A moeda que prometeu unificar economicamente a Europa parece desmanchar-se como um cubo de açúcar na chuva. Resistirá à crise econômica européia e aos ataques especulativos da ‘derrama’ do Dólar de Obama? E o Brasil com isso?
Houve – e há ainda – um tempo em que se dizia que o bater de asas de uma borboleta na China poderia causar a queda do mercado financeiro na América Latina. Mr. Obama bateu as asas, esperneando sobre o real valor da moeda chinesa. Emitir dinheiro a granel é receita para desvalorização rápida, inflação e achatamento do poder aquisitivo dos assalariados, todos sabem. Alguém deveria dizê-lo ao presidente americano. E avisar ao condomínio Brasil.
Como se não bastasse o braço de ferro cambial entre EUA e China, o euro vai mal. Aliás, corre o risco de desaparacer antes mesmo de completar dez anos. Países da União Europeia que possuem um spread (*) maior para as próprias dívidas públicas, como Irlanda, Portugal e Grécia, se encontram em dificuldades para honrar os compromissos assumidos, numa situação oposta em que se encontram os países da UE com spread menor, como Alemanha, Inglaterra e Holanda, por exemplo. Essa diferença é causada pelo fator de risco calculado em função da disponibilidade financeira de cada país, que representa a diferença entre receita e despesas.
Portugal já está cogitando abandonar o Euro e voltar ao Escudo ou a uma nova moeda. Tudo porque o Euro engessou a possibilidade de desvalorização, como era praxe nos países mais pobres antes da entrada do Euro como moeda única da UE. A base do Euro foi o Marco alemão: 1 Euro = 1 Marco. Para dar uma ideia mais clara ao leitor, basta lembrar que a Lira italiana (uma das moedas que flutuavam no câmbio com o Dólar) tinha um valor muito inferior: 1 Euro = 1.936,27 Liras.
O presidente permanente da UE, Herman Van Rompuy, declarou que os problemas de balanço de alguns países põem em risco a sobrevivência da “Zona Euro” e da própria UE: “Estamos diante de uma crise para a nossa sobrevivência”, declarou van Rompuy em Bruxelas. “Temos que trabalhar todos juntos para permitir à zona euro de sobreviver. Aliás, se o Euro não sobreviver, nem mesmo a UE sobreviverá”. Mais adiante afirmou ter esperanças: “Tenho confiança de que superaremos este momento”. Já o comissário da UE para a área econômica e monetária, Olli Rehn, em sua chegada à reunião do Euro Grupo (**) em Bruxelas tranquilizou: “A Comissão Europeia está trabalhando com o Banco Central Europeu e o FMI junto às autoridades de Dublin, para resolver os sérios problemas que atingem o sistema bancário irlandês”.
As reuniões desses dias devem afrontar a questão da concessão de eventual auxílio à Irlanda. A Comissão Europeia manifestou disponibilidade, assim como o presidente do Euro Grupo, Jean-Claude Junker, que afirmou que a UE está pronta para ajudar Dublin. Diante da pergunta se a atual posição da Irlanda gere preocupação, Junker respondeu: “Sim”. E imediatamente completou: “Se os irlandeses apresentarem um pedido de ajuda europeia, serão atendidos”. Mas a Alemanha freia: “É a Irlanda que deve decidir, mas não acredito que Dublin precise [de ajuda]”, disse o ministro da Economia alemão, Rainer Bruederle. “O que precisa nesta fase – disse o comissário Rehn – é sobretudo a determinação dos países em levar adiante o saneamento das contas e as reformas estruturais. Além disso, os instrumentos para assegurar assistência financeira aos estados em dificuldade estão à disposição de quem os solicitar, recorrendo como último recurso. Mas até esse momento parece que a Irlanda não tenha a intenção de apresentar um pedido de ajuda”.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, se mostra otimista ao mesmo tempo em que sugere à Europa a agir: “A Europa tem os instrumentos para gerir os desafios financeiros”, como a situação do débito irlandês, mas “deve agir depressa sem perder tempo precioso”. A zona euro atravessa uma nova fase de turbulência que não está ligada apenas às dificuldades da Irlanda, mas também de Portugal, Grécia e Espanha, países que registram um deficit muito elevado. A questão é o tema dominante do encontro mensal dos ministros do Euro Grupo, que precede o conselho entre ministros de toda a UE no dia 27 de Novembro.
BRASIL
O Brasil é um dos países que pode sofrer consequências, se a crise se agravar. As borboletas europeias estão saindo do casulo exatamente no período de transição Lula-Dilma e poucos estão dando atenção à crise, como se fôssemos imunes. É como se o Brasil estivesse ocupado com o vazamento no apartamento da vizinha do andar de cima, o miado dos gatos e outras picuinhas de condomínio, sem perceber que os tratores para a demolição já chegaram às portas.
(*) Spread (diz-se spréd) – é a diferença entre as taxas de risco e juros, neste caso.
(**) Euro Grupo – centro que reúne ministros da Economia e das Finanças dos estados membros que adotaram o Euro – a chamada Euro Zona. Trata-se de uma reunião informal que ocorre às vésperas de um conselho dos ministros da Economia e das Finanças, chamado Ecofin, que discute as questões ligadas à união econômica e financeira da UE.
(Allan Robert P. J., Correspondente na Itália, para o Fato Expresso)
Ana,
Ao contrário das crises que enfrentamos nos últimos 20 anos, as quais provocaram efeitos danosos nos países emergentes, a atual situação envolve os países ricos e pode ter repercussões muito negativas na economia brasileira por anos. É torcer para que a Europa e EUA encontrem uma solução rápida.
É verdade, Erica, boa parte dos europeus esperam que o “governo” resolva tudo, afinal, todos (ou quase) pagam impostos. Porém acredito que a sobrevivência do euro como moeda dependa de soluções políticas desagradáveis como as que estamos presenciando aqui na Itália. E isso, como bem sabemos, desagradam eleitores. 🙂
Oi Allan,
Achei ótima sua matéria. Infelizmente a Europa está “mal das pernas” e isso é visível no dia-a-dia. Tem gente insatisfeita com o trabalho atual mas usa a questão da crise para nem sequer buscar outro. A mais de dois anos, o tema CRISE NA EUROPA é foco em conversas de bar, onibus e restaurantes. Só que o cidadão Europeu é muito vitimista, reage muito pouco perante as dificuldades.
Verdade Erica. Pra nós, brasileiros, calejados de tantas crises, inflação, juros e outras atrocidades, uma crise como a atual talvez não tivesse esse ‘ar de panico’ que tem na Europa. Tenho a impressão que é mais ou menos como uma criança que sempre teve tudo, se nao pode ter mais um celular entra em panico, o inicio do fim. DRAMA. Ja pra uma criança que nao teve sempre um celular, se fica sem, tudo bem. Se o tem, melhor. Mas digamos que o valor dado a situação é proporcional a realidade. Pra toda crise tem uma solução, memso que leve anos. Vide Brasil, Argentina, etc…