Novas agremiações conseguiram registro no TSE e procuram ocupar espaço entre eleitorado que não se sente representado pelo “que está aí”, seja à esquerda, seja do lado oposto do espectro político
São Paulo – Nas últimas duas semanas, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou a criação de dois novos partidos. No último dia 15, o Partido Novo – legenda de direita fundada em 2011 por 181 profissionais liberais. E na última terça-feira, a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, que não conseguiu o registro no ano passado a tempo de participar das eleições.
O Partido Novo, na opinião de Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), é uma legenda que não só representa a direita, como não esconde sua posição. Esse é um diferencial em relação aos partidos que mal ou bem tentam ocupar espaço nesse espectro político. Enquanto outras agremiações conservadoras não assumem claramente o espectro em que atuam, se posicionando como uma direita envergonhada, o Novo não nega o que é. “O DEM, que está se esvaziando, e o PSD, que poderia ocupar esse espaço mas não está ocupando, não assumem com muita nitidez qual seu campo de atuação. A gente sabe, mas eles não deixam claro serem bandeiras dentro do conservadorismo.”
Ao se assumir, o Novo talvez consiga agregar um eleitorado e segmentos que não se sentem mais representados pelos partidos tradicionais e por uma direita fragmentada, na opinião da professora. “O raciocínio deles parece ser o de assumir esse campo à direita e seu eleitorado, que é claro, principalmente São Paulo”, diz. Tal eleitorado se identifica hoje com o PSDB, mas, para Maria do Socorro, pelo fato de o partido de Geraldo Alckmin estar no poder.
A principal estratégia de marketing do Novo é se mostrar diferente de “tudo o que está aí”. Por isso não tem, em seus quadros, políticos de trajetória conhecida ou experiência em política partidária. Mas a ideologia da legenda não tem nada de novo. O Novo é uma espécie de PSDB radicalizado e sem pudores de assumir suas posições. É saudado, por exemplo, pelo economista Rodrigo Constantino, colunista da revista Veja, presidente do Instituto Liberal e autor de livros com títulos sugestivos, como Economia do Indivíduo, Liberal com orgulho e Privatize Já.
“Os leitores que me acompanham há mais tempo sabem de minha ligação ‘umbilical’ com o Partido Novo”, escreveu Constantino em seu blog. “TSE aprova pedido e nasce ‘mais um’ partido no Brasil, mas o primeiro realmente liberal”, destaca ele no texto. Segundo o blogueiro Arthur Abdala, os movimentos direitistas Estudantes pela Liberdade (EPL) e Movimento Brasil Livre (MBL) têm por trás o Instituto Liberal.
Antes de obter o registro, a legenda já foi objeto de matéria da revista inglesa The Economist, em fevereiro. Segundo a publicação, o partido representa um nicho “estreito” da sociedade que defende “mercados livres, um Estado mínimo, impostos baixos e liberdades individuais”. Seu presidente é o banqueiro João Dionísio Amoedo, que justifica, em entrevistas, a criação do partido para defender essas bandeiras de Estado menor e menos intervencionista e maior participação dos indivíduos na sociedade. Obviamente, os integrantes do Novo são contrários a direitos sociais e coletivos como CLT, políticas de cotas, Bolsa Família.
Em entrevista à revista Época há um ano, ao ser perguntado sobre o que há “de novo no Novo”, Amoedo, que teve passagens exitosas como executivo no Citibank e no Itaú BBA, respondeu que “o principal é a ideia de que o indivíduo é o melhor gestor de sua vida. As pessoas tomam melhor as decisões daquilo que lhes afeta. No limite, mesmo que você não saiba o que é melhor para você, os recursos são seus”. Falou também sobre sua visão de economia: “Nossa visão é que o governo não deve ter empresa nenhuma”. E ainda: “O governo deve privatizar as empresas estatais, devolvê-las ao mercado”.
Rede com raízes
Já a Rede dispensa apresentações. Apesar de recém-registrada, tem raízes políticas relativamente sólidas. Sob a liderança de Marina Silva, nome consolidado eleitoralmente no país e capaz de receber cerca de 20 milhões de votos em cada uma das duas últimas eleições presidenciais, em 2010 e 2014, finalmente seguirá caminho próprio. Em 2010, Marina concorreu à presidência ainda pelo PV, e quatro anos depois a Rede se abrigou no PSB de Eduardo Campos, morto em agosto de 2014, dois meses antes do pleito.
Para Maria do Socorro, a estratégia da Rede de Marina é tentar ocupar um espaço à esquerda e centro-esquerda, aberto com a atual crise de representação que afeta todos os partidos. “Existe um espaço a ocupar à esquerda. Esse espaço, PSTU e Psol não conseguiram ocupar, não conseguiram a envergadura de um PT quando o partido de Lula começou a crescer nos anos 1990.”
Com a Rede e o Novo, os partidos registrados no país já são 34, número, pelo menos publicamente, considerado nocivo à democracia por lideranças políticas que vão de petistas a tucanos como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Para o mestre em Ciência Política e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP) Hilton Cesario Fernandes, embora precise haver imposição de limites a partidos que fazem o papel de legendas de aluguel, as duas legendas recém-registradas “podem colaborar para o aprimoramento da democracia”.
Independentemente de sua coloração ideológica, o Novo e a Rede são representativos de setores influentes na sociedade. “No caso do Novo e da Rede Sustentabilidade, há uma clara movimentação de grupos que não se sentem representados pelas legendas atuais. Diferentemente de partidos oportunistas que surgem como veículo para troca de legendas, eles surgem sem o apoio de máquinas partidárias ou governamentais”, diz Fernandes.
O TSE informou que a Rede conseguiu um total de 498.085 assinaturas de apoio, enquanto o Novo obteve 492.414. A legislação determina que, para ser registrado, um partido precisa comprovar no tribunal o apoio mínimo de 0,5% dos votos dados para a Câmara dos Deputados na última eleição geral. Isso corresponde hoje a 486.679 eleitores.
*Por Eduardo Maretti, da RBA