Na carta anterior resolvi provocar um pouco e falei de racismo. Descobri que tem peixe grande nessas águas. Um grande e velho amigo respondeu a provocação à sua maneira. Reproduzo abaixo o texto integral.
Caro Allan:
Numa visão um pouco mais (esquivada) – notou que vai até entre parênteses? – da questão do preconceito, seja racial ou não, a verdade crua é bem incômoda. Razões antropológicas, ligadas à defesa e, mais além, à sobrevivência, induzem o ser humano a estabelecer padrões de reconhecimento que se traduzem no básico “é bom, é ruim, é indiferente” – o que explica um pouco o preconceito de qualquer tipo. O negro, segundo estudos, é um elemento rapidamente identificado (isto é, a cor negra da pele é uma das primeiras características notadas pelas pessoas), talvez por motivos que devem se esconder no emaranhado de informações do DNA. Negros, geralmente, produzem odor mais forte e isso me parece provocar os cães com mais intensidade.
(Fatos traumáticos tornaram-se assustadores pela freqüência em que ocorreram ao longo de eras de evolução humana – principalmente, acredito, naquelas em que as mudanças se fizeram em um prazo mais curto. Tais fatos, de alguma maneira, ficaram impregnados nos nossos genes, formando arquétipos, definindo comportamentos, e até moldando-nos fisicamente).
O racismo, paradoxalmente, no meu modo de ver, acontece pela tentativa de não admitirmos o fato de que não gostamos de pessoas diferentes, mesmo que isso relacione-se com questões tão primitivas quanto gostar de sexo. Por falar nisso, outros estudos concluíram que as pessoas tendem a se interessar por alguém que tenha semelhança com seus traços. Isso me parece mais comportamental do que primitivo, já que a evolução se beneficia da combinação de características.
Outro fato a ser notado é o impulso de controlar territórios e grupos. Muitas outras espécies de animais apresentam essa característica claramente ligada à promoção da evolução e da sobrevivência. Disso deriva uma enormidade de males, desde a inveja, o ciúme, a ganância, a intolerância até toda sorte de perversidades elaboradas e cometidas pelos que podem (os que não podem mantêm esses impulsos latentes e/ou minimizados, restringindo-os a um micro território). Bem vou dar como exceção os monges em estágio avançado de intimidade com o nirvana. A palavra males, aqui, não está apropriada, já que a justificativa para ações desse tipo é que elas são manifestações dos genes primitivos pertencentes à raça humana e, portanto, não seria mal nem bem.
Só que deixar fluir todos os impulsos primitivos seria muito aliviador, por um algum tempo, mas tornaria a vida social impraticável (para acomodar todo o mundo, todo mundo precisa ceder um pouco). Daí que a moral deve prevalecer por uma questão prática de sobrevivência coletiva. O importante é que os impulsos primitivos continuam existido e, ignorá-los, vai dificultar o entendimento dos atos daqueles que querem jogar o jogo, mas por regras próprias.
Abraço,
Cássio
Pois é…!
Recordo que a história da Europa é formada por povos heterogêneos. A Itália, então, nem se fala! Basta lembrar que a máfia foi formada a partir das relações familiares na zona rural, pelos árabes muçulmanos que dominaram a Sicília séculos atrás. A história do Brasil é formada por uma diversificação ainda maior. E não me refiro às tradicionais visitas brancas às senzalas. Fica no ar a questão do quanto o programa de cotas raciais aprovado recentemente é agregador ou segregacional, independentemente da opinião pessoal de cada um.
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.