Nós, artistas, artesãos e comunidade cultural do Embu das ARTES, consideramos importante que se conheça nossa posição a respeito do plebiscito que ocorrerá no dia primeiro de maio.
O plebiscito não prevê a mudança de nome da cidade, mas a oficialização do nome pelo qual a cidade é conhecida e reconhecida, no Brasil e no exterior, há dezenas de anos. Independente do sim ou do não, o Embu continuará a ser o Embu das ARTES, graças aos artistas que fizeram, fazem e farão a História das ARTES do Embu.
Votar SIM é SIMplesmente SIMbólico. E o NÃO não é seNÃO um protesto dos que acenam às falhas das políticas públicas de ARTE e cultura na cidade do Embu, e outros protestos sobre a relevância do plebiscito. Pois já somos e continuaremos a ser o Embu das ARTES de fato – faltando apenas o sermos de direito.
Mais uma vez vemos o governo se apropriando de nosso sonho e de nossa história. O plebiscito, além de ser importante à nossa identidade, é um oportunismo político. Defendemos e defenderemos o Embu das ARTES, independente do que disserem as urnas. Mas esperamos que toda a cidade enxergue esse momento histórico de reconhecimento daqueles que foram e são os protagonistas das ARTES no Embu. Os responsáveis por nosso sobrenome.
A Prefeitura demonstra, através de sua posição pró Embu das Artes, que entende (finalmente!) e apoia a cidade enquanto polo artístico e cultural. Agora, esperamos que com a oficialização do nome e sobrenome, haja políticas públicas efetivas que possam reverter situações históricas, antigas e atuais, sobre o imenso descaso que existe em relação à classe que criou, cria e criará a identidade da cidade do Embu. Não podemos deixar de ver ironia nessa posição, pois inúmeras ações do Governo criam conflitos, até de ordem legal, com a classe artística. Como por exemplo:
- PORTAIS – A Prefeitura lançou um edital incoerente para a realização de 13 portais na cidade, manipulado e direcionando para artistas de outros locais. Nós, artistas do movimento cultural de Embu das ARTES, protestamos, inclusive na justiça. Mas o governo não cedeu, e teremos na cidade imensas obras de “arte” que não refletem nossa história. Treze portais, e nenhum artista da cidade (?!!). Um processo que começou errado, teve embates errados durante o processo, e está terminando de maneira ainda pior. Um inexplicável e injustificável desrespeito.
- OBRA NA PRAÇA – A primeira (e até agora única!) obra de arte em praça pública da cidade, foi colocada pela Prefeitura atual que “defende” o Embu das ARTES. Mas a obra não é de um artista do Embu, e foi colocada sem qualquer diálogo com os artistas locais… Onde está a coerência?
- CONFERÊNCIAS DE CULTURA – Já fizemos duas, e muito pouco do que foi deliberado foi feito. A primeira trouxe inúmeras idéias e teve muita participação. A segunda praticamente não aconteceu, por desilusão da classe artística. Neste ano haverá a terceira… Haverá mesmo? E para quê?
- CONSELHOS MUNICIPAIS – O Conselho de Cultura inexiste de fato. Saiu do papel apenas para se cumprirem metas. Mas é boicotado pelo Governo Municipal e pela Secretaria de Cultura, que dele não participam, e sequer abrem as portas para que as reuniões aconteçam! E o Conselho de Turismo não consegue avançar, por não ter suas deliberações executadas. Artistas da cidade estão se afastando e renunciando a seus cargos (sempre voluntários, aliás), devido ao descaso oficial.
- FEIRA DE ARTES – Mas onde estão nossos artistas e artesãos? São poucos os que conseguem sobreviver de sua arte, e muito poucos os que participam da Feira. É desleal a concorrência com a revenda e o “industrianato”. Mas somos tantos os artistas verdadeiros na cidade! Tantos os que realmente produzem, mas não têm espaço! Alguns inclusive são afastados da Feira pela Prefeitura, por não “pagarem” a taxa! Mas os revendedores sempre a pagam… e permanecem!
- DESCARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA – O Centro Histórico está cada vez mais descaracterizado. Agora, resolveram trocar os lampiões, condizentes esteticamente com a época colonial, por luminárias modernas! Será que ninguém na Prefeitura enxerga este absurdo, esta destruição de nosso patrimônio? E as fachadas das lojas e bancos? As placas horríveis de indicação turística?
Mas também parabenizamos o Governo Municipal, de outro lado, por alguns inegáveis avanços que têm ocorrido. A cidade, como não poderia deixar de ser, está crescendo, e isso também se reflete na ARTE e na cultura. Apoiamos as ações positivas. Entre elas:
- SECRETARIA DE CULTURA – Finalmente, depois de 50 anos de emancipação e mais de 450 de história, o Embu das ARTE criou em 2009 sua Secretaria de Cultura. Ainda há muita incoerência e falhas e falta de transparência na gestão democrática e nas propostas artísticas e culturais. Mas sua criação é um grande avanço.
- CENTROS CULTURAIS – Em 2005 foi criado o Centro Cultural Mestre Assis, no Centro. Em 2009, o Centro Cultural Valdelice, no Parque Pirajuçara. Outros dois estão sendo construídos nos bairros. Uma ação extremamente importante, para que ARTE e cultura se espalhem por todo o município, apoiando e incentivando novos artistas. Mas esses espaços ainda estão sendo usados mais para eventos e encontros, do que para ARTE e cultura. Faltam políticas públicas mais efetivas. Mas é preciso começar, e suas efetivações são, sem dúvida, um ótimo e louvável começo.
- PONTOS DE CULTURA – Em 2009 a cidade foi contemplada com dois Pontos de Cultura, através de parceria com o Estado. O Município implantou e apoiou mais oito em 2010. Hoje, são dez pontos de cultura que desenvolvem projetos no Embu das ARTES, através deste importante programa do Ministério da Cultura.
- LIVRO DA RAQUEL TRINDADE – Patrocinado pelo Governo Municipal, com distribuição nas bibliotecas e escolas, o livro de nossa mestra da cultura conta a história do Embu das ARTES, com grande ênfase no movimento artístico e em seus protagonistas. Um material de extrema qualidade para ensinar nossa história e identidade às crianças e jovens. Lançado em 2004 e reeditado, bem mais completo, em 2011.
- 27° SALÃO DE ARTES – A retomada dos Salões de Arte, após cerca de 20 anos de inanição, foi um marco para a cidade. Uma comissão organizadora composta basicamente de artistas, concebeu esta retomada. Falhas? É claro que houve. Mas pôde-se mostrar a potência artística da cidade, tanto em sua produção própria quanto para receber eventos e artistas de fora.
- UNIFESP – A vinda da Universidade Federal de São Paulo para o Embu das ARTES é um marco para nossa história cultural. Existe a intenção deste ser um Campus muito voltado à Arte e à Cultura, o que será um grande diferencial para a UNIFESP, e uma grande honra para a cidade de Embu das ARTES. Dentre os cursos de extensão que já têm ocorrido, inúmeros relacionam-se à ARTE.
Mas há dívidas para com a ARTE e a cultura que têm de ser sanadas! Não podemos continuar a ver muitos de nossos artistas morrerem à míngua, sem quaisquer apoios do poder instituído. Construímos esta cidade das ARTES, vivemos e morremos por ela. Que esse momento histórico resgate e homenageie a memória de artistas como Cássio M’Boy, Mestre Sakai, Solano Trindade, Assis do Embu, Panayotis, Cristo do Embu, Aurino Bonfim, Família Silva, Luzia e o irmãos Caetano, Josefina Azteca, Jaldo Jones, Mestre Pracílio, Paulo Som, Ana Moysés, Potiguá, Joel Câmara, Milton Jorge, Agenor, Mestre Gama, Walter Sena, Aurora, Elísia Cachoeira, Benê Silva, Albert Vidal, José Agripino, Tonico das Calimbas, Cirso Teixeira ……. ………. e tantos outros mais que viveram e morreram aqui. Que em nome deles, e em nome dos que ainda sobrevivem na cidade, como um contraponto a este momento histórico, nos manifestamos para que façam em nossa cidade de Embu das ARTES:
- CASA DE APOIO AO ARTISTA – Como um local que ampare os artistas e artesãos em necessidade, quer temporária e pontual, quer devido à idade avançada.
