biologia também não fica atrás da apropriação mercadológica ao estar dirigida a atender os interesses empresariais etc.
Áreas como História, Biologia, etc., só se destinarão ao magistério. E ainda há uma outra questão: tudo isso só ocorrerá quando houver interesse do mercado de trabalho. Se o nível de desemprego estiver alto, se a indústria nacional estiver em crise, se houver recessão, ou coisa que o valha, esse mercado da pós-graduação ficará paralisado e o Brasil deixará de formar profissionais.
Alguns dirão que, em momentos de crise, naturalmente se deixa de formar profissionais. Isso não é verdade. O ensino não se pauta pelas crises de mercado. Aquele que estuda prepara-se para o futuro. Pouco importa a crise no momento em que se está estudando. Estuda-se justamente para a superação de crises, para que dias melhores cheguem. O estudo é como uma atividade agrícola: planta-se hoje, rega-se amanhã e colhe-se depois de amanhã. Toda a nação que se desenvolveu, na face da Terra, preparou-se para o futuro, construiu silos para o armazenamento de grãos, agiu como a formiga que se prepara para o inverno. Mas o Brasil não. Aqui é lugar de cigarras, que só pensam no dia de hoje.
(Fonte: Jornal da Usp Livre – www.usplivre.org.br)
Existe algum abaixo assinado contra essa privatização? Se houver gostaria de participar. Grato