(Reportagem: Márcio Amêndola)
Com esta frase, Tainá de Oliveira Araújo registra na contracapa de seu livro a força e a tristeza da perda de um dos mais emblemáticos jovens a enfrentar seus algozes pelas armas, dando a própria vida contra a ditadura que se instalou no Brasil em 1964. José Campos Barreto, o Zequinha, ao lado do lendário capitão Carlos Lamarca, tombou no dia 17 de setembro de 1971, no sertão da Bahia, ambos crivados de balas disparadas pelo Exército.
O livro “Zequinha Barreto: operário, estudante, militante” é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na graduação de Tainá Araújo em jornalismo, pela Fapcom (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação) em 2019.
A obra se debruça sobre as principais passagens da vida de Zequinha Barreto, da infância dura no interior da Bahia, a passagem pela vida religiosa, a migração para a região metropolitana de São Paulo, suas experiências como líder operário e estudantil, até sua entrada para a luta armada e a violenta morte precoce, com apenas 25 anos incompletos. Para Tainá, o mais difícil foi traçar a história de Osasco, e falar sobre a passagem de Zequinha pelo Seminário de padres, em Pernambuco.
Um de seus professores afirmou na banca examinadora, ocorrida em 12 de dezembro de 2019, que o livro de Tainá merece estar em sua estante, ao lado de outros grandes livros, como ‘Os Carbonários’, de Alfredo Sirkis. Disse que há muito lirismo e poesia no texto da autora, ao relatar e saga de Zequinha Barreto. O orientador da graduação de Tainá agradeceu por ter a oportunidade de acompanhar e orientar esse trabalho, que mostrou muito bem a trajetória de Zequinha Barreto.
Uma das professoras na banca disse que Tainá já está madura para buscar um mestrado em jornalismo; lembrou também das dificuldades em pesquisar em Osasco, pois não há um Arquivo Público na Cidade, ou sequer um Centro de Memória, e os pequenos acervos encontrados estão sob guarda do movimento operário e instituições dos próprios trabalhadores. A professora elogiou a abordagem do livro de Tainá Oliveira, e que nas lutas de Osasco há “um material riquíssimo a explorar sobre a construção da consciência de classe dos trabalhadores, especialmente de Zequinha Barreto, e como isso se deu”.
O livro de Tainá de Oliveira Araújo é o melhor que surgiu nos últimos anos sobre as lutas de Osasco e a trajetória de José Campos Barreto, e sua edição e impressão em maior escala merece ser considerada.
Para um dos diretores do IZB, Antônio Carlos Cordeiro, a publicação do livro de Tainá é motivo de alegria. “Fico muito feliz que uma jovem negra, de família humilde, tenha concluído o curso superior e escolhido pesquisar Zequinha Barreto. Vamos fazer um esforço para publicar o livro da companheira Tainá”, afirmou.
O autor do prefácio do livro, o conhecido e combativo Bispo da Diocese de Barra, na Bahia, Dom Frei Luiz Flávio Cappio, lembra de Zequinha Barreto com respeito: “Este sertanejo admirável que, pela sua lucidez na compreensão dos fatos do momento histórico em que viveu e sua resposta ousada, transformou-se no grande herói como hoje o consideramos”. E sobre a iniciativa de Tainá escrever este belo livro sobre a saga de Zequinha, D. Cappio diz: “jovem igualmente sertaneja que soube captar a mensagem libertária de seu conterrâneo Zequinha Barreto, e escreveu este que considero um dos mais lúcidos depoimentos dos terríveis ‘tempos de fogo’ em que se constituiu a ditadura militar brasileira”.
Vale a pena conferir essa bela obra, escrita em forma intimista, dando-nos a dimensão humana e cativante de seu personagem central. Em uma das passagens do livro, citando a libertação de Zequinha após longa prisão decorrente da Greve de Osasco que ficou marcada na história da luta dos trabalhadores no país, Tainá escreve: “dezembro de 1968, recém-saído da prisão em São Paulo, Zequinha parte para o Buriti (sua comunidade na Bahia) onde é recebido com festa. Na casa da família não havia lugar para pisar, tamanha era a quantidade de gente que vinha cumprimentá-lo. Quando saiu dali era adolescente, agora voltava como um adulto”.
SOBRE A AUTORA
Tainá de Oliveira Araújo é nascida no povoado de Boca das Palmeiras, município de Brotas de Macaúbas, no sertão baiano, exatamente a mesma cidade de nascimento de Zequinha Barreto, daí a sua paixão e curiosidade em estudar e publicar uma obra sobre seu conterrâneo tão especial.
Tainá pegou gosto pela escrita e a literatura ainda na infância, quando aprendeu a arte do Cordel, tendo inclusive sido premiada por seus versos. Desde cedo também se preocupava com problemas sociais e chegou a ser líder da Pastoral da Criança e a coordenar grupos de jovens na Pastoral da Juventude em sua comunidade.
Parabéns Tainá por esta compreensão revolucionaria que você percebeu com a história de Zequinha Barreto