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CENA 4
1977. Fui à Junta do Alistamento Militar de Assis perguntar como poderia servir no Exército. Os funcionários pensaram que eu queria ser dispensado, como a maioria dos jovens de minha geração – penso que até hoje é assim – e já foram dizendo se eu queria entrar no ‘Excesso de Contingente’. Insisti que queria servir, e eles perguntaram minha idade. Dezesseis. Em julho, dezessete!. Mandaram-me voltar no ano seguinte, mas um senhor fardado, aos fundos, interferiu. – Tem certeza que quer isto? Então se aliste aos 17, como voluntário, que a gente te arruma uma vaga, se é isto que você quer… E assim fiz.
Pensei que iria imediatamente para o Tiro de Guerra (TG), mas não foi tão simples. Era um jovem magricela, de 50 quilos, distribuídos em 1,74 m, e quando fui ao exame médico quase me expulsaram do Exército, antes mesmo de ingressar em suas fileiras. No primeiro exame me deram um ‘D’ (dispensado), mas ao ver que era um voluntário raquítico de 17 anos, voltaram atrás e me deram um ‘C menos’. Juntamente com uns 500 moleques, passei sucessivamente para ‘C+’, ‘B-‘, ‘B+’, até que faltavam apenas umas quatro vagas, para cerca de dez ‘sobreviventes’. Como havia um jovem aparentando ser gay (em 1978 isso era absolutamente imperdoável no meio militar), outro quase cego, com óculos fundo de garrafa, o capitão médico me encarou e perguntou: – Você tem certeza de que quer mesmo servir o Exército? Respondi prontamente que sim!
Consegui passar por um triz, com um ‘A’ de ‘Apto’ e lá fui iniciar a tão sonhada carreira militar. Mas no Interior de São Paulo, já percebi que os soldados são de ‘segunda classe’ (literalmente), porque na prática, só servem algumas horas por dia, podem sair para trabalhar, estudar, e não ficam aquartelados.
Fiz de tudo para crescer na instituição, me inscrevi no curso de Cabos (passei e dei baixa assim, como ‘Cabo de 2ª Classe’), curso de armamento e tiro, num fuzil ‘Mauser 1908’, despojos de guerra doados pelos EUA ao Brasil, no pós-guerra de 1945, e ainda tive o ‘privilégio’ de me tornar o ‘Maestro’ do TG (ver foto), sem nunca ter lido uma única partitura. Mas o que importava era ter ‘gogó’, decorar as letras de TODOS os Hinos, do Exército, da FEB – Força Expedicionária Brasileira, que lutou na Itália na Segunda Guerra Mundial (“Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra / sem que volte para lá”), da Marinha, da Aeronáutica, do Brasil, da Bandeira… Era uma cartilha inteira, cheia de Hinos, inclusive com um disco de vinil que ajudava no aprendizado. Decorei tudo e até hoje me lembro de algumas passagens desses hinos extremamente patrióticos e nada autocríticos.
Eu não tinha a mínima ideia, até então, de que havia uma ‘guerra’ bem real em andamento no Brasil, entre os ‘patriotas’ e os ‘terroristas’. No interior paulista nunca vi ou ouvi um único militar do Exército doutrinar ninguém contra o ‘Fantasma do Comunismo’. Para mim, a guerra passava por filmes de ação da Segunda Grande Guerra de 1939 a 1945, ou seja, nós contra os maléficos Nazistas. Eu vivia da grande ilusão de que os brasileiros foram à Europa para libertar o mundo do ‘Eixo do Mal’ de então, representado por Itália, Alemanha e Japão.
Mas a minha tão sonhada ‘Guerra’ não passou por Assis, no Oeste Paulista, e ao final de 1978, quando dei baixa, recusei dois caminhos possíveis, que me foram oferecidos pelo enérgico Sargento Andrade, o ‘Brucutu’ (ele odiava o apelido e reprimia severamente aqueles que ousavam tratá-lo daquela forma): Seguir na carreira, fazendo a Escola de Sargentos, no 3º Batalhão de Infantaria Leve de Lins (SP), ou a Academia de Polícia Militar do Barro Branco, na Capital paulista.
Alguns de meus amigos convidados aceitaram, mas das duas opções, acabei decidindo por nenhuma, já que minha mãe, Cecília que acabara de vir de uma Greve de professores do Estado, suplicou para que eu ficasse em Assis, e tentasse entrar na Universidade. Era o fim do sonho do “País que vai pra frente” e do “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”. Fiz o vestibular da UNESP (Universidade Estadual Paulista) em fins de 1978, e as escolhas eram limitadas naquele Campus: Psicologia, Filosofia, História ou Letras. Como apreciava escrever uns versos, optei por Letras.
Passei no vestibular e no início de 1979 já frequentava os bancos daquela Universidade. Em seis meses já estava metido na luta estudantil, tinha entrado para a tendência ‘O Trabalho’, ou ‘Liberdade e Luta’, uma vertente trotskista, e havia dado uma radical virada em minha vida: – Esquerda, volver!!. Como alguém pode mudar de ideologia e visão de mundo tão radical e rapidamente, inclusive abandonando em definitivo a religião? Sou a testemunha e a cobaia viva deste processo. Mas isto é uma outra história.
Por Márcio Amêndola de Oliveira*
(Continua no próximo capítulo….)
(*Márcio Amêndola é jornalista e historiador)
Minha historia do exército é exatamente oposta à sua rsrsrsrs!!! Muita maconha , prisão , porrada e finalmente expulsão…