- CENTRO DE REFERÊNCIA DO ARTISTA – Nos moldes de outros centros de referência, um que atenda especificamente às necessidades da classe artística, tão abundante em nosso município, e com especificidades e características próprias. Seria, até onde sabemos uma instituição pioneira, e de grande impacto em políticas públicas e sociais.
- SECURIDADE SOCIAL AO ARTISTA – Assim como a maioria da classe artística nacional e mundial, o artista, artesão e ativista cultural em geral trabalha por conta própria, através de projetos e ações pontuais, e não tem sua profissão regulamentada. A necessidade de apoio e formalização é premente.
- RETOMADA DO MUSEU HISTÓRICO – Já tivemos um Museu, que foi fechado e pilhado, com obras históricas que se perderam. Era responsabilidade do Estado, e não foi assumido, posteriormente, pelo Município. É preciso, para manter nossa memória, que ele seja reinaugurado.
- LEIS DE APOIO E FOMENTO – São várias as ideias de leis que apoiem e fomentem a ARTE no Embu. Vamos colocá-las em prática.
- REVITALIZAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO E DA FEIRA E DAS ARTES – Merecemos ter no Embu das ARTES artistas e artesãos nas ruas, produzindo ao vivo, ensinando as novas gerações e reeducando nosso turismo cultural. Merecemos ser uma cidade que vende o que produz.
- EDIÇÃO DO LIVRO DO PEDRO SATURNINO – Pronto há tantos anos, escrito, revisado e prefaciado… Mas nunca editado. Está mais do que na hora.
- CONFECÇÃO DO PAINEL DO JOEL CÂMARA – Foi feito o projeto, pago o direito autoral e comprado o material em 2006. E até hoje a obra, no Centro Cultural, sequer começou. Joel Câmara faleceu e sua memória merece ser preservada e cristalizada nesta obra.
- ARTE NAS RUAS E PRAÇAS – Pra reverter o imenso mal-estar causado pela obra na entrada da cidade e pelo episódio dos Portais, o Governo Municipal precisa abrir novos espaços para que nossos artistas possam ocupar as áreas públicas com sua arte, e a arte dos que vieram antes e construíram nossa cidade de Embu das ARTES.
- TRANSPARÊNCIA NAS VERBAS E EVENTOS DA CULTURA E TURISMO – Mais transparência e participação no uso das verbas, dos Fundos, dos repasses do DADE – não apenas aos Conselhos, tão precários ainda, mas a toda a classe artístico-cultural.
É o que queremos para nossa cidade de Embu das ARTES, em nome de nossos artistas e artesãos já falecidos, em nome dos que estão com mais de 60, 70, 80 e 90 anos, e também em nome dos adolescentes e jovens que ainda terão de sobreviver de cultura, na cidade das ARTES.
HÁ e HÁ(verá) e HÁ(veremos) de ver ARTE por toda parte na cidade do EMBU
Parabéns
Embu das ARTES
NÓS,
artistas, artesãos
e ativistas culturais
do Embu das ARTES
(*Enviada sob responsabilidade de Renato Gonda, em nome dos Artistas e Artesãos de Embu. Este espaço é democrático e o Fato Expresso abre aqui a oportunidade para quaisquer opiniões em contrário. Publicamos as opiniões enviadas por nossos leitores para o debate a reflexão sobre quaisquer temas da atualidade, sem censura. As opiniões aqui publicadas não refletem a opinião do Site. Veja artigo de Márcio Amêndola sobre o Plebiscito de Embu das Artes, em http://www.fatoexpresso.com.br/2011/04/25/sim-ou-nao/ )
Parabéns ao Fato Expresso pela publicação e ao Renato Gonda pela elaboração e divulgação do texto esclarecedor e objetivo!