O maior defensor público do meio ambiente e crítico confesso da atual gestão de Embu das Artes, Antonio Luiz Cagnin (84) faleceu na manha desta quarta-feira (9) de um infarto fulminante quando participava de uma reunião na UBS do bairro de Itatuba, região periférica de Embu das Artes. Segundo informações, ele estava bem até se emocionar durante o encontro, tendo um mal súbito. Apesar das tentativas de reanimá-lo, Cagnin não resistiu e veio a falecer. Ele será enterrado na quinta-feira, 10, no cemitério da Paz, no Morumbi (SP).
Professor Cagnin, como era conhecido e respeitosamente chamado foi um defensor convicto da preservação do meio ambiente no município que tanto, ou, pouco, soube aproveitar de sua genialidade. Sempre ativo e participativo, integrou comissões e conselhos municipais, se tornando um dos principais agentes de oposição ao atual governo. Cagnin foi contra a instalação da Rodoviária de Embu das Artes, local de várzea que, segundo ele, era rica em biodiversidade e deveria ser preservada.
Como acadêmico Antonio Luiz Cagnin foi graduado pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena (1958), mestrado pela Universidade de São Paulo (1974) e doutorado pela Universidade de São Paulo (1980). O ilustre morador de Embu das Artes foi um dos pioneiros no estudo sobre desenhos infantis (quadrinhos) no Brasil. Cagnin foi pesquisador do patrono dos quadrinhos tupiniquins, Angelo Agostini.
Natural de Araras, nasceu em 13 de junho de 1930, data essa que era pouco mencionada por ele, que um dia brincou em uma de suas raras entrevistas (Site: Bigorna): “Estou, como dizem os romanos, “fazendo os 81“, com os 80 já completos e passados. Fui batizado com o nome de Antônio por ter nascido em junho, dia de Santo Antônio, no dia 13, sexta-feira, quase às 13 horas, na cidade de Araras (dá pra ver pela cara de caipira, né?) uma cidadezinha do interior, a mais “bonita do ramal” da Paulista, diziam naquela época”. A entrevista foi publicada em 2010.
Na referida entrevista (ver aqui), Cagnin contou como conheceu e se apaixonou pela mágica dos quadrinhos. ”Desde moleque!!! A idade não sei, mas foi tão logo ganhei um álbum das aventuras do Reco-Reco, Bolão e Azeitona, do incrível Luiz Sá! Os personagens saiam na revista Tico-Tico e eram, na época, os mais queridos da garotada. Segundo o cartunista Fortuna, Luiz Sá produziu o primeiro desenho animado brasileiro, lá pelos anos 40. Eu era criança e recortava e colecionava as tiras em quadrinhos das histórias de Regina Mellilo de Souza, publicadas na revista Ave Maria, que minha mãe assinava. Já quando eu estava na USP, há anos atrás, pensei em encontrar Dona Regina e escrever alguma coisa sobre ela, uma das primeiras quadrinhistas de São Paulo, infelizmente desconhecida do público […]”, contou.
Respeitado por todos em Embu das Artes, Professor Cagnin foi Assessor de Educação na gestão do ex-prefeito, Nivaldo Orlandi, em 1983 e, segundo fontes, também teve importantes atuações nos governos municipais de Geraldo Puccini (1993 – 1996) e Geraldo Cruz (1° gestão: 2000 – 2004). Cagnin também atuou para a formação de importantes entidades de proteção ambiental. Ele foi diretor e fundador da entidade ambientalista Ibioca Nossa Casa na Terra e participou ativamente do Conselho do Meio Ambiente na cidade.
Aposentado pela Universidade de São Paulo (USP), Antonio Luiz Cagnin foi condecorado em 2008 com o prêmio Ângelo Agostini, uma das mais tradicionais premiações de arte seqüencial realizada no Brasil. Criado e organizado pela Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC – ESP), o Prêmio tem como objetivo “o resgate e a referência aos grandes artistas do quadrinho nacional”.
Cagnin têm em seu currículo a publicação de dois livros, sendo referência em sua linha de pesquisa e atuação. Foram eles:
- Cinquentenario da Revista O Tico-Tico, Aspectos Históricos e Educativos’. Editora: VEJA;
- Os Quadrinhos – Editora Ática;
Em suas palavras, numa despretensiosa entrevista, Antonio Luiz Cagnin se resumiu: O Antônio Luiz também há muito acalenta um sonho, num trabalho silente e ininterrupto, de buscar para Angelo Agostini a revelação para todo o mundo de sua obra impressionantemente bela, a recuperação de sua imagem lamentavelmente esquecida, e render-lhe a homenagem injustamente negada até hoje!
Por Alexandre Oliveira, do Linhas Populares