“O conceito de participação é de fundamental importância. Ele é válido na atual quanto em qualquer sociedade emancipada do futuro. Em primeiro lugar, seu significado, nas atuais circunstâncias, não é apenas um envolvimento mais ou menos limitado em discussões geralmente reduzidas ao ritual vazio da ‘consulta’ (seguido pelo superior descaso) … Quanto ao futuro – não importa o quanto esteja distante – participação significa o exercício criativo, em benefício de todos, dos poderes de tomada de decisão adquiridos, trazendo à tona os ricos recursos humanos dos indivíduos reunidos a um ponto jamais sonhado nas formas anteriores de sociedade”. (István Mészáros, Introdução a nova edição do “O poder da ideologia”)
*Márcio Amêndola
Recentemente fui convidado por um jornal (Folha de Embu) para tecer considerações como jornalista, da entrevista coletiva do prefeito de minha cidade, Embu das Artes, numa visita programada às obras públicas municipais. Enviei meus comentários por escrito, mas por aquelas questões editoriais de espaço, diagramação, entre outras, percebi que minhas declarações não haviam sido publicadas na íntegra. Pudera, estourei o espaço de um parágrafo que gentilmente me solicitaram. Falo demais, eu sei. Mas ao ler as respostas dos ‘coleguinhas’, com o devido respeito, percebi uma exagerada subserviência de um ou outro.
Ao invés de falarem tecnicamente como foi o contato com o prefeito, quer dizer, se houve espaço para desenvolverem bem seu trabalho, aproveitaram o tal parágrafo para despejar elogios e discorrer sobre as obras do prefeito, quando, na verdade, foram solicitados a falar como repórteres, em relação a seu objeto, no caso, o ilustre entrevistado.
Para resolver várias questões que ficaram em aberto, deixo agora para reflexão do leitor, a íntegra do que declarei à Folha de Embu, sem cortes, sobre minhas impressões, como jornalista, sobre a entrevista do prefeito aos veículos de comunicação:
“Considerei a visita do prefeito às obras públicas com a imprensa um fator positivo. Afinal, ele é o funcionário público de maior responsabilidade do município, e deve satisfações à comunidade que o elegeu justamente para cuidar da cidade. Nada mais transparente do que o que fez, mostrando seu trabalho aos cidadãos através dos meios de comunicação da região. Quanto aos resultados, não foram tão bons por algumas pequenas questões.Por exemplo, alguns veículos conseguiram maior atenção do prefeito de forma pouco ética. Um jornalista chegou a ficar quase quatro horas falando praticamente sozinho com o prefeito, atrapalhando o trabalho dos demais colegas. O curioso é que o rapaz não portava caneta, bloco de anotações, gravador, nem sequer uma máquina fotográfica. Obviamente não vai escrever em seu jornal uma única linha do que perguntou. Afinal, o que ele fazia lá, batia papo com o prefeito, e vai aguardar o press-release?
O tal jornalista atrapalhou muito. Por exemplo, na entrevista que a colega Karen Santiago (Jornal na Net) tentou fazer com o prefeito sobre o problema dos entulhos, o prefeito só concluiu a metade da resposta à primeira pergunta. Foi interrompido pelo ‘coleguinha’ da imprensa que não anota nada, e o prefeito abandonou o assunto. E olha que a resposta dele até estava interessante. Chico Brito admitiu que o entulho jogado na cidade é um grande problema, e que uma das possibilidades é a instalação de uma usina de reciclagem do entulho para aplicações na construção civil. Das próximas vezes espero maior atenção do prefeito a todos os jornais e sites, bem como a todos os jornalistas, cada um em particular, e não apenas a um ‘papagaio de pirata”.
Posto isto, vamos a algumas outras questões. A liberdade de comunicação e informação é uma das cláusulas pétreas inscritas na Constituição Federal de 1988. O que tenho observado em minha e em outras cidades, é uma baixíssima intolerância à crítica, por parte de agentes públicos com mandatos concedidos pelo povo justamente para cuidarem com zelo, transparência e honestidade da ‘coisa pública’, aliás, a palavra República tem origem daí, ‘res-publica’, ou seja, coisa pública.
