Por Adilson Oliveira
Em uma declaração reveladora da fragilidade do sistema que gerencia a dívida ativa da administração de Taboão da Serra e de que o governo continua sem ter o controle do setor apesar da identificação das irregularidades, o prefeito Evilásio Farias (PSB) disse não poder assegurar que impostos como o IPTU não estão sendo cancelados ainda hoje de forma fraudulenta. “Não posso garantir que sim nem que não. Com senha, se o servidor é desonesto pode promover as baixas”, afirmou.
“Em outubro, mudamos a senha de todo mundo, diminuímos o número de pessoas usuárias e ainda obrigamos todos a assinar um protocolo que está registrado no arquivo de cada um no departamento pessoal. Mas também em sistemas seguros hackers conseguem entrar”, alegou Evilásio. Apesar das medidas que teriam sido tomadas, o funcionário Márcio Carra teve acesso aos dados cinco meses depois e em 18 de março deste ano fez desaparecer de uma só vez quase R$ 65 mil de dívidas de impostos.
Evilásio sustentou que a fraude começou em 2004 e ao assumir a prefeitura, no ano seguinte, denunciou o esquema. “Identificamos que o diretor de cadastro e mais dois auxiliares estavam envolvidos e os entregamos à polícia. Isso não é ser omisso, não é prevaricar. Mas o esquema recrudesceu. Em março, descobrimos que estava havendo baixa na dívida sem entrar dinheiro no caixa da administração”, relatou. Livre-nomeado, Carra foi pego em flagrante que o prefeito diz ter planejado.
Evilásio fez as afirmações em entrevista coletiva nesta terça-feira, após a prisão de mais 14 pessoas acusadas no caso da fraude do IPTU, no dia anterior, 6 de junho, passado um mês das primeiras oito detenções, desde que a polícia foi acionada pelo prefeito depois do flagrante no setor da dívida. “Faria tudo de novo. Estão me criticando por descobrir a ponta de um iceberg e agora ter uma pirâmide como as do Egito. Que bom que o povo de Taboão da Serra saiba que isso existia na cidade”, disse.
O prefeito anunciou a exoneração dos secretários Maruzan Corado (Planejamento), Luiz Antonio de Lima (Administração) e Antônio Roberto Valadão (Finanças), presos na segunda operação, além dos demais funcionários detidos não concursados, e abertura de processo administrativo contra os efetivos. Questionado sobre a situação de auxiliares a quem era intimamente ligado, Evilásio disse, inicialmente, que a prisão dos secretários “já se anunciava”, como também de vereadores e outros servidores.
Questionado pelo Fato Expresso porque manteve os secretários nos cargos relacionados aos tributos municipais se já cogitava o desfecho, Evilásio disse que “não tinha nomes” de prováveis envolvidos no caso – que se revela como o maior escândalo da história da cidade. “Não ia me antecipar, meu ato poderia ser até um prejulgamento”, alegou. Depois, ele disse se sentir surpreso com a prisão, mas não enganado. “Me sentirei traído se forem julgados e condenados por conduta inidônea.”
Ele falou que não ia dizer que os secretários são ou não inocentes, mas demonstrou acreditar que não estão envolvidos, ao minimizar a circunstância da prisão. “Foi pedida pelo Ministério Público, e não pela polícia. No relatório da polícia, não consta secretário dando baixa na dívida. Eles não estariam colaborando, o que contesto, todos aqui trabalham para levantar informações que a polícia solicitar. A testemunha sigilosa falou isso após uma reunião com eles, mas ela não existiu”, declarou.
Evilásio disse, porém, que os secretários, enquanto forem suspeitos, ficarão afastados. Indagado pela reportagem se ainda poderão voltar aos cargos, disse que poderiam, mas se apressou em dizer que “eles não voltam, esse processo não deve terminar antes de eu deixar o cargo” (31/12/2012). “Nenhum gestor público teve a coragem de cortar na pele e abrir essa chaga e mostrar para a população”, afirmou. Ele disse não temer se passasse a ser investigado, sem mencionar que já estava sendo pelo Tribunal de Justiça. “Quero ter a satisfação de mostrar que sou inocente.”
Ele também relatou que vem sendo ameaçado por conta da revelação da fraude. Ele e a mulher já foram abordados duas vezes, em menos de um mês, por homens em motos. “Estávamos saindo de casa em meu carro blindado quando bateram no pneu, liguei o microfone e começaram a falar coisas em gíria: ‘Você vai ser envelopado, o que está acontecendo é culpa sua. Estou sendo constrangido, ameaçado. Enquanto prefeito, tenho a proteção da Guarda Municipal, mas quando deixar o cargo não terei mais”, declarou.