Poder faz Chico Brito romper com Geraldo Cruz e estimular outros candidatos para deputado estadual nas próximas eleições. Vereadores e lideranças acompanham prefeito
Quando Chico Brito, o secretário da promoção social e depois chefe de gabinete do governo Geraldo Cruz, foi escolhido o candidato para disputar a prefeitura de Embu em 2008, o que mais pesou, como em quase todas as escolhas, foram as virtudes do candidato. Chico Brito era tido por todos e principalmente pelo então prefeito Geraldo Cruz, o candidato mais preparado, afinado com a gestão, bom articulador e excelente comunicador, além de grande líder. Ninguém via ou imaginava qual seria o seu vício.
Primeiro mandato
Na troca de cargos, em primeiro de janeiro de 2009, Geraldo Cruz fez questão de lembrar a todos que ao assumir a prefeitura em 1º de janeiro de 2001, a prefeitura não tinha nenhum dinheiro e também não tinha crédito. Ninguém queria vender para a prefeitura de Embu. E que após os seu dois mandatos, a situação era outra e deixava para o seu sucessor, Chico Brito, um saldo em conta corrente da prefeitura de mais de R$ 32 milhões.
Em balancete, publicado pela prefeitura de Embu, constava que o ano de 2008 terminara com um saldo nas contas bancárias de R$ 32.969.941,27. Do que ficou para pagar, valores empenhados e serviços prestados: R$ 11.256.671,14. Sobraram em caixa R$ 21.713.270,13. Naquele dia, Chico nada disse sobre os recursos deixados pelo antecessor.
Ali, naquele momento, talvez o ex-prefeito e atual deputado estadual Geraldo Cruz estivesse tentando premonizar que sua gestão seria melhor que a do seu sucessor e ensinar que ser bom prefeito é usar os recursos públicos com muita responsabilidade e economia. Nos primeiros dois anos, entre 2009 e 2010, as relações entre Chico Brito e Geraldo Cruz foram de amizade e cordiais, apesar das divergências administrativas entre eles. Em qualquer encontro, reunião e até mesmo em inaugurações, o prefeito Chico Brito fazia questão de elogiar as gestões de Geraldo Cruz e chamá-lo de prefeito, até que se tornasse deputado estadual.
Chico Brito fez campanha, ajudou na busca de recursos, compareceu em reuniões e palanques. Se desdobrou para ajudar a eleger Geraldo Cruz. Com a vitória consagradora de Geraldo a deputado estadual, com mais de 131 mil votos e quase 70 mil só em Embu, e a gestão de Chico Brito tendo aceitação dos moradores da cidade, as relações entre ambos continuaram cordiais publicamente, apesar de cada vez mais as visões de gestões estarem divergentes.
Na campanha de 2012 para a reeleição de Brito, a disputa ficou mais evidente; apesar de Geraldo Cruz defender a continuidade do governo Chico Brito e fazer a defesa de seu governo, havia uma disputa entre os candidatos preferenciais para a Câmara de Vereadores, entre Cruz e Brito. Passadas as eleições e empossados os vereadores, todos apoiam e defendem incondicionalmente o prefeito Chico Brito, até quem se declara oposição.
Segundo mandato
Em 2013, na gestão do segundo mandato, Chico Brito fez uma grande mudança no seu secretariado e nos adjuntos. Hoje a gestão é cada vez mais de assessores ligados ao atual prefeito ou que defendem as propostas de Chico e discordam das críticas de Geraldo Cruz sobre as ações do governo. Aliás, para quem ousa questionar o governo Chico Brito, “a porta é a serventia da casa”. A ex-vereadora e até recentemente secretária-adjunta de Saúde, Maria das Graças foi demitida recentemente. Segundo apurou o jornal, ela estava preparando um relatório apontando falhas e erros na gestão do PS Central.
Outro caso aconteceu com o vereador Jefferson do Caminhão do Lixo. No ano passado o vereador foi chamado pelo prefeito e convidado para sair do PR (Partido da República) e filiar-se ao partido recém-criado PROS (Partido Republicano da Ordem Social). O vereador pediu para pensar e voltou, dias depois, para dizer não. Alegou que gostava de seu partido e que não havia motivos para trocar de partido pois tanto o PR quando o novo PROS fazem parte da base de apoio ao governo Chico Brito e ao Governo de Dilma.
No dia seguinte, o vereador foi surpreendido com as demissões de funcionários da prefeitura indicados por ele. Essa história foi relatada por Jefferson na sessão da Câmara de Embu. Está gravada e registrada.
Campanha eleitoral de 2014
O prefeito Chico Brito tem hoje o total controle sobre os vereadores, tanto do PT, quanto dos demais partidos com representação na Câmara. Tem a total hegemonia e liderança junto aos presidentes e lideranças de partidos coligados com sua administração e tem o atual diretório do PT sob o seu comando, com os empossados pela eleição de novembro, pois a maioria, ou senão a totalidade, são funcionários da prefeitura ou de gabinetes de vereadores do partido.
Segundo informou um vereador, que pediu anonimato, é certo que o PT de Embu lançará mais um outro candidato a deputado estadual, já que a candidatura de Geraldo Cruz é garantida pelo estatuto do partido. O nome mais cotado, até o momento, é o do vereador e reeleito presidente do diretório do PT local, João Leite. Perguntado sobre o que levou a esse racha com o deputado Cruz, o vereador apontou várias razões, entre elas que Geraldo Cruz queria o diretório, o apoio total à sua candidatura e sua indicação para a sucessão de Chico Brito. Além disso, não reconhece a derrota no diretório. “Ele queria tudo. Quem ele pensa que é? Não vai ter nada. E será massacrado se for louco de sair candidato a deputado estadual”, profetizou o vereador Leite.
O poder
O jornal vai tentar uma entrevista com o prefeito, já que ele considera o Retrato um jornaleco, palavras dele em uma reunião com funcionários comissionados para explicar a denúncia da “Mafia do Asfalto”, na casa de Shows Caipirão. Essa é outra questão que aumentou a ira de Chico sobre o deputado Geraldo Cruz. Integrantes do PT de Embu confirmaram ao jornal que o prefeito acha líquido e certo que Cruz ajudou com informações sobre a Demop (empreiteira envolvida na investigação do MPF e MP Paulista) ao dirigente do Psol, professor Toninho.
E essa denúncia da Máfia do Asfalto pode trazer consequências graves ao prefeito. Diante dos fatos, é possível identificar então, qual seria o vício de Chico Brito, escondido ou não percebido pelos que conviveram com ele antes de se tornar prefeito: o Poder. E o poder absoluto. Mas esse vício é mesmo apenas um péssimo vício. A história já mostrou à exaustão, que o poder não dura para sempre.
É só lembrar da ascensão de Luís XIV e ver como acabou Luiz XVI, da França, como lembrou o saudoso professor Antonio Luiz Cagnin, em carta ao jornal em janeiro de 2013, sobre o governo Chico Brito. E nesse contexto faz sentido lembrar a frase atribuída a Martin Luther King: “O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos”.
(Por Wagner Corrêa – Jornal Retrato)