Medida é apontada por vereadores de oposição como discriminatória e teria como objetivo evitar que moradores de rua entrem no prédio para usar banheiros e tomar água e café
São Paulo – A determinação adotada ontem (6) pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Américo (PT), que proíbe a entrada de pessoas vestidas com short ou bermuda e calçadas com chinelos na sede do órgão, no centro da cidade, é apontada por lideranças de movimentos populares e de oposição ao PT como uma política discriminatória e conservadora. Segundo lideranças de oposição, a medida teria como principal objetivo impedir que moradores de rua circulem pela Câmara para usar os banheiros e tomar café e água no primeiro andar do prédio do Legislativo, principalmente na parte da manhã.
A nova ordem foi adotada por meio de um comunicado da chefia de gabinete da presidência passado por correio eletrônico a todos os funcionários e à Guarda Civil Metropolitana, responsável pela segurança do prédio. Segundo a assessoria de imprensa de José Américo, a determinação faz parte de medidas que estão sendo tomadas para melhorar a segurança local.
Para o vereador Gilberto Natalini (PV), proibir a entrada de pessoas usando chinelos é uma discriminação contra os mais pobres, principalmente moradores de rua que costumam entrar no prédio para tomar café, água e usar o banheiro. “Esta medida tem endereço certo, são os moradores de rua e a Câmara não deveria agir desta forma discricionária, ainda mais sendo tomada por um partido que sempre acusou os outros por agirem assim”, afirmou. Segundo Natalini, a Câmara deveria acionar os serviços de assistência social da prefeitura para tentar melhorar as condições dos moradores de rua e não proibi-los de entrar no prédio.
O vereador Toninho Vêspoli (PSOL) também afirma que a medida é preconceituosa e restringe a entrada das pessoas mais pobres. “A Câmara deveria tomar medidas para atrair mais pessoas para participar do processo legislativo e não restringir a entrada, ainda mais desta forma discriminatória”, disse.
Para o padre Júlio Lancelotti, que atua na defesa de moradores de rua, a medida é lamentável e deveria ser revertida pela Câmara. “O eleitor pode ir votar de chinelo e bermuda, mas não pode entrar na Câmara?”, questiona. Segundo ele, ao restringir o acesso de pessoas com chinelo, a medida extrapola as restrições moralistas que se baseiam em proibir trajes como short e bermuda, e parte para critérios econômicos. “O morador de rua não tem chinelo”, afirma.
De acordo com a assessoria de imprensa da presidência da Câmara, há outras ações programadas, como melhorar o controle das pessoas com exigência de crachá, com instalação de câmeras de vigilância. “O objetivo não seria restringir a entrada de moradores de rua ou qualquer outro segmento da população”, diz em nota.