Trapaça repercute mal entre jornalistas da própria emissora; blogueiro estuda acionar emissora por exploração de menor
São Paulo – O jornalista Maurício Stycer publicou hoje em seu blog a informação de que o uso de uma criança para expor o deputado José Genoino (PT-SP) no programa CQC causou “péssima” repercussão dentro da própria TV Bandeirantes e também na produtora Cuatro Cabezas, uma franquia argentina que promove atrações do gênero naquele e em outros países.
Questionada por Stycer, a emissora disse não ver problemas éticos no uso da criança ou na maneira agressiva com que os humoristas do CQC, travestidos de jornalistas, abordaram Genoino.
Também hoje, o blogueiro Eduardo Guimarães anunciou que estuda acionar a Band no Ministério Público por exploração de menor. “Ainda que alguns possam julgar que, como condenado pelo Supremo Tribunal Federal, Genoino é passível de qualquer agressão ou trapaça que se queira fazer contra ele, como se coubesse à sociedade aplicar-lhe penas adicionais à condenação, a criança em questão foi usada em uma trapaça, induzida a mentir e teve sua imagem exposta nessa situação para todo o país”, argumenta Guimarães. Íntegra aqui.
Recentemente a Band e dois de seus programas sofreram condenações judiciais: uma por agressões genéricas aos ateus, no programa Brasil Urgente, do apresentador José Luiz Datena; outra por desrespeito a dois garis durante uma edição de fim de ano do Jornal da Band, apresentado por Boris Casoy.
Leia abaixo o texto de Maurício Stycer:
Exibida no programa de segunda-feira (25), a entrevista do “CQC” com José Genoíno (PT-SP), feita por meio de um ator-mirim que mentiu e enganou o deputado, teve péssima repercussão, inclusive entre jornalistas da própria Band e na Cuatro Cabezas, a produtora do programa.
Procurada pelo blog, a emissora não viu qualquer problema ético na entrevista. Para a Band, o “CQC” é um programa de humor e como tal “corre o risco de desagradar algumas pessoas”.
Sem conseguir falar com Genoíno, o “CQC” levou de São Paulo para Brasília o menino João Pedro Carvalho e seu pai, Ricardo, com a função de bater à porta do gabinete. Com a biografia do deputado em mãos, João se disse fã dele e pediu um autógrafo. O pai disse ao deputado que era petista e, com uma câmara, filmou a troca de palavras.
O recurso a uma mentira para obter algumas palavras do deputado pegou muito mal dentro do jornalismo da Band. A emissora chegou a hesitar se levaria ao ar a “entrevista”. No ano passado, Ronald Rios conseguiu entrevistar a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) se fazendo passar por repórter de um canal universitário, mas a Band não permitiu que a reportagem fosse ao ar.
Proibidos de entrar no Senado, os repórteres do “CQC” foram autorizados a voltar à Câmara este ano. Dentro da produtora Cuatro Cabezas, a entrevista com Genoíno obtida mediante uma mentira é vista por alguns como um “tiro no pé” do programa. Pode abrir caminho para uma nova proibição.
João Pedro Carvalho é ator profissional. O seu trabalho mais conhecido foi na novela “Avenida Brasil”, da Globo. Chegou a ser cotado para viver o personagem Batata, mas perdeu o papel para Bernardo Simões. Ganhou, em troca, o personagem Jerônimo, que teve muitas cenas na trama, junto com Nilo (José de Abreu).
Na tarde de quinta-feira (28), enviei as seguintes perguntas à emissora: 1. A Band aprova o procedimento utilizado pelo “CQC” para entrevistar Genoino? 2. O uso de um ator-mirim, que mentiu ao deputado, não fere as normas éticas da emissora? 3. Como a Band vê a repercussão negativa da entrevista? 4. Por que a Band vetou, em 2012, uma entrevista com Jaqueline Roriz, na qual o “CQC” também mentiu para a deputada, e nao vetou esta com Genoino?
A reposta foi a seguinte: “O CQC é um programa com o foco acentuado no humor, não pretende ofender o público e sim entretê-lo. Mas, como toda atração que trabalha com esse gênero, corre o risco de desagradar algumas pessoas.”