Cinema Mostra Aids compõe vasto panorama da doença no Brasil e no mundo
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 35,3 milhões de pessoas viviam com o vírus da aids em 2012, sendo mais de dois milhões adolescentes de 10 a 19 anos. Mesmo que dados do Programa Conjunto da ONU sobre HIV/aids apontem redução de 33% dos casos desde 2001, é assustador constatar que só no ano passado 2,3 milhões de pessoas foram contaminadas pelo vírus e que 4 mil morrem por dia em decorrência de complicações decorrentes do vírus (segundo dados da ONG Médicos Sem Fronteiras).
Boa parte dos filmes da nona edição do Cinema Mostra Aids trata sobre estes novos casos. O festival, que começa nesta quarta-feira (27) em São Paulo, é uma realização do Grupo pela Vida/SP. As obras relembram a agonia e a ignorância do passado e alertam para a importância de continuar a combater a doença – e o preconceito – no presente e no futuro. Quase 40 filmes serão exibidos no Cine Olido e no Centro Cultural São Paulo até domingo, 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids.
A maioria das obras é documental. É o caso do americano Ainda à nossa volta (Still Around), uma compilação de 15 filmes de diferentes diretores de San Francisco. Entre eles Blur, de Amir Jaffer, relembra os amigos e parceiros vítimas da doença; Rick Osmon apresenta uma conversa entre um sobrinho e o tio que o criou junto a um parceiro que já morreu; e em Ward 86, Debra Wilson relembra a enfermeira que a acolheu.
No mesmo formato, 7 bilhões de outros (7 Billion Others) conta várias histórias de pessoas de todas as partes do mundo. Feito pela Fundação The Good Planet, do fotógrafo e ativista ambiental francês Yann Arthus-Betrand, o filme, que é um dos destaques da mostra, reúne parte das 6 mil entrevistas feitas em 84 países pelo projeto que correu o mundo. Alguns depoimentos revelam questões ligadas a práticas sexuais, mas também religiosas, além de credos que fazem com que as pessoas não levem em conta a disseminação do HIV.
Outro destaque do festival é o documentário norte-americano, indicado ao Oscar, Como sobreviver a uma praga(How to Survive a Plague), dirigido por David France. O filme parte dos grupos Act Up (Aids Coalition to Unleash Power) e do Tag (Treatment Action Group), que combatiam a doença em Nova York na década de 1980. Em tempos de descoberta e disseminação rápida do vírus, os dois grupos combatiam a discriminação e pressionavam governos e laboratórios para a criação de uma política de saúde.
O desconhecimento da população e os programas incipientes do governo chinês são temas de três documentários da mostra. Dois deles são do diretor e ator Xiaogang Wei, que é militante da causa gay e do combate à aids na China, onde a doença ainda é considerada um tabu, mesmo com cerca de 800 mil infectados.
A Indonésia, um dos países asiáticos mais afetados pelo vírus, é tema do documentário Por uma dose mais limpa(A Cleaner Fix). O curta-metragem mostra a realidade que atinge os mais de 500 mil usuários de drogas injetáveis, mais de 70% deles soro-positivos.
O Cinema Mostra Aids apresenta ainda o documentário Sou mulher, sou brasileira, sou lésbica, de Vagner de Almeida; Se me deixam sonhar, em que Denise Martins adentra o universo de travestis e transexuais da cidade de Campinas, no interior paulista; e Sul Profundo (Deep South), em que Ligia Biagiotti mostra personagens de comunidades negras dos Estados Unidos.
Cinema Mostra Aids
Quando: 27 de novembro a 1º de dezembro
Onde: Cine Olido (Av. São João, 453) e no CCSP (Rua Vergueiro, 1000)
Quanto: R$ 1
Classificação: 16 anos
Confira a programação completa abaixo
por Xandra Stefanel, especial para RBA