*João Wilson Guevara
Nos últimos meses milhares de reportagens foram veiculadas abordando a violência no Estado de São Paulo. Sem nenhum controle das informações, jornalistas, em sua imensa maioria representantes das classes A e B, reproduzem o pensamento do governo do Estado e incutem na cabeça das pessoas comuns uma série de inverdades sobre questões de segurança. Ações desastrosas como a invasão de favelas e comunidades, as execuções de pessoas, foras da lei ou não, são “aplaudidas” e apoiadas; e reportagens com foco exclusivamente midiático, são utilizadas para satisfazer a burguesia e a classe média alta de São Paulo dando uma “resposta da polícia” a aquilo que chamam “sociedade de direito democrático”.
Há quase duas décadas no poder em São Paulo os tucanos ainda não conseguiram atacar as raízes desta questão. Sempre que abordam a segurança pública falam de repressão, aumento de vagas em presídios ou de efetivo de soldados nas ruas. Esta visão misturada à política de educação reacionária, que faz dos jovens meros “fazedores” de cursinhos nas ETECs e depois os despejam no mundo real para disputar vagas de cobradores de lotação, ou vendedores de filmes piratas, ou então atendentes nas redes de fast-food, fazem desta camada da população um pequeno demonstrativo dos planos “bem sucedidos” do governo.
Nos últimos anos o número de latrocínios explodiu nas grandes cidades e atividades criminosas migraram para cidades menores. Os casos de roubos de veículos e residências, por exemplo, aumentaram na mesma proporção em que aumentou também o número de condomínios fechados e o mercado de seguranças particulares, bastante estimulado e alimentado por policiais, da ativa ou não. Este crescimento e o aumento dos índices de criminalidade estão intimamente ligados. Em uma observação simples dos números de policiais assassinados pode-se perceber que a maioria deles estava fora de serviço da corporação; ou seja: no bico. É nesta atividade secundária que a maioria pratica toda sorte de atrocidades nas comunidades e isso não é só em cidades como Rio e São Paulo, mas em todo o país. A resposta das vítimas ocorre quase que ao mesmo tempo, às vezes organizada ou não.
Outro fator a ser considerado é a fantasia criada por vários meios de comunicação que exploram de forma irracional os apelos de consumo. Propagandas como as de carros, que transformam o dono em “super herói” ou piloto de corridas, por exemplo, são verdadeiras apologias ao crime. Reparem que nas comunidades mais pobres os produtos de ostentação em sua maioria são carros ou motos. Esta exaustiva propagação do consumismo relatado até na novela das oito cria um desejo desenfreado na massa, que sem instrução, ou oportunidade parte para o tudo ou nada. E o governo? O governo continua estimulando a compra de carros. Este é apenas um pincelar para voltar ao título deste texto. A violência não é obra do acaso. As políticas públicas, federal e estadual, no concernente à questão da segurança são parecidas. As duas estão baseadas em fantasia e não em realidade.
Se as atuais siglas partidárias, com seus bandidos, tem reconhecido o seu poder e as questões são negociadas, é preciso reconhecer também que, diante da degradação política que vemos hoje, o PCC e seus bandidos, este “partido” também tem suas lideranças e é muito mais influente e tem tantos “filiados” quanto qualquer outro. A diferença é que o seu comando e a comunidade onde há seus redutos se fortalecem a cada ação de repressão, seja ela feita através da polícia, ou de qualquer outro órgão estatal.
O comando desta sigla em sua maioria, não freqüentou senão a escola da comunidade até o primário. Seus líderes não tem diploma de universidades públicas ou privadas, mas são “doutores” na lei da sobrevivência. É preciso mudar o foco antes que a situação piore ainda mais. É preciso mudar o rumo dos investimentos. Faculdade pública para alunos de escola pública, ao invés de mais repressão aos pobres e mais vagas em presídios, onde o crime organizado é a ‘Universidade’.
O próprio PCC está mudando sua atuação e trabalhando para o fortalecimento de seus quadros com formação de membros. O endurecimento das regras e das relações de convivência com mandatários públicos é outra questão que deve ser analisada. Há alguns anos estas lideranças tinham uma ligação mais à esquerda, mas com o passar dos anos e um alinhamento dos partidos com guinadas para a direita e centro esta ligação com o campo popular quase desapareceu.
Pode-se observar que membros de qualquer partido político tem sido eleitos por comunidades lideradas por este movimento. O “slogan” do PCC é Paz, Justiça e Liberdade, e enquanto os governos não reconhecerem que estão perdendo a guerra urbana com suas políticas equivocadas, a população da periferia ficará mais à mercê dos massacres e a situação tende a agravar-se.
Se as medidas divulgadas pelos membros do governo do Estado e federal forem colocadas em prática, a tendência é que a onda de criminalidade aumente ainda mais. As reportagens estão sendo usadas para esconder o desespero do governo que não sabe e nem saberá quem são os lideres deste “partido” que eles ajudaram e ajudam a fortalecer com medidas repressivas. Quanto mais atrocidades mais gente se filia ao ‘partido’ do crime.
(*João Wilson Guevara, Jornalista, especial para o Fato Expresso)