Mas o que tenho visto são órgãos de comunicação sob uma permanente tensão, não diria censurados na acepção do termo, mas certamente autocensurados, e um dos motivos é aquela ironia da vida capitalista, a da sobrevivência financeira. Numa região onde mais de 50 veículos, entre jornais, revistas e sites de comunicação se engalfinham por um lugar ao sol, alguns agentes públicos já perceberam sua grande capacidade de manipulação. Os jornais também são ‘culpados’ por, em sua maioria (há exceções!) não terem estrutura jornalística real, ou seja, aquela com redação, repórteres apurando, escrevendo, opinando. O que impera é a praga do ‘press-release’ como se fosse matéria acabada e pronta para publicação, na íntegra. Mas se vou publicar tudo – e somente – o que os outros me mandam, qual meu papel social na mediação com a comunidade? Como o povo, o eleitorado poderá ser informado de maneira isenta e crítica, se o agente público está realmente empenhado em dar encaminhamento e solução para as demandas, por mais saúde, educação, moradia, infraestrutura, segurança?
Já dizia Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra. Causa-me náusea e espanto ver DEZENAS de jornais publicando sempre o mesmo texto, a mesma foto, sobre o mesmo assunto. Onde está a tal liberdade de comunicação e informação? Consensos podem ser simplesmente fabricados, mas o agente público tem de colocar as mãos na consciência e tomar o cuidado para não pagar para ser enganado. Sou de um tempo em que o VERDADEIRO amigo era aquele que tinha a coragem, e porque não o dever, de criticar o amigo. Mas tem gente que paga pra receber elogios, e quando o circo der sinais de fumaça, os que recebem pra elogiar, serão os primeiros a deixar a lona. Afinal, como vi estampado num muro do Morro do Alemão (RJ), “a alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo”.
Espero dos agentes públicos (particularmente os que foram ungidos pelo voto popular) um pouco menos de Maquiavel, e um pouco mais de Montesquieu (Alô, Câmaras Municipais, leiam este cara!). Afinal, foram colocados lá para cumprir as leis e dar solução aos problemas coletivos, e não para se perpetuarem no poder. A PARTICIPAÇÃO e o envolvimento real da comunidade nos destinos de uma cidade, um País, evita tais consensos fabricados, estampados em páginas de jornais vendidos como se fossem notícia. É uma pena que, cada vez menos, temos a oportunidade de acompanhar o que realmente acontece, de um ponto de vista externo, insuspeito. Uma pena para a democracia, especialmente. Desculpem-me os colegas da imprensa regional pela franqueza neste espaço, mas como dizia Montesquieu, “defenderei sempre o direito de discordarem de mim.”
**Márcio Amêndola de Oliveira é Graduando em História pela Universidade de São Paulo (USP) (contextohistorico.blog.terra.com.br); Coordenador de Documentação e Memória do Instituto Zequinha Barreto (zequinhabarreto.org.br); Assessor de Comunicação da Câmara de Embu [cmembu.sp.gov.br]; Diretor do Site (www.fatoexpresso.com.br)
O QUE ESTAR FALTANDO DE VERDADE PARA O POVO DO EMBU E SEGURANÇA PÚBLICA DE CINCO ANOS PRA CÁ E VISSIVÉL A NECESSIDADE DE SEGURANÇA, E O DESCASO DO GOVERNO ESTADUAL COM A SEGURANÇA EM NOSSO MUNICIPIO…
Rapaz, agora imagine o que anda acontecendo na nossa Assis velha de guerra. A briga entre os órgãos de ‘imprença’ para ver quem pendura mais no prefeito de plantão é de foice no escuro. Tem um site, Primeira Conexão, que só falta dizer que o cocô do prefeito é cheiroso…
P.S.: o pai do Lilique não é médico, e sim professor e diretor de escola aposentado. Sr. Rossini e D. Izaura continuam firmes e fortes por aí. A irmã dele é a Soninha.
Márcio,
Também pelas bandas de cá o jornalismo deixou de existir. Matéria tendenciosa ou pouco técnica para evidenciar a posição de quem escreve já é pouco ético, mas o leitor atento não compra gato por lebre. Já o que os jornais de hoje apresentam é, sim, ‘press-release’, normalmente escrito por alguma agência de notícias e reproduzida por milhares de páginas de jornais diferentes. O grande risco – além da superficialidade da informação – é a propagação de uma versão que se quer oficial. E você sabe: repetir uma mentira várias vezes acaba convencendo.
Teve tempo de ver o vídeo que lhe indiquei, ou já o tinha visto?
Abração 🙂