O documentário é um formato audiovisual que vem ganhando cada vez mais visibilidade ao longo dos anos. A escolha do filme Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou para a disputa do Oscar 2021 marca a primeira vez na história em que o representante brasileiro é um documentário. Com isso, o filme disputará uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional na premiação. O documentário escolhido trata da vida e morte do cineasta argentino naturalizado brasileiro Héctor Babenco e é dirigido por Bárbara Paz, que foi sua esposa durante os últimos anos de sua vida.
Renato Levi Pahim, professor da disciplina de documentários do curso de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, acredita que o documentário sempre foi tratado como secundário na indústria do cinema. “Essa noção está em cheque. As pessoas estão consumindo e respeitando mais o documentário, e acho que essa indicação para o Oscar espelha isso.” Levi Pahim também destaca como as plataformas de streaming vêm dando espaço para a exibição de documentários: “Acho que essas plataformas dão ao documentário uma possibilidade de ser muito mais visto”. Para ele, os documentários “não têm muita chance” de competição por salas de cinema.
Mas não é de hoje que os documentários brasileiros ganham destaque em premiações internacionais. No Oscar 2020, o documentário Democracia em Vertigem, da cineasta Petra Costa, foi indicado a Melhor Documentário. No Oscar 2011, também houve uma indicação nacional, quando o filme Lixo Extraordinário, coprodução entre Brasil e Reino Unido, foi indicado a Melhor Documentário.
Susanna Lira, diretora de documentários premiados como Torre das Donzelas, acredita que os documentaristas vêm ganhando esse espaço muito importante. “Os festivais ajudam a trazer reconhecimento para a produção de documentário brasileiro.” Ela também aponta que as políticas públicas de fomento ao documentário estão paradas há mais de dois anos. “Não deixaremos tudo que a gente conquistou ao longo desses últimos anos se perder por causa dessas dificuldades. Nós vamos continuar lutando para documentar um mundo e fazer com que as coisas que estamos passando não sejam esquecidas.”
*Por Edson Junior / Jornal da USP