Allan Robert P. J.
– Olha, Gianni, eu acho ótimo que essa sua curiosidade se una à capacidade de aprender coisas tão diferentes e que você procure sempre dar o máximo em tudo aquilo que faz. A curiosidade é uma das alavancas do progresso que nos conduziu até o século vinte e um. Quando se é jovem, no mercado de trabalho, esse tipo de comportamento pode fazer a diferença entre uma carreira brilhante e a mediocridade dos relatórios. Procure utilizar um pouco mais de tempo em cada fase do seu processo de aprendizado para evitar a superficialidade. Use o seu potencial para absorver o máximo e certificar-se de que realmente entendeu cada detalhe. Queimar etapas no momento em que a empresa ainda não espera resultados concretos pelo seu desempenho é um desperdício. Você poderá ter dificuldades quando não tivermos a mesma disponibilidade e estiver em suas mãos a condução de um projeto.
– Você está me dizendo que não devo ser tão ansioso e prestar mais atenção para não cometer tantos erros?
– Não. Eu acreditava, até segundos atrás, poder contar com você para auxiliar-me em algumas tarefas simples, que cresceriam de importância à medida que você fosse demonstrando maior domínio de toda a nossa operação. Mas devo confessar que eu questiono a inteligência de quem tenta enfiar toda a minha diplomacia em uma frase tão curta. Soa-me arrogante. Volte ao trabalho.
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A capacidade de síntese é, muitas vezes, essencial. Podemos ser prolixos numa conversa de bar, ou quando a situação não exige atitudes práticas. Os filósofos (pelo menos os antigos, que podem ser citados sem o risco de uma discussão) não davam tanta importância à forma dos seus discursos. Estavam mais interessados ao conteúdo. Mas um repórter que tem os segundos contados não pode permitir-se longas dissertações.
Um amigo me mostra um anúncio de emprego em um jornal, e pede para que avalie se ele corresponde ao perfil solicitado. Está lá, bem destacado: Capacidade de síntese. Ofereço-lhe um olhar condescendente e balanço a cabeça de forma negativa. Um anúncio idêntico deve ter sido usado para contratar aquele locutor da rádio RTL (Radio Tele Lombardia – 102.5). Ao ouvir a opinião de uma ouvinte sobre uma pesquisa, o locutor tentou resumir o que ela havia dito, conduzindo suas palavras para um ponto de vista ligeiramente diferente. A ouvinte protestou e, diante do agradecimento e despedida do radialista que se preparava para falar com outro ouvinte, não se conteve e disse um sonoro palavrão no ar.
Ainda na área da informação (que este é o segmento que mais necessita da economia das palavras), é irritante a mania que os jornalistas televisivos italianos têm de interromper os enviados (especiais ou não) no meio da transmissão. O repórter está no Iraque, nos Estados Unidos ou no estádio de futebol apresentando uma matéria, quando a frase é interrompida pela voz e imagem do(a) apresentador(a) no estúdio: “Obrigado Fulano de Tal. Passamos agora a outro assunto.” Ou, pior, quando o jornalista avisa que tem poucos segundos para encerrar a matéria, usa todo o tempo para formular uma pergunta marota, onde expõe o próprio ponto de vista e conclui com um convidativo “não acha?”. Enrolar era uma característica do programa jornalístico satírico Stricia la Notizia, que apresentava poucas matérias mas as explorava bem, fazendo-me recordar a incrível capacidade de encher lingüiça do Joelmir Beting (com dois t ou com um? Betting, Beting… Ah! Deixemos como está). Agora que o programa está se especializando em denúncias, perdeu o charme.
Não sou jornalista, posso ser prolixo. Não daqueles que interrompem a palavra-chave da frase para respirar e provocam expectativa, enquanto controlam com o olhar a pequena plateia para averiguar se todos no escritório prenderam a respiração, como desejado, até que ele complete, depois de um gole de café: “…uma maçã vermelha.” Há quem reclame do tamanho das minhas cartas, sugerindo que eu deveria aproveitar para desenvolver a capacidade de escrever com um número reduzido de palavras. Não respondo (e espero que ninguém esteja prendendo a respiração) e continuo escrevendo sem me estressar.
Vivemos num mundo imediatista. Tudo requer uma resposta urgente e definitiva. As decisões devem ser tomadas em segundos e não há possibilidade de errar. Cada decisão precisa estar certa, pois não há tempo para uma nova tentativa. A ação seguinte depende do sucesso da anterior. Estamos conectados a uma série de instrumentos que nos permitem conhecer e avaliar cada informação. Celular, internet, ipod, antena parabólica, enciclopédias digitais, televisão, computador, rádio, vídeo game, Google, jornal e crianças que já nascem sabendo tudo. Não existe a alternativa de não saber, de não entender a pergunta. Devemos ser ágeis em respostas que digam tudo com o mínimo.
Sinto-me um dinossauro, dividindo uma garrafa de vinho na cozinha, olhando nos olhos dela enquanto decidimos o que fazer nas férias. Ou sentado numa mesa da cervejaria Cristiana, esperando a hora em que poderei entrar no centro da cidade com a placa do carro de final ímpar. Ficamos ali, os colegas de trabalho, jogando conversa fora e lembrando do tempo em que não precisávamos de imposições para tomar uma com os amigos. Quando tínhamos tempo de não nos preocupar com o tempo e podíamos ser prolixos o quanto quiséssemos.
Um dia seremos filósofos, também?
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.