Por Cristiane Del Gaudio
Faria aniversário, no dia 21 de março, Claudionor Assis Dias (1931/2006), escultor, pintor, ator, bailarino e poeta, artista que fez Embu ser das Artes, completaria quase um século nesse outono de 2021. A Estância Turística colonial acolheu o mineiro marceneiro que escolheu a Vila de M’Boy para se tornar Mestre Assis. Como não celebrar o seu legado?
Assis do Embu juntou-se a tantos outros artistas para moldar a identidade local e foi, sem pretensão, o relações públicas da cidade. Cidadãos de ontem e de hoje reconhecem que não há outro nome que tenha feito mais do que ele o papel de divulgador das qualidades naturais, gastronômicas e artísticas desse que é um recanto turístico ao lado da metrópole e portal para o destino Sul do Brasil.
Eternizado no nome do principal centro cultural na cidade, Assis incluiu Embu no contexto cultural nacional em 1956, recebeu os hippies em 1960. Fundou com eles a Feira de Artes e Artesanato de Embu, ainda referência de passeio típico brasileiro.
Embu, que se tornaria Embu das Artes, integra o Circuito Taypa de Pilão de São Paulo junto com Barueri, Carapicuíba, Cotia, Santana do Parnaíba e São Roque, e essa articulação teve, certamente, a influência de Assis, porta-voz entre intelectuais da época e enquanto viveu. Assim ficou conhecida e até hoje faz parte de roteiros turísticos internacionais de quem visita o Estado.
Ariano de personalidade marcante, Assis era sagaz, sarcástico, irônico. Suas conversas eram permeadas por críticas cheias de inteligência e perspicácia. Sedutor e envolvente, até quem não gostava dele há de admitir. Feliz de quem teve o privilégio conhecer e conviver com o boêmio, irreverente e talentoso Assis. Figura símbolo de um tempo tão rico da identidade embuense e brasileira que ainda encanta mundo afora.
Assis faria 90 anos, mas é de se questionar como o artista lúcido encararia o Brasil de hoje. Decerto que foi poupado de testemunhar as mazelas que vivemos. Ele e toda a sua geração, que não presencia as agruras desses tempos pandêmicos e de assombro dissimulado às liberdades. Viva, Assis! Viva a Arte e a Cultura! Até quando, Margarida?
Poema à Margarida
(Autor: Assis de Embu)
Havia flores lindas!
Sobre a relva fétida e espinhosa
Onde urubus passavam sem pousar,
Onde gambás tapavam suas ventas;
Havia flores sobre o asfalto
Esmagadas pelos pneus dos autos,
Pobres pneus que não sabem amar;
Havia flores brotando nas montanhas
Das sementes que eu deixei cair,
Mas o sol,
Mais perto da montanha
Era mais quente
Queimou a flor
Queimou a flor
Havia flores em Hiroshima e Nagasaki
E a bomba atômica desintegrou as flores
Havia flores plantadas sobre as nuvens
E os falsos anjos
Levaram-nas para os falsos deuses
Havia flores nos canteiros das beatas
E elas os levaram para morrer com seus mortos;
Havia flores nas bocas dos canhões
Até que um dia o homem matou a flor
E o homem…
Havia flores sobre os rios,
Sobre os mares,
Mas o homem na ganância do poder
Destruiu as flores
E ensangüentou os mares
Havia flores nos prostíbulos
E os cafetões pisaram as sementes
Havia flores nos guetos de Varsóvia,
E Hitler massacrou-as com seus tanques
Havia, e ainda há flores
No Vietnã,
Na África,
No Iraque,
Mas os Ianques, os russos
Incendiaram-nas com suas bombas.
Destruíram até as flores que
Eu plantei no meu canteiro
A rosa
O cravo
A violeta
A dália
A papoula
O jasmim
A margarida de ontem
A margarida de hoje
Que ontem era vermelha
E quente como o meu sangue
Que ferveu por ela
Mas, passou-se o tempo
E o seu calor foi, foi sumindo, sumindo…
Hoje a margarida é branca
É pálida, é fria
Só tem no centro
O amarelo do desespero
Porque a canalha
Metralha-as de São Domingos
Por que os homens
Ainda massacram seus irmãos?
Até quando, margarida?
Até quando, margarida?
Até quando, margarida?
Muita honra de ter conhecido e convivido com este mestre durante meu período de trabalho na Secretaria da Cultura.
Assis é um gênio das artes, e parece que aparecerá com seus trajes elegantes a qualquer momento numa das vielas do centro de Embu das Artes… ou na feira de artesanato, precursor junto com outros grandes artistas.
Assis era generoso, humilde apesar da aparência fina e impecável, morava nos últimos anos de vida num ” loft”da Rua São Paulo, não tinha geladeira, tinha como companheiro um rádio onde sintonizava na rádio Mundial 24 horas por dia e era rodeado por obras de arte, fotos e lembranças. Um homem vívido e forte, como sua arte.
Lembrar de Assis é lembrar da própria vocação que concedeu a esta terra que tanto amou.
Viva Assis de Embu!
Estava aqui agora falando com Edigar sobre uma letra de música que fala sobre os pioneiros das Artes de Embu
E sem dúvidas Assis está entre eles
O refrão da canção diz
” GRANDES MESTRES CRIARAM EMBÚ TERRA DAS ARTES RECANTO IDEAL
CENÁRIO EMOCIONANTE CRIAÇÃO DIVINA OBRA GENIAL
SAKAI MODELOU ASSIS ESCULPIU SOLANO TRINDADE FEZ A SUA PARTE
PESQUISAR NA FONTE DE ORIGEM E DEVOLVER AO POVO EM FORMA DE ARTE
Salve salve a Arte da Embú
Carlos Caçapava